A luta pela Reforma agrária é
justa, disso ninguém dúvida. O que se questiona, porém, é a estratégia que
grupos se utilizam para alcançar esta meta, sobretudo, o MST, que nos últimos
anos praticamente assumiu o monopólio da representação dos sem-terra.
A fundação do movimento contou
com a mãozinha da Igreja Católica, particularmente, seu setor mais à esquerda,
que tem na teologia da libertação sua fonte de atuação. No decorrer dos anos foi
fortalecendo suas bases, ganhou destaque nacional com ocupações de terra,
elegendo o PT como seu braço político. Hoje, tornou-se uma organização
fortemente centralizada e disciplinada, com uma ideologia que vai além da questão
da terra, estendendo sua ambição à construção de outra ordem social: o
socialismo.
O MST, em sua organização
interna, não é democrático. A decisão sempre se dá por uma pequena cúpula, que
conta com o consentimento de uma base doutrinada e acrítica, recrutada dentro
de uma articulação que inclui partidos, igrejas e seus apoiadores na sociedade.
Seu líder maior, João Pedro Stédile, advoga um marxismo ultra-vulgar, com
simpatias por ditaduras de esquerda e de personalidade tristemente autoritária.
O trabalho de manipulação do MST, feito em suas bases, vai de cursos nos
assentamentos até Universidades doutrinadoras e fotos de Che Guevara nos livros
e agendas.
A relação do movimento com a
democracia é conturbada. Convencido de estarmos vivendo uma “democracia
burguesa” e não a democracia como conquista de civilização, colocam as leis e o
Estado de direito abaixo de seus projetos, que seriam justos, e assim, justificáveis
até mesmo quando chegam a extremos por fora das leis.
O MST parece estar vivendo em
um regime autoritário, tamanho é sua fúria contra o as instituições e as propriedades privadas e
públicas, frequentemente atingidas por invasões e depredações. Os líderes do
movimento acreditam que só vencendo a atual ordem institucional poderão fazer
valer a justiça social.
A relação desafinada entre MST
e democracia faz com que comece, nos dias atuais, a perder legitimidade em suas
lutas. Poderia, caso aceitasse integrar-se de corpo e alma à democracia política, introduzir
na esfera pública um importante setor das classes subalternas, que mesmo com
suas lutas, ainda carece de direitos sociais.
A Carta de 1988 fundou uma nova
etapa na vida republicana, produzindo um aumento extraordinário nos direitos
civis, políticos e sociais. Se a partir dela, e em total obediência a ela, o
movimento optar em participar da vida democrática, tem tudo para fazer avançar,
em sua militância, a consciência de atuação política cívica e moderna, que
excluiria a violência e as ações ilegais. Para isso, precisará fazer mudanças
drásticas em sua lógica interna, deixando de ser uma organização de caráter
quase militar e abrindo-se ao jogo democrático-institucional. Não só seria a
escolha mais inteligente, como também a única para manter algum tipo de
legitimidade em suas reivindicações dentro do Estado de direito.
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