A crise estrutural do capitalismo
abriu brechas para o reaparecimento de ideologias moribundas de caráter
extremista e de direita. Na Europa, avançam as forças neofascistas e
tradicionalistas, que começam a interferir diretamente no processo eleitoral.
Na França, país onde a esquerda sempre foi forte, assistiu-se a votação
expressiva da Frente Nacional (extrema direita), que alcançou 18% dos votos,
com direito a vir ocupar cargos ministeriais. Além do mais, o ideário conservador,
que inclui xenofobia e extremismo religioso, começa ocupar o programa de
partidos de direita, centro, e até mesmo de esquerda.
A ausência de alternativas de
caráter popular tem levado as grandes massas pobres a se refugiarem em
ideologias que elegem o estrangeiro e o secularismo como grandes culpados pelos
problemas sociais do mundo. Já parte da esquerda, se esconde em uma ilusão de
que as massas se levantarão a qualquer momento para derrubar o sistema.
As massas, é verdade, invadem as
ruas, protestam, resistem e enfrentam os governos conservadores. Não detém,
contudo, uma direção planejada. Não conseguem formular novas formas de poder,
não conseguem sequer avançarem para uma pauta propositiva. Pesa o fato de que o
povo vai às ruas rejeitando formas tradicionais de organização. Partidos
políticos, sindicatos e até movimentos sociais são ignorados como ferramentas
de organização popular.
A tarefa de se debater uma nova
esquerda para os tempos atuais é urgente. Não se pode permanecer nos tempos
bolcheviques. É preciso reorganizar um movimento que supere o dogmatismo
histórico, que rompa com o vanguardismo, e que seja capaz de abrir diálogo com
amplos setores da sociedade.
De nada adianta palavras de ordem
do século XX, de nada adianta se encolher sectariamente dentro de organizações
que só servem para testemunhar a pureza revolucionária. De nada adianta seguir insistindo
no operariado como sujeito protagonista de mudanças. De nada adianta perguntar
a Marx questões que não são do seu tempo, mas do nosso.
Uma esquerda que de fato jogue
papel na luta pela hegemonia no século XXI deve começar incorporando em seu
programa a democracia como valor inegociável. As estratégias revolucionárias
que pretendam assaltar o poder estão em total desconexão com o mundo real, já
que as lutas históricas das classes subalternas incluíram a democracia como
elemento de combate a ordem do capital. Ao invés de farsa, ela deve ser
vista como lugar de onde nasça um novo ordenamento social. Defender e lutar pela
ampliação democrática são, assim, lutar diretamente contra o modo de produção
capitalista.
Uma nova esquerda deve olhar as
questões nacionais contextualizadas com o mundo cada vez mais globalizado. Não
se pode pensar mudanças locais duradouras sem que venham acompanhadas com
mudanças mundiais. Em outras palavras, é preciso pensar um novo
internacionalismo.
Uma nova esquerda precisa ser
flexível em suas alianças políticas. O mundo contemporâneo fez surgir um
complexo e plural celeiro de novos atores sociais. Imaginar o proletariado de
Marx como linha de frente deste novo bloco de forças anti-sistêmicas seria um
erro grosseiro. Imigrantes, negros, mulheres, gays, famintos e miseráveis,
demonstram cada dia que passa seu potencial de luta. É preciso entender o lugar
de cada um deles na nova luta global, obviamente, sem perder a dimensão de
unidade.
Pensar uma nova esquerda exige
repensar atitudes, entender as movimentações dos grupos em luta, trazer a
teoria para o campo de batalha, e principalmente, abandonar verdades e preconceitos.
Creio serem estes os primeiros passos para a refundação de uma nova esquerda.
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