Por Adelson Vidal Alves
Parece ter chegado ao Brasil, o
impulso revoltoso que rondou (e ainda ronda) a Europa, o mundo árabe e até
mesmo países da América Latina. Falo das manifestações contra o aumento das
passagens no transporte urbano, principalmente nas cidades de São Paulo e Rio
de Janeiro. Ainda que seja difícil determinar o espírito que despertou a
dinâmica de uma letargia longínqua que envolvia toda a sociedade brasileira,
podemos notar algumas características inovadoras em tais revoltas. As palavras
de uma dos membros do MPL (Movimento Passe Livre), segundo o qual os protestos
não aceitariam lideranças, mostra o caráter descentralizado do movimento. Assim
como na Grécia, Espanha, Turquia e Chile, foram as redes sociais as principais
mobilizadoras.
Os partidos políticos, outrora
vanguardas, estão ausentes ou subordinados ás manifestações, que se por um lado
mostra força, por outro peca pela falta de direção. A indignação que levou
tanta gente a rua mira os governos, o sistema, e as empresas de transporte. Podem
até conseguir vitórias parciais, mas se mostram incapazes de avançar para
projetos alternativos de sociedade.
A principal razão para as
limitações dos protestos, está exatamente na ausência de instrumentos
universalidores e que possam dar consciência ao movimento, de modo que este avance
para projetos mais abrangentes. Não consigo visualizar outra ferramenta
coletiva senão os partidos políticos, mas o que fazer quando a degeneração
atinge o coração da maioria destes, e tira deles qualquer confiança junto as
massas?
Pergunta difícil, mas que
devemos apressar a responder. As massas estão se lançando as ruas, e o formato
de suas lutas ainda não está definitivamente decifrado. O próprio excesso de
violência, empregado por parte dos manifestantes, é fruto da ausência de uma
organização diretiva, e serve como munição a direita e sua mídia, que tentam
frear a fúria social jogando a opinião pública contra o movimento.
Os 20 centavos que recolocaram
a juventude nas ruas, pode até ser reposto no preço das passagens, a fim de
acalmar a inesperada reação popular. Contudo, o sistema e suas atrocidade
permanecerão intactos, fazendo concessões para manter as estruturas. Qual
caminho a esquerda contemporânea deve seguir para fazer da crise capitalista um
elemento para a emergência de um mundo novo? Tal pergunta este artigo ainda não
consegue responder. Vamos debater?
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