Por Adelson Vidal Alves
Permaneço comunista. Ainda que
me distancie do socialismo real do leste europeu, da autoritária experiência
cubana, do estranho “socialismo de mercado” chinês e de todos os PCs
brasileiros, continuo acreditando numa nova ordem social, sem alienação
política e econômica, sem Estado, governantes e governados, assim como o
desaparecimento das classes sociais.
Mais próximo de Gramsci do que
de Lênin, tenho total descrença numa revolução que tome o poder de assalto, e
muito menos adjetivo nossa democracia por referências de classe. Pelo
contrário, estou convencido do valor universal da democracia, e acho que é com
ela e por ela que venceremos o capitalismo.
A foice e o martelo, símbolos
da aliança operária/camponesa, me soam como anacrônicos. Ao contrário das
previsões de Marx, o mundo não se proletarizou, e o operariado fabril perdeu
protagonismo nas lutas sociais modernas.
A conturbada, porém valorosa,
experiência do PCB me fascina e influencia, mas os dois partidos brasileiros de
hoje, que advogam o comunismo em sua sigla, me soam como estranhos a atual
conjuntura global. O PCdoB, que militei durante 7 anos, é hoje uma mistura de
oportunismo e atraso teórico, enquanto o PCB, firme e coerente em suas crenças
revolucionárias, por puro sectarismo, quase não interferem na vida nacional.
Tenho admiração histórica pelo
saudoso PCI (Partido Comunista Italiano), um exemplo de atuação revolucionária no campo democrático. O
chamado Eurocomunismo, que propôs um caminho socialista pela via democrática,
teve nele seu principal representante. Nosso continente também viu uma
interessante proposta de transição para o socialismo, através da Unidade
Popular chilena, de Salvador Allende. Infelizmente, a intervenção imperialista
interrompeu a via chilena com um golpe militar.
A crise capitalista atual
apresenta brechas para que possamos construir uma nova sociedade. Mas como já
nos alertava um teórico russo, não basta que as classes dominantes estejam sem
condições de permanecer dominantes, é preciso que os de baixo estejam preparados
para assumir sua função. A má notícia é que a esquerda não consegue assumir a
hegemonia, não tendo projetos alternativos e viáveis. O capitalismo se
recupera, e busca novas formas de dominação, com o risco de assistirmos
retrocessos autoritários.
Eu ainda me oriento pela teoria
marxista, guardando sempre o alerta de Lucaks, segundo qual o único elemento
ortodoxo da teoria de Marx é o método, sendo suas afirmações e argumentações
históricas sujeitas a revisão. Como dizia Carlos Nelson Coutinho “Nós marxistas
devemos ser animais em mutação, para não sermos animais em extinção”.
Enfim, reafirmo publicamente
meu comunismo. E mesmo que diante da difícil situação dos comunistas no mundo
moderno, me animo com o mote de um dos maiores comunistas do século XX,
segundo qual nosso pessimismo da razão deve se equilibrar com o otimismo da vontade.
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