quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Porque desmilitarizar a Polícia



Por Adelson Vidal Alves


A Polícia militarizada que hoje conhecemos vem dos tempos de nossa primeira República. Ela foi criada e se desenvolveu como braço armado das oligarquias, funcionando como aparato de guerra entre as fatias dominantes do Brasil no período.

Décadas depois ela se modernizou. Foi centralizada, vindo a submeter-se a autoridade civil: os governadores dos estados. Contudo, a cultura da instituição, dos treinamentos às ações de rua, ainda não conseguiu se adaptar aos tempos democráticos.

Sob fardas e coletes medonhos, a PM age em meio aos cidadãos sob regra de guerra, com abordagens intimidadoras e armas em punho. Não conseguem, em sua forma hegemônica, agir como uma instituição da política de segurança pública, mas sim como uma máquina de guerra pronta a esmagar o inimigo.

Ao subir favelas, a PM acumula o maior número de denúncias de violação dos direitos humanos. Para capturar o bandido, vale atropelar direitos civis, como a inviolabilidade do lar no período noturno. Vale constranger trabalhadores, aterrorizar cidadãos, e nos casos mais extremos, torturar.

Não foi a toa que o Conselho de Direitos humanos da ONU sugeriu que o Brasil acabasse com sua Polícia Militar. O custo de assassinatos sumários, truculência e corrupção são altos demais para conviver com uma democracia republicana.

Nos episódios recentes de repressão à luta dos professores, a PM mostrou não só o seu despreparo, mas também a disposição de alguns policiais de criminalizar manifestantes, inclusive forjando provas. Devemos estar convencidos que grevistas não são inimigos da ordem pública, e mesmo se fossem, deveriam ser julgados conforme as normas constitucionais. Nem o mais cruel dos bandidos pode ser julgado à margem das leis. O que diferencia a civilização da barbárie é exatamente a construção de mecanismos institucionais que regulam a vida em sociedade. Que retira da emotividade individual o direito de fazer sua própria justiça.

Caso a Polícia seja desmilitarizada, ganha não apenas a sociedade, mas principalmente os bons policiais. Teríamos uma Polícia em conformidade com seu papel republicano, isto é, o de proteger a sociedade, garantindo a ordem e a segurança social, subordinada, sempre, a nossa Carta maior, no qual se garante vida segura, respeito e proteção do Estado a todos os cidadãos.

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