Por Adelson Vidal Alves
O MPL (Movimento Passe Livre)
nasceu em janeiro de 2005, em Porto Alegre, impulsionado por uma série de lutas
que antecederam sua criação, do qual se destacam a Revolta do Buzu (Salvador,
2003) e as Revoltas da Catraca (Florianópolis, 2004 e 2005). O movimento assume
como central a luta “por um transporte
público de verdade, gratuito para o conjunto da população e fora da
iniciativa privada”. Seu arco de influência atinge principalmente a juventude,
sobretudo estudantes secundaristas e universitários.
Apesar de existir a pelo menos
8 anos, a entidade só se tornou conhecida nacionalmente em junho deste ano, ao
assumir a chamada da maior parte das mobilizações que levaram milhões de
pessoas as ruas de todo país. O MPL foi quem tomou os primeiros passos na luta
pela revogação do aumento de R$ 0,20 das passagens na cidade de São Paulo, que
de forma inesperada, incendiou uma verdadeira Primavera brasileira.
O MPL vem crescendo em todo
país, e traz com ele algumas novidades que vão de encontro com o novo momento
da luta social no país. Ao contrário da UNE, integrada ao governo Dilma, burocratizada
e hierarquizada, o movimento vela pela horizontalização de suas decisões, o que
impede criação de líderes e dificulta cooptações. Enquanto a UNE tem na sua
presidência gente ligada a partidos políticos, e que na maioria das vezes usa
da política partidária na entidade, o MPL é apartidário, ou seja, não se está
ligado a nenhum partido político, ainda que aceite em seus quadros, militantes
filiados a partidos. São apartidários e não anti-partidários.
O Movimento Passe Livre, além
de carregar bandeiras justas e democráticas, tem a seu lado o formato de
organização que se encaixa nos modelos mobilizatórios da contemporaneidade. Se
as outras entidades estudantis ainda pecam pela burocratização, o MPL vem de
encontro ao grito das ruas, trabalhando dentro de um paradigma descentralizado,
sem medalhões e “capas pretas”. Sua democracia interna atrai a juventude dos
tempos atuais, conectadas na internet, carregada de informação e afoita por
participação direta, dispensando cúpula e lideranças.
É óbvio que há riscos. O maior
erro do movimento seria menosprezar as condições objetivas e se achar
suficiente na construção de atos e protestos. É bom que fique claro que o MPL se
apoiou em condições favoráveis para crescer. Ajudou na organização da onda de
protestos, mas não foi o causador destes. É muito mais resultado do que criador
deste novo contexto de lutas. Deve aproveitar os ventos que sopram a seu favor,
mas jamais ignorar que coragem e disposição sozinhas não levam às massas as
ruas.
De toda forma o MPL surge como
um exemplo. Seja por sua capacidade de mobilização, de intervenção na esfera
pública, ou por sua organização interna democrática. Em tempos onde as
organizações coletivas sucumbem a suas próprias vaidades e ambições, o MPL
mostra seu exemplo.
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