terça-feira, 3 de junho de 2014

VR: Um apelo à harmonia dos poderes

Por Adelson Vidal Alves



Em Volta Redonda abre-se mais uma crise entre o Executivo e o Legislativo. Desta vez, a razão é bizarra, e expõe o baixo nível da política institucional da qual se alimenta a cidade. Alguns vereadores resolveram trancar a pauta da casa. Não aceitam votar nada enquanto o prefeito não exonerar o comandante da Guarda Municipal, Major Luiz Henrique, acusado pelos parlamentares de truculência.

Não precisa ser jurista para saber a ausência de amparo legal em tal atitude.  E também  é fácil constatar o quanto é anti-republicano  paralisar a atividade política de interesse público por conta de desacordos pouco esclarecidos entre Prefeitura e Câmara. Além do mais, cabe ao prefeito, para o bem ou para mal, nomear seus subordinados em secretarias e autarquias. Vereadores não devem e não podem impor a composição da equipe de governo. Não é esse seu dever.

O argumento aparentemente mais plausível vem de quem defende o cumprimento de uma lei, de autoria do vereador Adão, que exige que todo comandante da Guarda seja funcionário de carreira. Também não precisamos de diploma de Direito para perceber que tal Lei não combina com a Constituição brasileira, a mais corente e democrática de nossa História. Já pensou se todo Secretário de saúde fosse obrigado a ser médico? Todo Secretario de Cultura um artista, ou todo Secretário de Educação um professor?

Mas nada é tão bizarro que não possa piorar. Para coroar o espetáculo risível que aprontou uma parte de nossos vereadores, um deles, Maurício Batista, resolveu solicitar o impeachment do prefeito. Já não é novidade que a oposição parlamentar ao governo Neto há muito abdicou da política para concentrar-se em mecanismos judiciais como forma de destituir o poder constituído do município. O que estranha-nos, ainda mais, é a patética insistência em se buscar unicamente este caminho, deixando de lado opções políticas que façam jus a um debate de alto nível sobre as grandes questões de nossa cidade.

Não nos cabe aqui evoluir para uma discussão quanto a qualidade do governo Neto, ou mesmo pontos mais detalhados do mandato de cada parlamentar. Desde que equilibrado e constitucional, a relação oposição/governo sustenta, para o bem do pluralismo, uma verdadeira dialética democrática, que garante a diversidade de ideias e as divergências saudáveis entre as várias forças políticas. Não interessa ao município, porém, que os dois poderes políticos vivam em atritos, negando um ao outro e afetando a estabilidade institucional da cidade.

Não é a primeira vez que isso acontece, o que, de certo modo, revela um espírito nada conciliador rondando o Palácio e a Câmara.

Para que nossa democracia funcione a favor da população, esperamos um trabalho conjunto, mesmo que divergente, entre os três fundamentos administrativos da vida republicana. Não se pode aceitar que o ódio, o desequilíbrio e a oposição vazia pautem a vida de nossa sociedade. E neste caso particular, parte do legislativo a iniciativa de ferir a harmonia dos poderes, obstruir a relação que se exige para uma governança moderna.

Fazemos um apelo para que tal harmonia se restabeleça já, guardando as diferenças que uma política democrática aceita, porém, agindo sem prejuízos para a ordem institucional e a vida do povo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário