Vladimir Lênin, líder da Revolução russa de 1917, dizia que
o papel do partido político revolucionário é fazer com que a consciência da
classe operária evolua, de uma concepção meramente sindical para uma universal.
Antônio Gramsci, o teórico sardo das sociedades ocidentais, falava algo
semelhante: defendia que a função do partido seria elevar a concepção de mundo,
de um momento “egoístico-passional” para um “ético-universal”. Esta
movimentação recebeu o nome de “catarse”. O partido político, ainda segundo
Gramsci, cumpriria o papel do Príncipe de Maquiavel, com a diferença de que, no
mundo moderno, o Príncipe não seria um individuo, mas uma organização coletiva.
Isto é, o partido político, chamado de “moderno príncipe”.
Há os que, porém, criticam fortemente o partido político. O
irlandês John Holloway, autor de mudar o
mundo sem tomar o poder, diz que os partidos políticos nascem para disputar
o Estado, e como tal, reproduzem a lógica autoritária deste para dentro de sua
organização. Os Partidos estariam, assim, condenados ao autoritarismo. Não
podemos deixar de observar, ainda, que em grande parte do mundo, como
testemunham as ultimas manifestações, os partidos políticos vem perdendo confiança junto às massas.
Todavia, a importância do partido político no mundo atual
permanece grande. Fora dele as manifestações são sempre parciais. Um sindicato
quer melhoria salarial, o movimento sem-terra quer a democratização do uso da
terra, o movimento LGBT luta contra a homofobia. Todos eles, por mais
importantes que sejam, não conseguem sair das reivindicações corporativas.
Somente o partido é capaz de organizar estas demandas setoriais para uma
dimensão universal, trazendo a problemática para a esfera do Estado, do poder e
da necessária transformação da ordem social. Como vimos em Junho no Brasil, os
milhões de brasileiros que saíram as ruas, com indignação e crítica, não foram
capazes de, sem ajuda da direção consciente de um organismo social, obter conquistas
que vão além de pequenos ajustes no sistema.
O partido político segue tendo seu papel, porém, pelo menos aqueles
que se propõe fazer mudanças substanciais na sociedade, devem obedecer algumas
diretrizes. Não se pode mais pensar um partido revolucionário de caráter
militar, uma espécie de escola para recrutar homens e mulheres interessados em
tomar o Estado pela força. São anacrônicos os partidos que seguem a velha forma
leniniana do centralismo-democrático, pensado para um momento particular de
clandestinidade e reduzido campo de atuação política. Para os nossos dias deve
se pensar uma organização aberta e democrática. Sua atuação deve obediência a
Constituição e as regras estabelecidas pelo Estado de direito. Qualquer mudança
só deve ser tolerada em respeito absoluto aos limites da democracia política.
O partido moderno que pretenda ter voz na sociedade, também
deve abandonar perspectivas teleológicas, como se o futuro civilizado só tenha
espaço em um determinado modelo social utópico, como o socialismo, por exemplo.
Projetos finalísticos correspondem a utopias teológicas, e podem amarrar a
atuação partidária a um determinado objetivo, como se a busca do "paraíso" só se possa
dar em uma direção.
Construir este partido, moderno, plural, amplo e democrático
é tarefa difícil, principalmente por estarmos diante de uma crise no sistema
político mundial. Mas enquanto o desenvolvimento histórico não apresentar outro
instrumento que dê conta das tarefas do partido político, este permanece atual
na missão de construir o interesse universal contra os interesses particulares.