Por Adelson Vidal Alves
O ex presidente tucano Fernando Henrique Cardoso publicou ontem um artigo onde discutia o papel da oposição. Malgrado sua desastrosa administração presidencial, subordinada ao grande capital e ao imperialismo, o já chamado príncipe dos sociólogos fez jus a seu respeito intelectual descrevendo um verdadeiro tratado de poder, a la maquiavel, autor que diga-se de passagem conhece muito bem.
FHC centra seus argumentos na necessidade da oposição de buscar uma nova tática de volta ao poder, para isto destrincha a o que ele chama de “camaleonismo petista” e sociologicamente define as bases de sustentação do Lulismo. Ao afirmar categoricamente que tanto sindicalistas, movimentos sociais e as camadas mais pobres foram todas cooptadas pelo bloco de poder, ora por benesses do Estado, ora por políticas compensatórias, o sociólogo tucano define bem que tais parcelas estarão por muito tempo automaticamente ligadas aos interesses governistas, sendo assim terreno infértil para a atuação de novas forças políticas.
Cardoso enxerga bem o aparecimento de novos sujeitos sociais, que surgiram a partir da própria dinâmica expansiva do capitalismo estatal. São eles as novas classes médias, trabalhadores urbanos incorporados ao consumo, universitários, intelectuais e a juventude em geral, esta última desconectada da política e conectada no facebook, orkut e msn. São estes a quem FHC atribui o direcionamento do discurso oposicionista.
Como Lula/Dilma governam sem projetos para o país, sustentada sob uma base heterogênea e fisiológica, equilibrando-se sob o carisma do ex-presidente e suas políticas assistencialistas é preciso organizar uma proposta centrada nas fragilidades governamentais, principalmente no que diz respeito ao clientelismo, aparelhamento e corrupção. Com um núcleo duro ambicioso, O PT se torna presa fácil da mosca azul e se enrola completamente nas tramóias do Estado que oferece banquetes fartos para quem descumpre princípios básicos de ética. FHC acerta quando diz que o PT virou isso tudo, metamorfoseando o que era um instrumento de luta dos subalternos para uma máquina poderosa de votos sedenta de poder.
No artigo o autor tem seus momentos de delírio, exaltando a competição, a economia de mercado, a maravilha das privatizações etc. São sintomas de um intelectual vaidoso e um político apagado pela impopularidade, carente de espaços públicos. Entretanto, não tem direito, principalmente a esquerda, de desconsiderar o brilhante sociólogo que decifrou o enigma da frágil ideologia Lulista, e muito menos responder com ódio aos brilhantes argumentos, que se esta esquerda ainda guardar nem que seja um pouquinho de antisectarismo saberá absorver e levar em conta.
O que percebo, infelizmente, é que os governistas, pragmáticos, irracionais e avarentos, devem do seu trono imaginar que seu império é eterno e que “neopopulismos” sobrevivem vitaliciamente. Acham que são gigantes, mas como bem disse FHC, gigantes com pés de barros.
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