segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Manifesto por uma Nova Esquerda

Por Adelson Vidal Alves


A crise estrutural do capitalismo abriu brechas para o reaparecimento de ideologias moribundas de caráter extremista e de direita. Na Europa, avançam as forças neofascistas e tradicionalistas, que começam a interferir diretamente no processo eleitoral. Na França, país onde a esquerda sempre foi forte, assistiu-se a votação expressiva da Frente Nacional (extrema direita), que alcançou 18% dos votos, com direito a vir ocupar cargos ministeriais. Além do mais, o ideário conservador, que inclui xenofobia e extremismo religioso, começa ocupar o programa de partidos de direita, centro, e até mesmo de esquerda.
           
A ausência de alternativas de caráter popular tem levado as grandes massas pobres a se refugiarem em ideologias que elegem o estrangeiro e o secularismo como grandes culpados pelos problemas sociais do mundo. Já parte da esquerda, se esconde em uma ilusão de que as massas se levantarão a qualquer momento para derrubar o sistema.
           
As massas, é verdade, invadem as ruas, protestam, resistem e enfrentam os governos conservadores. Não detém, contudo, uma direção planejada. Não conseguem formular novas formas de poder, não conseguem sequer avançarem para uma pauta propositiva. Pesa o fato de que o povo vai às ruas rejeitando formas tradicionais de organização. Partidos políticos, sindicatos e até movimentos sociais são ignorados como ferramentas de organização popular.
           
A tarefa de se debater uma nova esquerda para os tempos atuais é urgente. Não se pode permanecer nos tempos bolcheviques. É preciso reorganizar um movimento que supere o dogmatismo histórico, que rompa com o vanguardismo, e que seja capaz de abrir diálogo com amplos setores da sociedade.
           
De nada adianta palavras de ordem do século XX, de nada adianta se encolher sectariamente dentro de organizações que só servem para testemunhar a pureza revolucionária. De nada adianta seguir insistindo no operariado como sujeito protagonista de mudanças. De nada adianta perguntar a Marx questões que não são do seu tempo, mas do nosso.
           
Uma esquerda que de fato jogue papel na luta pela hegemonia no século XXI deve começar incorporando em seu programa a democracia como valor inegociável. As estratégias revolucionárias que pretendam assaltar o poder estão em total desconexão com o mundo real, já que as lutas históricas das classes subalternas incluíram a democracia como elemento de combate a ordem do capital. Ao invés de farsa, ela deve ser vista como lugar de onde nasça um novo ordenamento social. Defender e lutar pela ampliação democrática são, assim, lutar diretamente contra o modo de produção capitalista.
           
Uma nova esquerda deve olhar as questões nacionais contextualizadas com o mundo cada vez mais globalizado. Não se pode pensar mudanças locais duradouras sem que venham acompanhadas com mudanças mundiais. Em outras palavras, é preciso pensar um novo internacionalismo.
           
Uma nova esquerda precisa ser flexível em suas alianças políticas. O mundo contemporâneo fez surgir um complexo e plural celeiro de novos atores sociais. Imaginar o proletariado de Marx como linha de frente deste novo bloco de forças anti-sistêmicas seria um erro grosseiro. Imigrantes, negros, mulheres, gays, famintos e miseráveis, demonstram cada dia que passa seu potencial de luta. É preciso entender o lugar de cada um deles na nova luta global, obviamente, sem perder a dimensão de unidade.
           
Pensar uma nova esquerda exige repensar atitudes, entender as movimentações dos grupos em luta, trazer a teoria para o campo de batalha, e principalmente, abandonar verdades e preconceitos. Creio serem estes os primeiros passos para a refundação de uma nova esquerda.
            

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