A palavra comunismo foi e ainda é para muitos motivo de medo. Devem de fato teme-lo os donos dos meios de produção, banqueiros expeculadores, empresários avarentos, latifundiários, fazendeiros do agronegócio, afinal de contas todos eles odeiam a democracia, e o comunismo é a radicalização total do processo de socialização, não só da propriedade, mas também da política.
Os trabalhadores, ao contrário, devem enxergá-lo como emancipação não só da classe operária, mas de toda a humanidade. Comunismo significa o fim da alienação, da exploração do homem pelo homem, das desigualdades e da divisão social entre governantes e governados. Mas afinal qual o caminho a ser trilhado até esta sociedade? Quais os protagonistas desta luta? Quem são os seus inimigos?
Em sua forma clássica pensada por Marx, o Comunismo seria a etapa final de um processo que sucederia o momento em que os operários ganhassem o poder estatal e aplicassem a “ditadura do proletariado”, ou seja, logo após um período socialista segundo o qual os trabalhadores a frente da nova ordem social gradativamente iriam eliminando os antagonismos sociais a ponto de abolir o Estado e a propriedade privada. Marx escreveu sua obra na Europa do século XIX, e como qualquer outro escritor era homem de seu tempo, e o próprio tinha em mente de que no futuro as formas de organização do comunismo deveriam ser repensadas. É fato que o comunismo não foi experimentado em nenhum país do mundo, na verdade, nem mesmo se chegou ao socialismo. As experiências do Leste da Europa desprezaram a democracia política através da burocratização partidária do PCUS e seus satélites e desconsiderou os elementos consensuais como forma de estabilização do novo regime. O resultado foi a derrocada do mal chamado socialismo real e a construção de um mundo onipolar brutalmente hegemonizado pelo capitalismo.
Não significa, contudo, que o comunismo desapareceu como ordem social alternativa. Ele reaparece através de uma nova etapa de luta política centrada numa construção cultural que dê as bases de sustentação de um mundo sem antagonismos sociais, o que Gramsci chamou de “reforma intelectual e moral” da sociedade. Esta reforma passa por uma batalha hegemônica dentro da sociedade civil, na formação de um espírito solidário, fraterno e coletivo, contrapondo o individualismo e o egoísmo do modo de produção capitalista. É dentro das escolas, das igrejas, da mídia, dos partidos políticos, dos órgãos difusores de ideologia e de livre associação, que caracteriza a moderna sociedade civil é que vai se travar esta batalha. Os “aparelhos privados de hegemonia” (Gramsci) precisam ser hegemonizados pelos valores universais das classes subalternas, por isso a urgência de se concretizar reformas que golpeiem a ordem do capital e reverta a correlação de forças a favor das classes não proprietárias.
Os inimigos continuam os mesmos, as classes subalternas se tornaram mais heterogêneas. São trabalhadores, mas também negros, mulheres, homossexuais, índios, desempregados, todos aqueles globalmente oprimidos pelo poder das corporações privadas da ordem capitalista.
Se o mundo mudou, os comunistas também mudaram. Não pela utopia de um mundo mais humanizado, mas principalmente por sua estratégia que continua ainda nos dias de hoje incomodando a todos que vivem sob a exploração do trabalho alheio.
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