Por Adelson Vidal Alves
Mês de Junho, Brasil – milhões de
brasileiros se lançam às ruas indignados com o sistema político, a corrupção e
a ineficiência governamental. Ainda que plural, o movimento majoritariamente
rejeitou os partidos, os sindicatos e os movimentos sociais em geral. Se
organizaram na internet, foram encorajados pela mídia, e definitivamente entraram
para a história brasileira.
Mês de Julho, Brasil- centrais
sindicais convocam protestos em todo o território nacional. Sua pauta se
concentra nas reivindicações do trabalho, e sua forma de organização se apóia na
mobilização das próprias entidades aderentes.
Pois bem. Enquanto Junho contou
com o apoio da sociedade em sua diversidade, o 11 de Julho se resumiu a
manifestantes históricos, sem conseguir atrair para além dos círculos
tradicionais da esquerda social, sindical e política.
O refluxo é visível, e entendê-lo
é condição indispensável para que se avance na organização da consciência
coletiva das classes subalternas.
A meu ver, a coragem dos
ativistas não conseguiu cobrir o desgaste das entidades de classe e organismos
representativos junto a sociedade. Partidos políticos, Sindicatos e centrais
sindicais vivem a crise de sua própria burocratização, hierarquização e
rigidez. Seus formatos estão em desacordo com o espírito das ruas e da própria
lógica da sociedade em rede. É preciso se horizontalizar, se democratizar e se
modernizar. Caso o contrário, serão soterrados pela nova dinâmica que hoje
serve de paradigma a intervenção popular no espaço público.
Infelizmente, grande parte das
lideranças da esquerda continua vivendo de jargões arcaicos. Não conseguem
admitir que seu poder de influência esgotou-se junto às bases, e que o povo já
não vai a seu encontro por pura desconfiança. Estão cegos em sua própria
arrogância, aprisionados em visões vanguardistas e estreitas, trancafiados no
saudosismo ingênuo de seu mundo.
Seria de bom senso que todos
nós, ainda crentes nas organizações coletivas, pararmos para refletir.
Comemorar vitórias, mas, sobretudo, sermos honestos com nós mesmos. Cortar na
carne e enfrentar a crise de frente. Otimismos ufanistas em nada vão
contribuir.
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