quarta-feira, 27 de abril de 2011

Carta a Renato Soares

            Publico na íntegra a carta que enviei ao presidente do Sindicato dos Metalúrgicos Renato Soares.

Senhor Renato Soares,

           
            Somos filhos da mesma comunidade, o bairro Vila Americana. Apesar de não chegarmos a ser grandes amigos, aprendi a te respeitar. O senhor era a voz mais ativa e denunciadora contra os desmandos dos dirigentes do Sindicatos dos Metalúrgicos durante a década de 1990, naquele momento na mão de sindicalistas inescrupulosos e com uma prática sindical de conciliação e imoral, onde o trabalhador era esquecido e suas lideranças desfrutavam de privilégios que os trabalhadores comuns não tinham.
            Lembro-me bem de suas duas demissões, das ameaças que recebeu dos donos do poder e das tentativas de cooptação que foi tentado e honrosamente resistiu. Quando venceu a sua primeira eleição teve que recorrer a justiça para não ser ceifado pelos avarentos sindicalistas, que vergonhosamente patrocinados pela CSN foram obrigados a engolir a vitória de um sindicalista combativo, ligado as mais belas tradições do sindicalismo classista e moralmente habilitado para assumir a tarefa de restabelecer o crédito da entidade frente aos trabalhadores.
            De forma modesta participei do processo que desalojou do poder os pelegos da Força Sindical e depois a CUT. O senhor bem lembra que por várias vezes madruguei ao seu lado, tomamos café juntos e conversamos sobre a difícil situação da oposição em nossa cidade. O senhor foi corajoso e ético, se recusou a qualquer acordo espúrio, e enfrentou todos aqueles que lhe tentavam uma cooptação para o bloco do poder. Estavas com a razão quando foi pra cima das duas chapas pelegas e venceu gloriosamente, encerrando assim um ciclo desastroso do sindicalismo de negócio.
            Hoje, dia 27 de Abril, leio a confirmação que deixas o PC do B, e me parece naturalmente que irá também filiar-se a Força Sindical. Já há alguns anos tenho escrito e dito que dificilmente as benesses do poder lhe devolveriam a mesma garra dos tempos classistas de oposição. Quando um trabalhador chega ao seu sindicato encontra uma enorme roleta, e mais a frente uma tropa de assessores que os impede direto acesso. Quantos amigos o senhor se recusou a receber para logo depois se sentar com políticos, empresários, gente graúda do poder. Aliás, foi exatamente o poder que o fez lançar em uma aventura de apoiar Garotinho , Serfiotis e um outro candidato a deputado Estadual, nenhum deles com tradição em lutas trabalhistas. O resultado, como já era previsível, mostrou-lhe que os trabalhadores não são assim tão manipuláveis, e o senhor saiu derrotado em todas, e pior, quer agora ser prefeito.
            Caro Renato, a tua ida para a Força Sindical sacramenta um fim deprimente para alguém que poderia ter tido uma história tão linda. Malgrado ter abandonado o sindicalismo combativo, o senhor agora engorda ainda mais o núcleo dos pelegos, que fazem sindicalismo de negócios, se lambuzam nos recursos estatais do FAT e da nefasta contribuição sindical.
            O senhor já era uma decepção quando expulsou os movimentos sociais do seu circulo, ignorou antigos aliados e caiu nos braços do status quo, que na sua cabeça lhes dava patente para pisotear em quem nos momentos de aflitos te estendia a mão.
            A carta que ora vos escrevo é escrita com muita tristeza. Não que pra mim fosse surpresa, o senhor bem sabe que por várias vezes te fiz críticas diretas nas poucas reuniões que freqüentavas no PC do B, bem sabes também que foi o senhor o arquiteto de uma manobra para me constranger junto aos meus pares. Logo você Renato que tantas vezes vibrou por democracia, foi não só capaz de tentar calar vários de seus críticos, mas principalmente de calar a voz de seus legítimos opositores na eleição sindical. Pois é Renato, foi através de um golpe que o senhor foi reeleito em 2010.
            Tudo isto só comprova que nem mesmo você está seguro do seu trabalho. Por isto tanta manobra autoritária, tanta ingratidão com o partido que te fez chegar ao poder e tanta aproximação com os setores mais fisiológicos da política nacional.
            Eu, que ao contrário de você sempre me declarei comunista, me confesso estar aliviado. Os teus caminhos parecem coerentes com a figura que agora se tornou, e estará ao lado de quem, como você, abandonou os parâmetros de esquerda para servirem ao sistema capitalista. Hoje, infelizmente Renato, o Senhor se tornou um serviçal subalterno do poder. Deplorável.



Volta Redonda, 27 de Abril de 2011,

Adelson Vidal Alves


Nenhum comentário:

Postar um comentário