terça-feira, 17 de junho de 2014

MST e democracia

Por Adelson Vidal Alves



A luta pela Reforma agrária é justa, disso ninguém dúvida. O que se questiona, porém, é a estratégia que grupos se utilizam para alcançar esta meta, sobretudo, o MST, que nos últimos anos praticamente assumiu o monopólio da representação dos sem-terra.

A fundação do movimento contou com a mãozinha da Igreja Católica, particularmente, seu setor mais à esquerda, que tem na teologia da libertação sua fonte de atuação. No decorrer dos anos foi fortalecendo suas bases, ganhou destaque nacional com ocupações de terra, elegendo o PT como seu braço político. Hoje, tornou-se uma organização fortemente centralizada e disciplinada, com uma ideologia que vai além da questão da terra, estendendo sua ambição à construção de outra ordem social: o socialismo.

O MST, em sua organização interna, não é democrático. A decisão sempre se dá por uma pequena cúpula, que conta com o consentimento de uma base doutrinada e acrítica, recrutada dentro de uma articulação que inclui partidos, igrejas e seus apoiadores na sociedade. Seu líder maior, João Pedro Stédile, advoga um marxismo ultra-vulgar, com simpatias por ditaduras de esquerda e de personalidade tristemente autoritária. O trabalho de manipulação do MST, feito em suas bases, vai de cursos nos assentamentos até Universidades doutrinadoras e fotos de Che Guevara nos livros e agendas.

A relação do movimento com a democracia é conturbada. Convencido de estarmos vivendo uma “democracia burguesa” e não a democracia como conquista de civilização, colocam as leis e o Estado de direito abaixo de seus projetos, que seriam justos, e assim, justificáveis até mesmo quando chegam a extremos por fora das leis.

O MST parece estar vivendo em um regime autoritário, tamanho é sua fúria contra o  as instituições e as propriedades privadas e públicas, frequentemente atingidas por invasões e depredações. Os líderes do movimento acreditam que só vencendo a atual ordem institucional poderão fazer valer a justiça social.

A relação desafinada entre MST e democracia faz com que comece, nos dias atuais, a perder legitimidade em suas lutas. Poderia, caso aceitasse integrar-se de corpo e alma à democracia política, introduzir na esfera pública um importante setor das classes subalternas, que mesmo com suas lutas, ainda carece de direitos sociais.

A Carta de 1988 fundou uma nova etapa na vida republicana, produzindo um aumento extraordinário nos direitos civis, políticos e sociais. Se a partir dela, e em total obediência a ela, o movimento optar em participar da vida democrática, tem tudo para fazer avançar, em sua militância, a consciência de atuação política cívica e moderna, que excluiria a violência e as ações ilegais. Para isso, precisará fazer mudanças drásticas em sua lógica interna, deixando de ser uma organização de caráter quase militar e abrindo-se ao jogo democrático-institucional. Não só seria a escolha mais inteligente, como também a única para manter algum tipo de legitimidade em suas reivindicações dentro do Estado de direito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário