Por Adelson Vidal Alves
As multidões que ocuparam as
ruas do Brasil nas últimas semanas trouxeram com elas uma série de perguntas a
serem respondidas. A maioria delas permanecerá sem resposta ainda por um bom
tempo. Entretanto, é possível detectar algumas possibilidades e riscos que
envolvem a atual conjuntura das mobilizações que sacudiram nosso país.
Por um lado, há a definitiva
conclusão de que as organizações dos novos movimentos sociais dispensam
partidos políticos e lideranças, e se concentram de forma prioritária nas redes
sociais. As reivindicações são quase sempre de foro íntimo, e a ausência de um
programa de caráter universal é visível. Sobra energia, falta direção.
A recusa de um organismo
coletivo de organização mostra claramente a crise dos atuais instrumentos
tradicionais de mediação política. Tanto o parlamento, os governos e seus
partidos, são tratados como parte do sistema que está em crise, e são muitas
vezes rechaçados como oportunistas nos protestos que ora se realizam. O fator
preocupante é que o senso comum absorveu a crise dos partidos e instituições
democráticas como sendo uma crise terminal, irrecuperável, motivo pelo qual
devem ser estes, combatidos como verdadeiros inimigos. Foi lamentável ver a
violência de alguns manifestantes ao abaixar bandeiras partidárias à força,
expulsar a imprensa e agredir jornalistas como sendo todos responsáveis pelas
mazelas sociais contra as quais lutam.
Em momentos de euforia, como o
nosso, é necessário reafirmarmos alguns princípios estratégicos, que sejam
capazes minimamente de servir como antídoto a uma possível virada autoritária
em nossa vida política, que por paradoxo, nasceria dos gritos populares de quem
se indigna com a opressão.
De minha parte, tenho defendido
que o desafio se concentra na canalização de todo este espírito revoltoso para
o jogo democrático. Não há outro caminho para se transformar a sociedade senão
pelas instituições democráticas. O momento é propício para exigirmos
reformas de Estado, reformulação nas leis e ampliação de direitos. Se conseguirmos converter os gritos
indignados numa plataforma que exija o aprofundamento da democracia, poderíamos
aí estar abrindo portas para novas forças políticas democráticas.
Caso fracassemos, poderíamos
presenciar retrocessos importantes no jogo democrático, e o avanço no
fortalecimento de uma cultura autoritária.
O Brasil vem avançando no
fortalecimento de sua democracia, que permitiu, inclusive, a abertura de
espaços políticos de participação pelos quais muitos direitos foram garantidos e
ampliados. Tratar tais espaços como sendo responsáveis por nossos problemas
nacionais, fazendo deles inimigos a serem batidos é um erro terrível, que caso
se consolide, retirará conquistas importantes de nosso processo civilizatório.
O esforço, a meu ver, deve ser o de reafirmar a via democrática. Fora dela, tudo
é nebuloso e arriscado.
Adelson, entendo que a presença dos Partidos e dos meios de comunicação é importante, desde que eles não tenham qualquer tipo de comprometimento com os governos que estão sendo acusados de omissão e de erros nas suas políticas sociais. Como admitir a presença do PT, do PC do B, da UNE e tantos outros nos protestos se eles estão alinhados, automaticamente, com todas as decisões do governo federal e jamais levantaram a voz para divergir do governo? Primeiro eles têm que mudar o seu posicionamento, para depois tentarem participar de um movimento de protesto contra o governo central! Um abraço de Sérgio Boechat
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