quinta-feira, 18 de julho de 2013

O exemplo do MPL



Por Adelson Vidal Alves

O MPL (Movimento Passe Livre) nasceu em janeiro de 2005, em Porto Alegre, impulsionado por uma série de lutas que antecederam sua criação, do qual se destacam a Revolta do Buzu (Salvador, 2003) e as Revoltas da Catraca (Florianópolis, 2004 e 2005). O movimento assume como central a luta “por um transporte público de verdade, gratuito para o conjunto da população e fora da iniciativa privada”. Seu arco de influência atinge principalmente a juventude, sobretudo estudantes secundaristas e universitários.

Apesar de existir a pelo menos 8 anos, a entidade só se tornou conhecida nacionalmente em junho deste ano, ao assumir a chamada da maior parte das mobilizações que levaram milhões de pessoas as ruas de todo país. O MPL foi quem tomou os primeiros passos na luta pela revogação do aumento de R$ 0,20 das passagens na cidade de São Paulo, que de forma inesperada, incendiou uma verdadeira Primavera brasileira.

O MPL vem crescendo em todo país, e traz com ele algumas novidades que vão de encontro com o novo momento da luta social no país. Ao contrário da UNE, integrada ao governo Dilma, burocratizada e hierarquizada, o movimento vela pela horizontalização de suas decisões, o que impede criação de líderes e dificulta cooptações. Enquanto a UNE tem na sua presidência gente ligada a partidos políticos, e que na maioria das vezes usa da política partidária na entidade, o MPL é apartidário, ou seja, não se está ligado a nenhum partido político, ainda que aceite em seus quadros, militantes filiados a partidos. São apartidários e não anti-partidários.

O Movimento Passe Livre, além de carregar bandeiras justas e democráticas, tem a seu lado o formato de organização que se encaixa nos modelos mobilizatórios da contemporaneidade. Se as outras entidades estudantis ainda pecam pela burocratização, o MPL vem de encontro ao grito das ruas, trabalhando dentro de um paradigma descentralizado, sem medalhões e “capas pretas”. Sua democracia interna atrai a juventude dos tempos atuais, conectadas na internet, carregada de informação e afoita por participação direta, dispensando cúpula e lideranças.

É óbvio que há riscos. O maior erro do movimento seria menosprezar as condições objetivas e se achar suficiente na construção de atos e protestos. É bom que fique claro que o MPL se apoiou em condições favoráveis para crescer. Ajudou na organização da onda de protestos, mas não foi o causador destes. É muito mais resultado do que criador deste novo contexto de lutas. Deve aproveitar os ventos que sopram a seu favor, mas jamais ignorar que coragem e disposição sozinhas não levam às massas as ruas.

De toda forma o MPL surge como um exemplo. Seja por sua capacidade de mobilização, de intervenção na esfera pública, ou por sua organização interna democrática. Em tempos onde as organizações coletivas sucumbem a suas próprias vaidades e ambições, o MPL mostra seu exemplo.

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