quarta-feira, 20 de abril de 2011

O Crucificado

Por Adelson Vidal Alves

            



             Os ovos de chocolate da indústria capitalista acabaram por ofuscar a principal data do cristianismo, a Páscoa. O domingo pascoal relembra o principal mistério do cristianismo, a ressurreição de Jesus Cristo, sem pelo qual a nossa fé seria vã (I Cor 15;  13-14)
            O Cristo que renasce dos mortos pertence exclusivamente ao campo da teologia. Não cabe a ciência, como pretendem alguns, concluir ou não a veracidade histórica de tal fato. Na subjetividade da fé de cada um, podemos ou não acreditar que o Messias Filho de Deus reergueu dos mortos para a vida eterna com o pai.
            O mistério da ressurreição não é uma simples expressão da soberania e poder de Deus, que ao ressuscitar Jesus mostra a força da Vitória da vida sobre a morte, mas também um testemunho histórico de que aqueles que assumem a causa dos pobres nunca serão abandonados por Deus, mesmo que isto lhe custe a vida.
            Jesus viveu e pregou na palestina um mundo mais justo, para isto tomou lado dos despossuidos de seu tempo, criticou fortemente os donos do poder religioso e econômico, que submetia o povo a uma vida dura de opressão. Jesus não temeu a ira dos poderosos, que assim como nos dias de hoje, ao se verem afrontados apelam para chantagens mesquinhas e perseguições brutais. O judeu pobre do Séc I que desafiou o poder opressivo  da Palestina  teve sua vida ceifada num processo que uniu burocracia religiosa e política.
            Humilhado, torturado e cruelmente assassinato, a crucificação de Jesus simboliza o martírio de tantos nos dias de hoje que lutam cotidianamente contra os novos donos do poder. O crucificado está um pouquinho na vida e martírio de Dom Oscar Romero, Frei Tito, Doroty Stang e tantos outros, estes por sua vez cotidianamente ressuscitados na luta viva dos pobres organizados do MST, nos movimentos de lutas por moradias, na organização de mulheres e nos sindicados combativos.
            A dor da crucificação também percorre a vida daqueles que atualmente tem seus direitos básicos negados e perdem a vida prematuramente por falta de atendimento adequado do poder público. O Cristo ressuscitado está presente na consciência de todos que não temem a perseguição dos poderosos e que se fazem um no corpo do crucificado diariamente lutando por ressurreição, ou seja, o dia em que todos sejam dignamente respeitados em sua cidadania.

Nenhum comentário:

Postar um comentário