quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Os marxistas e os "black blocs".



Por Adelson Vidal Alves

Falar em black blocs é falar de uma tática de protesto originária na Europa da década de 1980, e que desde então vem ganhando força em várias manifestações anti-globalização em todo mundo, chegando de forma contundente ao Brasil em Junho deste ano. Sua estratégia é o que chamam de “ação direta”, o que consiste em atacar propriedades privadas e símbolos do capitalismo como forma de denúncia e propaganda. Descentralizados que são, difícil identificar um projeto por trás de suas atuações, mas grande parte de sua linha de frente advoga o anarquismo.

Diante do crescimento desta forma de militância, várias visões apareceram na sociedade sobre o comportamento dos conhecidos “mascarados”. A direita logo condena, a grande mídia trabalha para distorcer os fatos e parte da esquerda teme perder sua influência nas manifestações de massa. Mas e quanto aos marxistas? Qual deve ser sua posição em relação aos “black blocs”?

De início, é visível a enorme diferença entre a tática black bloc e a proposta revolucionária do marxismo. Enquanto os primeiros, entendidos como anarquistas, pretendem derrotar o capitalismo dispensando organizações e projetos bem definidos, o marxismo, mesmo em suas tantas variações, trabalha a política como ferramenta de transformação social. Se no anarquismo o poder é “demonizado” os marxistas têm em seu horizonte a conquista do poder pelos trabalhadores, até enfim, o triunfo final da sociedade sem classes, o comunismo.

As divergências entre comunistas e anarquistas começa em 1864, na Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), e se acirra em 1868, com a entrada do anarquista Mikhail Bakunin na entidade. Este irá protagonizar agressivos debates com o comunista Karl Marx. O filósofo alemão chega a chamar a teoria anarquista de “pequeno burguesa", enquanto Engels a desqualifica, classificando de radical e tão simples “que pode ser aprendida em cinco minutos”. Já Bakunin revela, em carta enviada ao Jornal de Genebra, o quanto seus debates com Marx eram tensos, diz ele "Entre meus caluniadores mais agressivos e insistentes − juntamente com os agentes do governo russo – menciono naturalmente o senhor Marx, o chefe dos comunistas alemães, que, sem dúvida por causa de sua tripla condição de comunista, de alemão e de judeu, cismou comigo”.

As contradições de Marx e Bakunin, expulso da AIT em 1872, se estendem ainda hoje entre comunistas e anarquistas. Penso que em relação aos black blocs toda essas divergências devem ser levadas em conta. Os comunistas participam de eleições, se organizam em partidos, e miram a tomada do poder estatal como forma transitória de ruptura total com o capitalismo. No marxismo a violência ofensiva não é estratégia indispensável.

O abstencionismo, o desprezo por formas transitórias de poder e outros valores do anarquismo são incompatíveis com a teoria marxista. De modo que marxistas que comungam estratégias black blocs cometem um grande equívoco. Ainda que possam ser solidários e que estejam ao mesmo lado de uma determinada causa, deve-se deixar bem claro que a tática anarquista black bloc se contrapõe ao que pensam os marxistas. Apoiar tais ações não só é contradição, como um erro tático, que desvia as lutas subalternas de caminhos mais produtivos nas transformações sociais. Confunde e dá munição aos adversários de classe. Um marxista, assim, jamais pode ser um "black bloc".

6 comentários:

  1. Boa, Adelson. Bem esclarecedor seu texto para quem não tinha a mínima noção do que são os Black Blocks (esse é o nome certo). Para quem estiver a fim de se aprofundar mais, deixo o link para o livro do Nedd Ludd: Baderna - a urgência das ruas (http://www.scribd.com/doc/73403345/Urgencia-Das-Ruas-Coletivo-Baderna)

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  2. Muito bom, Adelson! Mas... tem algum "marxista" se dizendo solidário aos Black blocs?

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    1. O PSOL tem sido bem simpático: http://psol50.org.br/site/artigos-e-entrevistas/583/tatica-black-bloc-condenar-conviver-ou-se-aliar

      O PSTU é que tem se posicionado contra: http://www.pstu.org.br/node/19924

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    2. Ahh sim o PCO também tem dado apoio aos BB e até criticou o PSTU:
      http://www.pco.org.br/esquerda/pstu-contra-os-black-blocs-contra-vandalo-vote-16/aias,o.html

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  3. Os Black Blocs no Brasil (por ironia do destino também BBB) são muito diferentes dos BB originais:
    1) Em geral eles representam mais uma classe muito jovem e que se sente sem representatividade nenhuma até na esquerda mas não necessariamente está vinculada ao ideal anarquista (alguns nem o conhecem profundamente em suas diversas vertentes). Não são muito diferentes da "Onda Verde" que Marina e Gabeira encabeçaram ou a "Primavera Carioca" do Marcelo Freixo e outros do PSOL que atraiam a população não necessariamente pelo ideal do Partido ou daqueles políticos mas apenas por ela ver a possibilidade de ter alguém que ao menos tenta representar a população e não seus próprios interesses.

    2) A tática BB tem sido adotada muitas vezes de forma inconsciente mas indignada diante do descaso completo das autoridades que se recusam até em CONVERSAR com os manifestantes e a truculência policial inimaginável em uma sociedade democrática. Ou seja, muitos estão aderindo apenas como combate a violência policial e não por uma filosofia mais aprofundada sobre ser um BB. É um movimento mais pragmático que filosófico...

    3) Diante da repressão absurda e de atitudes até heroicas deles (entrarem na frente para apanhar no lugar dos professores no RJ) a simpatia da classe e de apoiadores foi bem natural e claro isso refletiu-se em alguns partidos de Esquerda. Mas vale lembrar que outros como o PSTU lançaram nota contrária aos BB.

    Enfim, acho que o fenômeno dos BBBs rs ainda vai precisar de muito estudo pois creio que seja algo muito inovador e que esteja ligado principalmente a traição de muitos setores da esquerda.

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  4. Eu concordo com a opinião do Moroni A. de Vasconcelos, principalmente, qdo aborda que, "É um movimento mais pragmático que filosófico..." (sic).

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