quarta-feira, 18 de maio de 2011

Precisamos de Deus?

Por Adelson Vidal Alves

Há indícios de que nossos ancestrais Neandertal já mantinham certa ligação com o sobrenatural através de rituais fúnebres, o que sugere uma crença na vida após a morte já em tempos remotos. A presença de Deus e da religiosidade na vida humana ainda cria muitos debates, não podemos dizer com certeza como o Homem começou a crer numa entidade sobrenatural e nem quando ele passou a ganhar personalidade e atributos. O Filósofo David Hume chegou a questionar se foi Deus quem nos fez a sua semelhança, ou se vice versa.
O fato é que Deus atravessou os primórdios civilizatórios, ora com força suficiente para pautar toda uma vida social como na Idade Média , ora mais enfraquecido a partir de questionamentos filosóficos e científicos, como no Renascimento e na revolução tecnologica. É fato, porém que ele nunca desapareceu das mentalidades e permanece vivo mesmo diante de tantas teses que sustentam não haver mais a necessidade de atribuirmos ao mundo algum tipo de criador.
No período Renascentista Deus perdeu para o homem o centro das atenções humanas, com Darwin a seleção natural explicou como a vida se desenvolveu aleatoriamente durante milhões e milhões de anos e o astrofísico Stephen Hawking publicou recentemente uma obra no qual argumentava que o Universo poderia ter se auto criado, sem a necessidade de uma entidade metafísica, chegando a comparar a idéia de vida após a morte a um conto de fadas.
Tanta evolução cientifica deve ter praticamente eliminado Deus do centro de nossas vidas, certo? Errado. Recentes pesquisas demonstraram que apesar do crescimento do ateísmo ser visível, o grande criador permanece forte como regulador da vida social e parece que não irá embora tão cedo.
A ciência pode descobrir como o mundo funciona, mas nunca poderá dizer quem as faz funcionar e nem negar que alguém a faça funcionar. O alvo do conhecimento cientifico não é descobrir quem fez o mundo, tampouco dar sentido a ele, para isso existem a Teologia e a Filosofia. Veja que Hawking disse que não há necessidade de um criador para o Universo, o que não significa que ele não exista. Esta resposta vai depender da escolha de cada um de nós.
Nos tempos atuais podemos dispensar Deus das explicações sobre o funcionamento das leis naturais. Ficou provado que os relatos da criação, elaborados pelas religiões, não passam de mitos que mais explicam o caráter de cada povo que as escreve do que sobre o processo de criação em si. Se Deus fez mesmo o Universo, ele o fez pelos parâmetros evolutivos e das leis naturais descobertas pela ciência. A modernidade nos ensinou que dentro do laboratório Deus não tem espaço.
Contudo, a frieza cientifica não é capaz de sustentar um homem carente de sentidos existenciais, numa imensa solidão e sem respostas para questões relacionadas ao seu futuro, sem falar no duro cotidiano do mundo capitalista. Aí sim entra Deus. Seja Jeová, Buda ou Alá, ele aparece como o ser inominável, soberano de suas decisões e consolador de nossas aflições. A este Deus somos todos dependentes. Mesmo que por algum motivo o negamos a existência real, depositamos toda a nossa fé em qualquer outra coisa que concentre toda a nossa sede de vida. Seja o Deus de Einstein, Freud ou Jesus, ele sempre aparecerá, simplesmente porque em nossos genes há um rombo enorme de existência, que só cabe algo do tamanho que convenhamos chamar de Deus.

2 comentários:

  1. Amigo Adelson,

    Muito boa essa reflexão, cara. Realmente temos uma questão e tanto aí.
    Mas e se déssemos uma guinada radical nesse pensamento? É o que eu tenho tentado fazer ultimamente e os meus estudos de filosofia têm me ajudado bastante. E se pensássemos que Deus não é esse deus feito a imagem e semelhança do homem, sacou? Não uma "pessoa" cheia de vontades e sentimentos, mas algo muito mais transcendente?
    Um amigo meu, que aliás é pastor da Igreja Batista, diz que "é possível viver sem a consciência de Deus, mas fora de Deus, não." E acho que a idéia é bem por aí: Deus está em tudo, é o princípio fundamental de todas as coisas. Quando o homem se afastou desse princípio, que poderíamos chamar também de "natureza" houve a ruptura. A religião (que vem de religar) procura reverter esse processo, pena que muitas vezes por abordagens equivocadas. Jesus disse: "Vós sois deuses" (João, 10:34), "Vós podeis fazer o que eu faço e muito mais" (João, 14:12). E aí? Tá aberta a questão?
    Isso dá pelo menos mais uns dois mil anos de debate...
    Abraço. Parabéns pelo blog.

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  2. Pois é amigo Ganso, o Leonardo Boff fala de algo parecido. Ele critica o Panteismo (Deus é tudo) mas elabora um novo conceito, o de pananteismo, que seria o Deus que perpassa todas as coisas. É nesse Deus que creio.

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