quarta-feira, 27 de junho de 2012

Camaleão ou Raposa?

Por Adelson Vidal Alves



O Camaleão é um réptil conhecido por mudar a sua cor na adaptação a um ambiente ou a uma situação. Esta estratégia o ajuda a se proteger de potenciais predadores e passar despercebido por eles. 
A raposa é um animal mamífero, caracterizado por um focinho comprido e caudas longas e peludas. Em sua estratégia de caça, se utiliza de vários recursos considerados astutos, sendo muitas vezes exagerada a violência como ataca suas presas.
Na vida política, estes dois animais se tornaram objetos de metáforas. O primeiro se refere a pessoas que mudam de comportamentos a fim de obterem vantagens pessoais, adaptando-se a situações antes inimagináveis para si. O segundo simboliza o sujeito oportunista, que se utiliza de ações sagazes para lograr sucesso, pouco se importando com a conseqüência de tais atos, desde que consiga êxito em seus objetivos.
A cidade de Barra Mansa está permeada destes dois tipos de “animais políticos” (não confundir com o que diz Aristóteles sobre os homens). Alguns deles inclusive conseguem ser a junção de ambos.
O “comunista” Jonas Marins é o novo integrante desta metafórica biologia política barramansense. Resta nos saber em que espécie encaixá-lo.
Como camaleão, pesa o fato de ter borrado o vermelho revolucionário de seu partido (totalmente conivente com a lambança) com o arco-íris demo-tucano. Depois de ter por várias vezes falado em socialismo, governo popular, mudança e tantas outras coisas, Jonas abrigou com gosto a direita neoliberal em sua coligação majoritária. Como uma raposa, abandonou todos os parâmetros razoáveis de moral para se alinhar ao que há de mais reacionário e arcaico na política brasileira.
Meu falecido avô, que apesar de analfabeto poderia dar aula de biologia em qualquer Universidade brasileira, certa vez me alertou quanto à “inteligência” das raposas, que segundo ele, quase nunca perdem.
A inteligência que meu avô falava, não parece estar presente na coordenação política da campanha de Marins e nem nos seus dirigentes partidários. A ingenuidade de achar que inchando sua chapa de partidos lhe renderá mais votos pode ser o elemento crucial para sua derrota eleitoral.
O eleitorado espera por mudanças, e sabe os riscos que corre elegendo alguém que não respeita as próprias palavras. Que muda de lugar por puro oportunismo e se aventura conscientemente por ondas inconciliáveis da política em seu aspecto moral e ético.
Certa vez, usei deste blog para atacar Inês Pandeló por esta não ter aderido ao grupo de Marins. Não sei o que teria acontecido caso ela tivesse entrado na chapa, mas a se pensar a partir dos acontecimentos atuais, devo dizer que a petista esta à esquerda de Jonas e Zé Renato. Estes dois, representantes da mesma forma espúria de se fazer política. O povo de Barra Mansa deve castigar a ambos por tanta falta de respeito.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Jonas Marins pode aderir ao vale tudo eleitoral

Por Adelson Vidal Alves


Sou (ou era) um entusiasta da candidatura de Jonas Marins a prefeitura de Barra Mansa. As primeiras pesquisas indicam Marins como favorito ao executivo municipal, o que coloca, de forma inédita, a possibilidade de um candidato do campo popular romper com um longo processo de revezamento das oligarquias no poder barramansense. Não se trata apenas de uma vitória progressista no plano concreto, que abriria possibilidades de uma governança direcionada aos desfavorecidos sociais da cidade. Mas principalmente uma virada no imaginário popular, uma vitória no campo simbólico, que poderia em longo prazo fortalecer os setores progressistas em toda região fluminense.
Entretanto as declarações de Jonas Marins na edição do Jornal Foco Regional desta segunda feira, dia 25 de Junho, podem colocar o candidato comunista no rol daqueles que desconsideram programas e se atentam exclusivamente a miserável busca do poder pelo poder.
Segundo o semanário, Jonas estaria esperando a indicação de um tucano para seu vice, e mais, olhando com bons olhos a adesão do DEM em sua chapa.
Muitos poderão dizer que o advento de tucanos e democratas a candidatura comunista, seria de caráter subalterno, sem interferência substantiva em um futuro governo. A grande questão passa pelo campo simbólico e das ideologias. Jonas Marins estaria acenando para um vale tudo eleitoral, uma corrida de cavalos sem conteúdo programático. Aliás, desconfio que Jonas Marins sequer tenha um plano de governo, senão, onde entraria a contribuição de dois partidos conservadores, sendo um deles filho legítimo da ditadura militar.
O PC do B já há algum tempo abandonou o rigor programático, e Brasil a fora vem se alinhando aos setores mais retrógrados da sociedade em busca de votos e prestígio junto ao poder. Em Resende ficou ao lado do então democrata José Rechuan em 2008, colaborou com ruralistas na aprovação do novo código florestal, e poderá estar ao lado de Maluf na corrida eleitoral em São Paulo.
Jonas Marins nunca se definiu como comunista, pelo menos não com entusiasmo. Mas há quem ainda acreditasse em sua coerência como homem do povo, como alternativa de mudança, como personalidade do campo político popular. Pode ser que ele volte atrás, pode ser que a aliança não vingue. Mas as noticias que ora rondam os bastidores da política barramansense dão conta de que mudanças reais não estão no horizonte destas eleições. Ainda que mude a cara do poder, ele continuará seguindo a nefasta lógica do eleitoralismo.
Jonas Marins pode continuar sendo a esperança de renovação. Basta reorganizar seu plano de governo e consolidar uma coligação que de fato reflita uma transformação no jeito de governar o município de Barra Mansa. Se assim o fazer, pode entrar para a história como aquele que derrubou o Golias oligárquico de uma cidade, e que inaugurou um novo ciclo democrático na cidade. Ainda dá tempo.

sábado, 23 de junho de 2012

Golpes Constitucionais?

Por Adelson Vidal Alves


Fernando Lugo e Manuel Zelaya,  eleitos pelo voto popular, foram destituidos de seus cargos presidenciais por um processo que usa elementos institucionais da democracia, mas que no fundo são verdadeiros golpes de Estado
         
            A democracia em sua faceta institucional se caracteriza pelo contrato social estabelecido entre governo e o povo. Este contrato social é validado por um aparato jurídico, que tem como expressão maioral sua carta magna, a Constituição. Quando este contrato é interrompido por algum grupo social que ascende ao poder violando as regras do jogo, temos ai consolidado um golpe de Estado.
            A história testemunha uma série de interrupções violentas dos ordenamentos democráticos. Na América Latina, o calor da guerra fria causou golpes de Estado na maioria dos países, em grande parte patrocinados pelos Estados Unidos. A justificativa de uma iminente revolução comunista foi o pilar argumentativo para a atuação violenta de grupos civis e militares para cancelarem a ordem democrática e instalarem regimes ditatoriais.
             A partir da década de 1970, a conjuntura internacional, assim como o esgotamento das bases mínimas consensuais destas ditaduras, fez com que se iniciasse uma nova fase de reabertura democrática nos países da América Latina. Aos poucos nosso continente foi entrando nos rumos, aparentemente irreversíveis, da democracia como ponto indiscutível de ordenamento social.
            No entanto dois acontecimentos atuais nos obrigam a repensar a estabilidade democrática na região. Em 2009 em Honduras, Manuel Zelaya foi sequestrado e deposto de seu cargo presidencial. Na última sexta feira, 22 de Junho, o presidente paraguaio Fernando Lugo sofreu um impeachment relâmpago em menos de 48 horas, sendo removido de forma golpista de seu cargo.
            Ambos os casos foram fortemente criticados por organizações internacionais, assim como seus países vizinhos. A questão que nos leva a reflexão nestes dois casos visíveis de golpe, é a natureza que hoje se apresentam. Nos dois momentos citados foram usados elementos concretos da democracia como via golpista. Zelaya foi acusado de violar a Constituição ao propor uma consulta popular sobre a possibilidade de reeleição no país. O Congresso e a Justiça Hondurenha somaram forças para consolidar o golpe.
            No Paraguai, uma articulação teatral no Parlamento também destituiu do cargo seu presidente. Deputados e Senadores montaram um falso julgamento para tentar dar um ar de normalidade constitucional na deposição do presidente Fernando Lugo.
            O que as jovens democracias latino-americanas estão vendo acontecer recentemente, se trata de uma nova estratégia de nossas elites de impedirem ventos progressistas no continente. Rafael Correa no Equador, Cristina Kirchner na Argentina, Hugo Chavez na Venezuela, Evo Morales na Bolivia e até mesmo Lula no Brasil, em níveis diferentes também sofreram ameaças de desestabilização. O desfecho particular de cada um refletiu a correlação de forças estabelecidas em cada realidade, assim como sua estabilidade institucional. Alguns destes conseguiram não só se manter no poder, como fortalecer suas bases de governabilidade, como na Venezuela de Chaves. Outros recorreram a acordos com os grupos dominantes, estabelecendo-se no cargo, mas rejeitando qualquer política que ferisse as estruturas da sociedade, como Lula. Zelaya e Lugo não preparavam nenhuma revolução em seus países, sequer podemos dizer que haviam ali governos de esquerda. Mas o eterno preconceito das classes dominantes faz com que mesmo estes aderindo aos padrões da ordem, sejam eles desprezados pelas antigas classes dominantes.
            É hora de refletirmos novos caminhos para se consolidar a democracia institucional na região, o que dependerá da posição de cada um dos países membros do continente. A omissão seria o maior dos erros, e sem dúvida um incentivo para que o recurso do golpe seja cada vez mais levado em consideração por parte da direita tradicional, já que esta passa tempo de vacas magras nas urnas latino-americanas.


sexta-feira, 22 de junho de 2012

O Paraguai sob ameaça de Golpe

Por Adelson Vidal Alves

           

             Fernando Armindo Lugo de Méndez foi eleito em 2008 presidente do Paraguai, depois de mais de três décadas de hegemonia do Partido Colorado, de direita. Conhecido como o bispo dos pobres por seu trabalho junto às camadas desfavorecidas, Lugo voltou a condição de leigo para exercer ao mandato, principalmente por pressão da Igreja, que vê com maus olhos o clero que se mete em política, e também pelas exigências constitucionais.  
            Sua vitória eleitoral se deu por conta de um alto desgaste do Partido Colorado, e por um apelo nacional por novos rumos no país. Lugo, entretanto, apresentou a nação um programa moderado, que incluía em sua base política o Partido Liberal, de centro. A maior dificuldade do governo Lugo foi a incapacidade de conseguir uma maioria parlamentar e até mesmo social. Se nos parlamentos prevalecia um domínio conservador, na sociedade civil imperava a desconfiança dos movimentos sociais, que não apoiavam as articulações que o governo fazia e criticava a lentidão das reformas, principalmente a agrária.
            Sem grande apoio dos movimentos populares, Fernando Lugo teve que administrar negociando com sua base moderada no congresso. A fragilidade do apoio social expôs o presidente a uma série de chantagens e ameaças de golpe, que chegou inclusive a envolver sua vida pessoal.
            Na última sexta-feira, 15 de Junho, um confronto entre policiais e camponeses que deixou mais de 10 mortos, trouxe ao país uma crise que pode custar o mandato presidencial. O Partido Liberal abandonou seu apoio ao governo, e os parlamentares em ampla maioria já arquitetam um plano de impeachment do presidente num prazo máximo de 72 horas.
            A visível conspiração direitista acordou os movimentos populares, que vêem com temor a possibilidade de uma desestabilização institucional da democracia no país, que vinha dando demonstração de fortalecimento nos últimos anos, assim como sua economia.
            A Situação atual é a seguinte: Fernando Lugo tem a seu favor o apoio da opinião pública, dos movimentos populares e de parte significativa dos países do continente, inclusive do Brasil. Pesa contra ele a minoria no congresso e a indecisão das forças armadas.
            O desfecho de um possível impedimento presidencial pode ter conseqüências trágicas, inclusive com confrontos violentos e um clima de desestabilização da já frágil democracia paraguaia.
            As próximas horas revelarão não só o futuro de um povo, mas principalmente os rumos democráticos de um continente já marcado por intervenções golpistas de nossas elites.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Esquerda e o dilema das alianças


Por Adelson Vidal Alves

 Os petistas Lula e Haddad ao lado de Paulo Maluf. Eles seguirão juntos nas eleições municipais de São Paulo
 
            Duas noticias, uma falsa e outra verdadeira, trouxeram de volta nesta semana o debate sobre a política de alianças por parte da esquerda. A primeira, anunciada pela grande mídia, dava conta de um acordo político que envolvia o PSOL e partidos de direita como PSDB e DEM na cidade de Resende, interior do Rio de Janeiro. A segunda, tragicamente verdadeira, dava conta de uma aliança entre Paulo Maluf e o petista Fernando Haddad na disputa pela prefeitura de São Paulo.
            A primeira noticia foi rapidamente desmentida pela direção estadual do PSOL, mas ainda sim deu tempo para muita gente questionar o moralismo do partido na política de alianças. De fato, se a noticia se confirmasse, o Partido Socialismo e Liberdade estaria em um tempo recorde, jogando fora toda a credibilidade que conseguiu junto a setores da sociedade desiludidos com os rumos do PT.
            Não se trata de sectarismo, mas de um critério mínimo que preserve um programa político alinhado as demandas populares que a esquerda sempre abraçou.          
            Partidos como o PSTU, defendem uma aliança estreita entre os partidos revolucionários (PCB, PSTU e PSOL), considerando todas outras legendas como burguesas ou chapas-branca. Desconsideram-se assim as particularidades regionais, assim como a conjuntura nacional oscilante.
            De minha parte, tenho defendido que dentro de um contexto complexo e uma sofisticada pluralidade dos sujeitos sociais do mundo moderno, a esquerda precisa ampliar arcos de alianças que superem a dos aliados tradicionais. É preciso estabelecer o inimigo a ser batido, os objetivos a serem alcançados, sem, contudo, descaracterizar o programa original.
            A aliança Maluf/Haddad em São Paulo é justificada por muitos como sendo necessária para derrotar o PSDB de José Serra. Não faz sentido.
            O objetivo de vencer os tucanos deveria ter como pano de fundo a recuperação de uma política popular que viesse a trabalhar as demandas sociais do povo paulistano. Aliando-se a Maluf, o PT acena para uma política de vale tudo, sem nenhum elemento que convença o eleitorado de algo novo nas propostas de governo. Sem falar que consolida uma já anunciada ação partidária com vista exclusiva a chegada ao poder, sem uso de nenhum critério programático.
            A entrada de Maluf na campanha petista já afastou uma importante aliada do campo democrático-popular. A ex-prefeita Luiza Erundina desistiu de ser vice de Haddad. A vaga deve ser dada ao PC do B, sempre atento às sobras e desprovido de qualquer senso ético.
            O dilema das alianças deve ser enfrentado pela esquerda com flexibilidade, levando em conta a conjuntura atual, o que não significa, entretanto, o abandono de algumas regras básicas que garantam sua coerência programática.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Publicidade e eleições

Por Adelson Vidal Alves

Os marqueteiros têm mais poder sobre os candidatos que o partido. Não se trata mais de divulgar um projeto político, e sim um produto capaz de seduzir o mercado eleitoral. O perigo, adverte Umberto Eco, é o político se tornar um produto semiótico, teatralizado".

Frei Betto, teólogo e escritor


"A indústria de relações públicas, que apregoa abertamente vender os candidatos da mesma maneira que vende mercadorias, deu seu prêmio anual na categoria Melhor Marketing à venda da Marca Obama (...) Esse modelo é, muito claramente, não-democrático, mas um tipo de ditadura por escolha, uma construção política na qual o público - “observadores intrusos e ignorantes” - são espectadores da ação, não participantes".

Noam Chomsky, linguista norte americano


            O publicitário é aquele profissional especializado em difundir para o público, ideias, serviços e produtos, principalmente para fins mercadológicos. O publicitário, em sua forma moderna, é invenção do capitalismo, tendo a tarefa de fazer do supérfluo, necessário.  Em português claro, a função publicitária consiste, por exemplo, em convencer que você precisa comprar uma bolsa, ainda que não necessite desta imediatamente. Fazer publicidade depende intensamente da existência do mercado, de modo que se um dia o capitalismo e o seu mercado forem substituído por outro ordenamento social, os profissionais do marketing terão que repensar seu papel.
           Mas enquanto há capitalismo, o mercado se estende cada vez mais na esfera de nossa vida social. Se ele se resumia a vender coisas, hoje ele também vende pessoas, transforma seres humanos em matéria com valor de compra. Prova cabal disso, é a forma cada vez mais excessiva que candidatos a cargos políticos recorrem ao marketing como pilar central de sua campanha eleitoral.
           Decididos cegamente a se apresentarem “consumíveis”, os postulantes a postos eletivos se dispõem a passar por intensas metamorfoses, que no fim fazem de si um objeto desconhecido e estranho a eles próprios. Estes que recorrem à publicidade como carro chefe de sua política, estão confessando abertamente que não tem capacidade de convencer ao povo dos projetos que querem para a sociedade. Acabam se transformando em contradições em pessoa, já que, como o mercado oscila, também ele sofrerá mutações cotidianas no tempo e espaço, de acordo com o interesse de sua clientela.
           A presença exagerada do marketing eleitoral, comprada a preço de ouro por candidaturas milionárias, são responsáveis pela despolitização das campanhas eleitorais e da hegemonia demagógica de propostas e programas produzidos como se fossem em laboratórios.
           Peguemos a campanha de Lula em 2002. Ao contrário de 1989, quando seu programa de governo passou pelas bases sociais de sua coligação política, desta vez Lula centrou fogo na sua mutação moderada que o fizesse ser bem vendido a todos os brasileiros. Propostas rebaixadas, debates controlados e um batalhão de maquiadores ideológicos, fizeram um referencial popular de governo se transformar num ornitorrinco político. Sem cara, identidade, ou marca pessoal, ainda que com a faixa presidencial garantida. O Lula histórico desapareceu quando a direção política de sua campanha presidencial foi para as mãos de Duda Mendonça, um dos maiores marqueteiros eleitorais do país.
           Assim, o candidato disposto a fazer um debate profundo com o povo sobre seus reais problemas deve abandonar a publicidade em sua caminhada eleitoral? Não.
            É recomendável que os profissionais de publicidade sejam chamados a facilitar e traduzir da melhor maneira possível uma plataforma de possibilidades propostas por certo candidato. Em política não basta ter as melhores intenções, é preciso fazer com que elas se tornem as mais publicas possíveis, chegando ao ouvido da sociedade não só como boas, mas também como viáveis.
            O segredo para o equilíbrio é a subordinação do marketing à política. O candidato não pode se submeter a mudanças drásticas em sua personalidade ideológica em nome da “boa aparência”. Deve se oferecer como é, e disputar a cabeça do povo através do aperfeiçoamento e justeza de suas ideias originais. Ao contrário do que muitos pensam, o eleitor não é esse consumidor passivo que pregam por aí.
            Aquele que apostar na publicidade única e exclusivamente para ganhar uma eleição, terão seus mandatos resumidos ao PROCOM eleitoral, ou seja, ao total descrédito popular.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Informalidade e os ataques ao mundo do trabalho

Por Adelson Vidal Alves





Segundo dados do IBGE, existem no Brasil mais de 15 milhões de trabalhadores informais. O trabalho informal se caracteriza pela ausência de qualquer mecanismo de proteção social ou contrato formalizado nas relações trabalhistas.
O trabalho informal não é uniforme. Há pessoas em condição informal que dão continuidade a pequenos negócios de corte familiar. Apesar de se utilizar do trabalho assalariado na reprodução de sua renda, o risco que corre no mercado devido seu tamanho faz com que a maioria dos especialistas os caracterize como trabalhadores informais, e não como capitalistas na sua forma clássica.
Há também os prestadores de serviços, chamados de autônomos, tais como os pedreiros, pintores, bombeiros hidráulicos e empregadas domésticas. As últimas, apesar da estabilidade do vínculo sólido na relação patrão x empregado, carecem de direitos trabalhistas constitucionais.
Por fim, aqueles que recorrem a economia informal por falta de opções no mercado formal. São camelôs, pipoqueiros e ambulantes em geral. Estes são vítimas das mutações do mundo do trabalho nos últimos vinte anos.
A chamada revolução tecnológica e seu advento na esfera produtiva, eliminaram inteiros postos de trabalho e obrigou uma parcela inteira das classes trabalhadoras a recorrerem a trabalhos precários sem nenhuma garantia trabalhista legal.
O trabalhador informal não sofre somente com a instabilidade de sua vida produtiva. Em geral, há uma imensa dificuldade de organização destes setores, haja vista, que os sindicatos tradicionais representam apenas os trabalhadores formais.
A ausência de regulação nas relações de trabalho é um dos principais fatores da concentração de renda no país. Sem a presença de um Estado forte, e com a sorte dos trabalhadores lançadas as leis cegas do mercado, as condições de vida dos que vivem de seu trabalho depende do jogo de forças estabelecidas na sociedade capitalista. As classes proprietárias tem carta branca para intensificar sua exploração.
Com a falência do Estado de bem estar social, a maioria dos governos em todo mundo tem recorrido ao encolhimento dos aparatos legais de proteção do trabalho, desmontando direitos trabalhistas e reprimindo as manifestações dos setores contrários a implementação do mercado como auto-regulador da vida social.
No Brasil, a década de 1990 significou o auge do neoliberalismo, e durante a era FHC várias portarias foram criadas com o intuito de aliviar a tributação no grande capital e sobrecarregar os trabalhadores.
A ascensão de um representante das classes trabalhadoras a presidência da República, fez surgir a esperança da retomada de um processo de reconstrução da legislação social de amparo trabalhista. A decepção veio na forma de uma reforma da previdência privatista, e com a omissão frente a vários dispositivos prejudiciais ao mundo do trabalho, como o fator previdenciário.
O governo Lula, e até agora o governo Dilma, estão sendo cúmplices do desmonte dos diretos sociais daqueles que vivem do trabalho, isto quando não são protagonistas diretos na ofensiva contra as classes trabalhadoras.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Petistas bestializados

Por Adelson Vidal Alves


            
           O bestializado é aquele ser abobado, desprovido de racionalidade em sua vivência e cômico por suas posturas. Na maioria das vezes, seu posicionamento soa como patético, e só ganha espaço pelo tom humorístico que expressa suas opiniões no qual o mesmo acredita serem sérias.
            O PT (Partido dos Trabalhadores) é um partido político. Nascido na década de 1980 agrupou a militância efervescente da emergente sociedade civil. Em seu seio filiaram-se a nata da intelectualidade do país, e através do interesse pelo debate teórico, foi sem dúvida o partido que mais contribuiu para uma cultura de discussão política entre as grandes massas. Por estas duas definições, um bestializado normalmente não seria petista.
            Entretanto, os dias atuais expõem este paradoxo. Nos jornais, redes sociais ou na mídia geral, declarações de líderes e militantes do Partido dos Trabalhadores comprovam a metamorfose histórica de um Partido político, outrora respeitado pelo nível de debate interno e externo, e hoje uma caricatura de suas próprias trapalhadas.
            No lugar de qualificadas análises de conjunturas, um punhado de besteirol. Nos congressos, convenções e encontros, um espetáculo ridículo de gente sem ideia, racionalidade ou interesse por uma discussão mais aprofundada. A disputa interna ideológica de outros tempos, hoje dá lugar a uma guerra fraticida por espaços de poder, que termina quase sempre na demonização do adversário.
            O que um petista diz hoje não se escreve. A mudança de lado e opinião se movimenta junto aos objetivos imediatos de cada grupo. Se um prefeito era ditador em dado momento, em outro ele pode ser aliado principal. Desde, é claro, que os bestializados do partido sejam acomodados de alguma maneira nas mordomias do poder.
            Os petistas bestializados, mal sabem o significado do socialismo, não conhecem o estatuto de seu partido, não sabem nada da bela história daquele que já foi o principal partido de esquerda na América Latina.
            Os petistas bestializados estão sempre pendurados a um medalhão da legenda, são gananciosos nos objetivos pessoais e medíocres quando a conversa foge o nível da matemática eleitoreira. 
            Os petistas bestializados recebem benção da maioria de suas direções. São incentivados em sua preguiça mental e glorificados por sua fome de cargos. Os petistas bestializados não estão nos postos de direção partidária, nem para isso servem, tampouco estão nas bases organizando a luta popular. Estão nas beiradas do partido, debaixo das mesas que protagonizam o banquete farto das decisões de poder, à espera de migalhas.
            Felizmente a bestialização de alguns petistas não tem o poder de contaminação integral. Há ainda uma militância histórica, indignada com os rumos que o partido vem tomando. Atuam com fervor em defesa do retorno partidário aos tempos de sua fundação. Apesar do vigor de suas ações, a visão predominante dentro de seu partido, é que não passam de sonhadores radicais. Tal visão, é claro, é predominante entre os petistas bestializados.
           


               

terça-feira, 5 de junho de 2012

Democratas de direita e de esquerda

           
Por Adelson Vidal Alves


Antigos apoiadores da ditadura militar no Brasil se reunem hoje em um partido chamado Democratas (DEM). Apesar do nome, são os mesmos representantes das oligarquias econômicas e inimigos das conquistas populares.

            A democracia não é uma coisa pronta. O conjunto de valores fundados na liberdade, na igualdade de direitos, na participação ampla e plural da sociedade na esfera de poder, são características de um regime democrático, que, no entanto são consolidados e diminuídos a partir da dinâmica da luta dos vários grupos organizados.
            Os primeiros governos liberais da história se diziam democráticos por substituírem os regimes absolutistas. A burguesia e as classes subalternas foram aliadas na derrubada do autoritarismo do antigo regime, mas assim que consolidadas as democracias de corte liberal, as classes populares foram alijadas das decisões, e a democracia reduzida a mecanismos meramente representativos, o que garantiu na prática uma tutela burguesa sobre o proletariado, diminuídos a sujeitos passivos dos rumos de sua própria vida social e política.
            Nos dias atuais, até mesmo os defensores de ditaduras do passado, hoje enchem o peito e se assumem como democratas. Falam de liberdade de expressão, de separação dos poderes, da igualdade jurídica entre os cidadãos, de representatividade parlamentar, mas param por ai. Não admitem reformas sociais que façam da simples igualdade jurídica uma igualdade de fato. Não querem reforma agrária, tributária e política. Temem maior participação do povo nas decisões nacionais, e acham que a desigualdade social é aceitável na medida em que os seres humanos são diferentes. Riqueza e pobreza seriam assim, conseqüência do esforço e competência de cada um.
            Estes são os democratas de direita. Ainda que não defendam abertamente o fechamento do Estado democrático de direito, resumem a democracia à representatividade de caráter burguês, onde a liberdade só é verdadeira quando aplicada na economia, e o Estado apenas um garantidor do direito a propriedade privada e a segurança da ordem do capital.
            Entretanto, erra feio os revolucionários que acham democracia uma farsa, e que precisa ser descartada quando o poder popular for verdadeiramente conquistado. Esta é opinião de alguns marxistas. Estes estão dispostos a quebrar o contrato social em nome do socialismo. Ainda acreditam na possibilidade anacrônica de se derrubar o Estado e refundar o poder a partir de uma ruptura abrupta da ordem vigente.
            A democracia, para outros tantos marxistas, não só é um valor a ser preservado nos dias atuais, mas condição indispensável no qual se deve assentar um regime socialista. São os democratas de esquerda.
            Para estes, a democracia em sua forma plena choca-se fortemente com o sistema capitalista, de modo que este precisa ser substituído. Contudo, a estratégia para tal objetivo deve estar em total acordo com as regras do jogo democrático. As lutas populares abriram e ainda abrem espaços de atuação cada vez mais amplos para que se possa atuar na batalha por mudanças. Eleições por sufrágio universal, mídia livre, sindicatos fortes, parlamentos e tantos outros organismos da democracia moderna, são os ambientes adequados para se travar a construção de uma outra sociedade.
            Os democratas de esquerda se diferem dos de direita porque querem fazer da democracia um ponto de sustentação para a derrota do capitalismo, enquanto que os de direita tentam a usá-la como escudo contra possíveis mudanças estruturais.
            Os democratas de esquerda também não aceitam alterações onde se viole o ordenamento democrático moderno. As liberdades conquistadas até hoje pelas lutas das classes subalternas devem ser mantidas, e em certo ponto ampliadas, mas jamais descartadas. Neste erro o socialismo real já caiu, e com ele toda uma utopia revolucionária.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Pluralidade ou Separatismo Cultural?

Por Adelson Vidaal Alves

             
            Meu amigo Pablo Duca é um dos maiores entendedores e ativistas de cultura que conheço. Em conversa com ele na manhã desta sexta-feira, 1 de Junho, abordamos em comum uma temática que junto nos preocupa: O Separatismo Cultural. Eu vos explico.
            A cultura, numa conceituação simples, pode ser definida como as coisas que o homem faz, elevando o plano concreto para uma linguagem simbólica. Neste aspecto, cultura pode ser entendida como comer com talher, um homem abrir a porta do carro para a mulher, assim como a música, a arte, a religião etc.
            A diversidade humana em suas dimensões geográficas, econômicas e sociais cria inevitavelmente grupos diferenciados, identificados com um perfil cultural determinado. Sendo assim, não é possível imaginarmos uma nação inteira usando do mesmo sotaque, dançando da mesma forma ou fazendo as mesmas coisas. Os seres humanos são diferentes, e a cultura é delimitada por tais diferenças.
            Contudo, tal pluralidade vem ganhando significativos contornos corporativistas, o que preocupa. A cultura não deve ser vista isoladamente da vida social hegemônica dos seres humanos. O debate cultural de idéias vai consolidar ou desarticular uma determinada forma de vida. Ainda que as diferenças se manifestem, certa visão de mundo sempre prevalecerá, e garantirá o vigor de um dado sistema econômico. Por isso, é ilusão imaginarmos uma sociedade fatiada radicalmente em vivências culturais, o que prejudicaria extremamente um pensamento totalizado da vida.
            Bem, o tal “Separatismo Cultural” defendido por meu amigo Pablo, é tão somente a criação destes guetos culturais. Gente que olha para seu redor cultural e só se permite viver dentro dele, e pior, na maioria das vezes se colocando em posição superior.
            O respeito às diversidades não precisa criar “gangs culturais”, que duelem inconscientemente no dia-dia por supremacia. É preciso ampliar o horizonte, rompendo as barreiras de seu círculo e pensar no todo social, sem pelo qual cairemos num corporativismo vazio.
            A cultura é ponto de sustentação de valores universais, que estão de acordo com a natureza comum do ser humano. Tais valores serão absorvidos na medida em que se tornam idéias hegemônicas, vindo assim a serem despejadas no conjunto completo da sociedade, firmando um sistema universal de reprodução da vida.
            O Separatismo Cultural dispensa a totalidade, e de forma ilusória inventa pequenos mundos recortados por formas culturais comuns. Esta separação, além de ser mera invenção de nós mesmos, é chave para impedir a construção de um outro ordenamento social, onde o todo seja respeitado, levando assim ao bem comum.