Vladimir Safatle é um
intelectual honesto, talentoso na escrita e nas articulações. Pertence, sem
dúvida, ao campo da esquerda, mas uma esquerda com dificuldades em responder
com vigor os desafios do mundo contemporâneo. O filósofo Safatle olha a atual institucionalidade
democrática com reservas, lhe põe adjetivos de classe e invoca “uma nova
democracia”, que dê preferências a participação direta, o que, inevitavelmente,
incentiva assembleísmos.
Recentemente, o professor da USP
se arriscou na vida política. Em 2012 coordenou o setor cultural da campanha do
petista Fernando Haddad e esperava ser nomeado Secretário de Cultura do
município de São Paulo. Quando o eleito Haddad chamou Juca Ferreira, sentiu-se
traído, e desiludido afastou-se do governo, filiando-se ao PSOL.
No novo partido, Safatle
acertou sua candidatura ao governo de São Paulo. Estava tudo certo, até que nos
últimos dias foi revelado um desastrado desentendimento que encerrou, antes de
começar, a aventura eleitoral do filósofo. Pelo que tudo indica, as
divergências se deram no caixa do partido, não na ideologia. O campo
majoritário do PSOL e o então pré-candidato não se entenderam quanto a
viabilidade financeira de sua candidatura. Por fim, o jornalista Gilberto Maringoni
assumiu a candidatura, e o pequeno partido expos em alto volume o seu racha
interno.
Vai demorar até que tenhamos
certeza quem de fato tem razão neste bizarro fim da candidatura Safatle. Se é
que alguém tem razão ou culpa. Fato, porém, é a fragilidade programática que o
PSOL apresenta à esquerda e ao país. O modelo partidário de tendências divide
burocratas, parlamentares, intelectuais e correntes ultra-esquerdistas. Em
alguns lugares aceita financiamentos da burguesia, e em outros se recusa a
compor com seus pares da extrema-esquerda por divergências mínimas. Às vezes é movimentista,
às vezes é eleitoreiro, às vezes fala com dureza contra o governo Dilma, às
vezes relativiza sua oposição, temendo a volta “da direita tucana ao poder”.
Tendo saído das entranhas do PT,
o PSOL guarda o sectarismo dos primeiros anos petistas, e se descuida quanto
aos erros históricos que marcaram o início da vida do atual partido dirigente
do poder central. Sem contar com a base social que tinha seu renegado pai, e
com imensas dificuldades de ingressar com vocação de governo em nossa moderna
democracia, o PSOL mantém-se nanico, falando a grupos sociais médios, da
cultura e do serviço público. Incapaz de vencer seus anacronismos ideológicos,
oscila entre um puritanismo ingênuo e o oportunismo de seu grupo majoritário.
No que diz respeito ao papel de
modernizarmos democraticamente a esquerda, o PSOL parece ter pouco a
contribuir. Se não se atualizar, seguirá como um núcleo para testemunhos
revolucionários. Nada mais que isso.
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