sexta-feira, 15 de junho de 2012

Publicidade e eleições

Por Adelson Vidal Alves

Os marqueteiros têm mais poder sobre os candidatos que o partido. Não se trata mais de divulgar um projeto político, e sim um produto capaz de seduzir o mercado eleitoral. O perigo, adverte Umberto Eco, é o político se tornar um produto semiótico, teatralizado".

Frei Betto, teólogo e escritor


"A indústria de relações públicas, que apregoa abertamente vender os candidatos da mesma maneira que vende mercadorias, deu seu prêmio anual na categoria Melhor Marketing à venda da Marca Obama (...) Esse modelo é, muito claramente, não-democrático, mas um tipo de ditadura por escolha, uma construção política na qual o público - “observadores intrusos e ignorantes” - são espectadores da ação, não participantes".

Noam Chomsky, linguista norte americano


            O publicitário é aquele profissional especializado em difundir para o público, ideias, serviços e produtos, principalmente para fins mercadológicos. O publicitário, em sua forma moderna, é invenção do capitalismo, tendo a tarefa de fazer do supérfluo, necessário.  Em português claro, a função publicitária consiste, por exemplo, em convencer que você precisa comprar uma bolsa, ainda que não necessite desta imediatamente. Fazer publicidade depende intensamente da existência do mercado, de modo que se um dia o capitalismo e o seu mercado forem substituído por outro ordenamento social, os profissionais do marketing terão que repensar seu papel.
           Mas enquanto há capitalismo, o mercado se estende cada vez mais na esfera de nossa vida social. Se ele se resumia a vender coisas, hoje ele também vende pessoas, transforma seres humanos em matéria com valor de compra. Prova cabal disso, é a forma cada vez mais excessiva que candidatos a cargos políticos recorrem ao marketing como pilar central de sua campanha eleitoral.
           Decididos cegamente a se apresentarem “consumíveis”, os postulantes a postos eletivos se dispõem a passar por intensas metamorfoses, que no fim fazem de si um objeto desconhecido e estranho a eles próprios. Estes que recorrem à publicidade como carro chefe de sua política, estão confessando abertamente que não tem capacidade de convencer ao povo dos projetos que querem para a sociedade. Acabam se transformando em contradições em pessoa, já que, como o mercado oscila, também ele sofrerá mutações cotidianas no tempo e espaço, de acordo com o interesse de sua clientela.
           A presença exagerada do marketing eleitoral, comprada a preço de ouro por candidaturas milionárias, são responsáveis pela despolitização das campanhas eleitorais e da hegemonia demagógica de propostas e programas produzidos como se fossem em laboratórios.
           Peguemos a campanha de Lula em 2002. Ao contrário de 1989, quando seu programa de governo passou pelas bases sociais de sua coligação política, desta vez Lula centrou fogo na sua mutação moderada que o fizesse ser bem vendido a todos os brasileiros. Propostas rebaixadas, debates controlados e um batalhão de maquiadores ideológicos, fizeram um referencial popular de governo se transformar num ornitorrinco político. Sem cara, identidade, ou marca pessoal, ainda que com a faixa presidencial garantida. O Lula histórico desapareceu quando a direção política de sua campanha presidencial foi para as mãos de Duda Mendonça, um dos maiores marqueteiros eleitorais do país.
           Assim, o candidato disposto a fazer um debate profundo com o povo sobre seus reais problemas deve abandonar a publicidade em sua caminhada eleitoral? Não.
            É recomendável que os profissionais de publicidade sejam chamados a facilitar e traduzir da melhor maneira possível uma plataforma de possibilidades propostas por certo candidato. Em política não basta ter as melhores intenções, é preciso fazer com que elas se tornem as mais publicas possíveis, chegando ao ouvido da sociedade não só como boas, mas também como viáveis.
            O segredo para o equilíbrio é a subordinação do marketing à política. O candidato não pode se submeter a mudanças drásticas em sua personalidade ideológica em nome da “boa aparência”. Deve se oferecer como é, e disputar a cabeça do povo através do aperfeiçoamento e justeza de suas ideias originais. Ao contrário do que muitos pensam, o eleitor não é esse consumidor passivo que pregam por aí.
            Aquele que apostar na publicidade única e exclusivamente para ganhar uma eleição, terão seus mandatos resumidos ao PROCOM eleitoral, ou seja, ao total descrédito popular.

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