sexta-feira, 23 de maio de 2014

O que aconteceu com Safatle? O que esperar do PSOL?

Por Adelson Vidal Alves



Vladimir Safatle é um intelectual honesto, talentoso na escrita e nas articulações. Pertence, sem dúvida, ao campo da esquerda, mas uma esquerda com dificuldades em responder com vigor os desafios do mundo contemporâneo. O filósofo Safatle olha a atual institucionalidade democrática com reservas, lhe põe adjetivos de classe e invoca “uma nova democracia”, que dê preferências a participação direta, o que, inevitavelmente, incentiva assembleísmos.

Recentemente, o professor da USP se arriscou na vida política. Em 2012 coordenou o setor cultural da campanha do petista Fernando Haddad e esperava ser nomeado Secretário de Cultura do município de São Paulo. Quando o eleito Haddad chamou Juca Ferreira, sentiu-se traído, e desiludido afastou-se do governo, filiando-se ao PSOL.

No novo partido, Safatle acertou sua candidatura ao governo de São Paulo. Estava tudo certo, até que nos últimos dias foi revelado um desastrado desentendimento que encerrou, antes de começar, a aventura eleitoral do filósofo. Pelo que tudo indica, as divergências se deram no caixa do partido, não na ideologia. O campo majoritário do PSOL e o então pré-candidato não se entenderam quanto a viabilidade financeira de sua candidatura. Por fim, o jornalista Gilberto Maringoni assumiu a candidatura, e o pequeno partido expos em alto volume o seu racha interno.

Vai demorar até que tenhamos certeza quem de fato tem razão neste bizarro fim da candidatura Safatle. Se é que alguém tem razão ou culpa. Fato, porém, é a fragilidade programática que o PSOL apresenta à esquerda e ao país. O modelo partidário de tendências divide burocratas, parlamentares, intelectuais e correntes ultra-esquerdistas. Em alguns lugares aceita financiamentos da burguesia, e em outros se recusa a compor com seus pares da extrema-esquerda por divergências mínimas. Às vezes é movimentista, às vezes é eleitoreiro, às vezes fala com dureza contra o governo Dilma, às vezes relativiza sua oposição, temendo a volta “da direita tucana ao poder”.

Tendo saído das entranhas do PT, o PSOL guarda o sectarismo dos primeiros anos petistas, e se descuida quanto aos erros históricos que marcaram o início da vida do atual partido dirigente do poder central. Sem contar com a base social que tinha seu renegado pai, e com imensas dificuldades de ingressar com vocação de governo em nossa moderna democracia, o PSOL mantém-se nanico, falando a grupos sociais médios, da cultura e do serviço público. Incapaz de vencer seus anacronismos ideológicos, oscila entre um puritanismo ingênuo e o oportunismo de seu grupo majoritário.

No que diz respeito ao papel de modernizarmos democraticamente a esquerda, o PSOL parece ter pouco a contribuir. Se não se atualizar, seguirá como um núcleo para testemunhos revolucionários. Nada mais que isso.

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