Por Adelson Vidal Alves
Falar em black blocs é falar de
uma tática de protesto originária na Europa da década de 1980, e que desde
então vem ganhando força em várias manifestações anti-globalização em todo
mundo, chegando de forma contundente ao Brasil em Junho deste ano. Sua
estratégia é o que chamam de “ação direta”, o que consiste em atacar
propriedades privadas e símbolos do capitalismo como forma de denúncia e
propaganda. Descentralizados que são, difícil identificar um projeto por trás
de suas atuações, mas grande parte de sua linha de frente advoga o anarquismo.
Diante do crescimento desta forma
de militância, várias visões apareceram na sociedade sobre o comportamento dos conhecidos “mascarados”.
A direita logo condena, a grande mídia trabalha para distorcer os fatos e parte
da esquerda teme perder sua influência nas manifestações de massa. Mas e quanto
aos marxistas? Qual deve ser sua posição em relação aos “black blocs”?
De início, é visível a enorme
diferença entre a tática black bloc e a proposta revolucionária do marxismo.
Enquanto os primeiros, entendidos como anarquistas, pretendem derrotar o
capitalismo dispensando organizações e projetos bem definidos, o marxismo,
mesmo em suas tantas variações, trabalha a política como ferramenta de transformação
social. Se no anarquismo o poder é “demonizado” os marxistas têm em seu horizonte
a conquista do poder pelos trabalhadores, até enfim, o triunfo final da
sociedade sem classes, o comunismo.
As divergências entre
comunistas e anarquistas começa em 1864, na Associação Internacional dos
Trabalhadores (AIT), e se acirra em 1868, com a entrada do anarquista Mikhail Bakunin
na entidade. Este irá protagonizar agressivos debates com o comunista Karl Marx. O filósofo
alemão chega a chamar a teoria anarquista de “pequeno burguesa", enquanto
Engels a desqualifica, classificando de radical e tão simples “que pode ser
aprendida em cinco minutos”. Já Bakunin revela, em carta enviada ao Jornal
de Genebra, o quanto seus debates com Marx eram tensos, diz ele "Entre meus caluniadores mais agressivos e
insistentes − juntamente com os agentes do governo russo – menciono
naturalmente o senhor Marx, o chefe dos comunistas alemães, que, sem dúvida por
causa de sua tripla condição de comunista, de alemão e de judeu, cismou comigo”.
As contradições de Marx e
Bakunin, expulso da AIT em 1872, se estendem ainda hoje entre comunistas e
anarquistas. Penso que em relação aos black blocs toda essas divergências devem
ser levadas em conta. Os comunistas participam de eleições, se organizam em
partidos, e miram a tomada do poder estatal como forma transitória de ruptura
total com o capitalismo. No marxismo a violência ofensiva não é estratégia
indispensável.
O abstencionismo, o desprezo
por formas transitórias de poder e outros valores do anarquismo são
incompatíveis com a teoria marxista. De modo que marxistas que comungam
estratégias black blocs cometem um grande equívoco. Ainda que possam ser solidários
e que estejam ao mesmo lado de uma determinada causa, deve-se deixar bem claro
que a tática anarquista black bloc se contrapõe ao que pensam os marxistas.
Apoiar tais ações não só é contradição, como um erro tático, que desvia as
lutas subalternas de caminhos mais produtivos nas transformações sociais. Confunde e dá munição aos adversários de classe. Um marxista, assim, jamais
pode ser um "black bloc".
Boa, Adelson. Bem esclarecedor seu texto para quem não tinha a mínima noção do que são os Black Blocks (esse é o nome certo). Para quem estiver a fim de se aprofundar mais, deixo o link para o livro do Nedd Ludd: Baderna - a urgência das ruas (http://www.scribd.com/doc/73403345/Urgencia-Das-Ruas-Coletivo-Baderna)
ResponderExcluirMuito bom, Adelson! Mas... tem algum "marxista" se dizendo solidário aos Black blocs?
ResponderExcluirO PSOL tem sido bem simpático: http://psol50.org.br/site/artigos-e-entrevistas/583/tatica-black-bloc-condenar-conviver-ou-se-aliar
ExcluirO PSTU é que tem se posicionado contra: http://www.pstu.org.br/node/19924
Ahh sim o PCO também tem dado apoio aos BB e até criticou o PSTU:
Excluirhttp://www.pco.org.br/esquerda/pstu-contra-os-black-blocs-contra-vandalo-vote-16/aias,o.html
Os Black Blocs no Brasil (por ironia do destino também BBB) são muito diferentes dos BB originais:
ResponderExcluir1) Em geral eles representam mais uma classe muito jovem e que se sente sem representatividade nenhuma até na esquerda mas não necessariamente está vinculada ao ideal anarquista (alguns nem o conhecem profundamente em suas diversas vertentes). Não são muito diferentes da "Onda Verde" que Marina e Gabeira encabeçaram ou a "Primavera Carioca" do Marcelo Freixo e outros do PSOL que atraiam a população não necessariamente pelo ideal do Partido ou daqueles políticos mas apenas por ela ver a possibilidade de ter alguém que ao menos tenta representar a população e não seus próprios interesses.
2) A tática BB tem sido adotada muitas vezes de forma inconsciente mas indignada diante do descaso completo das autoridades que se recusam até em CONVERSAR com os manifestantes e a truculência policial inimaginável em uma sociedade democrática. Ou seja, muitos estão aderindo apenas como combate a violência policial e não por uma filosofia mais aprofundada sobre ser um BB. É um movimento mais pragmático que filosófico...
3) Diante da repressão absurda e de atitudes até heroicas deles (entrarem na frente para apanhar no lugar dos professores no RJ) a simpatia da classe e de apoiadores foi bem natural e claro isso refletiu-se em alguns partidos de Esquerda. Mas vale lembrar que outros como o PSTU lançaram nota contrária aos BB.
Enfim, acho que o fenômeno dos BBBs rs ainda vai precisar de muito estudo pois creio que seja algo muito inovador e que esteja ligado principalmente a traição de muitos setores da esquerda.
Eu concordo com a opinião do Moroni A. de Vasconcelos, principalmente, qdo aborda que, "É um movimento mais pragmático que filosófico..." (sic).
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