quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Democracia no Brasil: 1930 aos dias de hoje

Por Adelson Vidal Alves
 

A chamada “Revolução de 1930” rompeu com o modelo oligárquico implantado na primeira República brasileira. Deslocou-se nosso eixo econômico agrário- exportador em direção a um desenvolvimentismo impulsionado pela industrialização. Novos atores sociais foram chamados à cena, e inaugurada uma nova fase de nosso capitalismo.
            
Sob a direção de Vargas, o Brasil se projetou dentro de uma política que conciliava ganhos para burguesia industrial e avanços nos direitos sociais aos trabalhadores. Nos 15 anos em que Vargas esteve no poder, leis como a que limitava o trabalho infantil e feminino, que concedia férias, regulava jornada de trabalho e introduzia o descanso remunerado, foram criadas em beneficio das classes trabalhadoras. Os Camponeses, contudo, ficaram fora do Pacto varguista.
           
Ainda que os avanços sociais fossem visíveis, a era Vargas ofereceu poucas vantagens a democracia política. Com o golpe do Estado Novo em 1937, o regime político brasileiro recuou nas liberdades civis e políticas. As oposições foram sufocadas, Políticos e sindicalistas cassados, organismos de repressão fortalecidos. Tudo em nome da ideologia corporativista que concentrava no Estado o bem supremo da felicidade social. Todas as entidades de classes foram colocadas debaixo da autoridade do Estado, em constante regime de colaboração, e a luta de classes esvaziada em nome de uma sociedade ilusória de fraternidade social.
            
O fim do regime em 1945 abriu um novo ciclo de redemocratização. Em 1946, foi elaborada uma nova Constituição, com avanços, mas ainda anti-democrática. A nova Carta garantia liberdade de Imprensa e eleição direta para presidente, porém, sem sufrágio universal. Outro ponto autoritário deste ciclo, que se estende a 1964, foi a colocação do PCB na clandestinidade, este que chegou a apoiar o candidato presidencial vitorioso em 1945.

Até a interrupção da democracia em 64, várias tentativas de golpes foram lançadas, em 1954, 1955 e 1961. A última representou a introdução do parlamentarismo no país como forma de garantir a posse de João Goulart, sucessor legítimo ao cargo deixado por Jânio Quadros, que renunciou. O rótulo de comunista sob “Jango” trouxe resistências dos setores conservadores, que por fim concordaram em aceitá-lo em um regime parlamentarista, revogado em 1963 através de plebiscito popular.
           
A posse presidencialista de Jango estava longe de ser um inicio de tranquilidade democrática. A queda de braços entre setores conservadores e de esquerda, jogou Goulart em não raras situações de difícil decisão. Jango se equilibrou dentro de um contexto em que tanto esquerda e direita estavam dispostas a abrir mão do ordenamento democrático para conseguir seus objetivos. Brizola, principal líder das esquerdas, não cansou de aconselhar o presidente a fechar o congresso e impor mudanças pelo uso da força. A tensão e os constantes equívocos das esquerdas, que olhavam o povo pronto para o enfrentamento, fez com que Jango fosse deposto em Março de 1964, logo após assumir as “Reformas de Base” das esquerdas como seu programa político. Iniciava-se um novo e difícil tempo de retrocessos democráticos.

De 1964 a 1985: a ditadura dos quartéis

Durante o Governo Militar, o autoritarismo predominou. Ainda que nos primeiros anos, dirigidos por Castelo Branco, houvesse pequenas liberdades, principalmente no campo cultural, não demorou muito para que o regime recrudescesse, e intensificasse a violência contra a democracia. A chamada “linha castelista” defendia a devolução do poder aos civis assim que estabilizada a ordem. Mas o grupo de Costa e Silva, que substituiu Castelo, avançou nas medidas repressoras, momento em que foi decretado o famoso AI5, no qual as principais liberdades civis eram canceladas, como a emissão de Habeas Corpus.  Com Médici então, a linha dura do governo promoveu um verdadeiro clima de terror no país, através de prisões, torturas, assassinatos e sequestros.

A ditadura, contudo, não sobreviveu apenas com a força, aliás, nenhum regime sobrevive. Durante os governos militares foram ampliados direitos sociais, principalmente em relação ao povo do campo, abandonado até então. Foi criado a seguridade social, a aposentadoria rural e implementado um forte desenvolvimento econômico, que beneficiou principalmente a classe média na compra de bens duráveis. O período de grande crescimento econômico ficou conhecido como “Milagre brasileiro”.

O milagre, todavia, não durou muito. Já no inicio da década de 1970, percebe-se uma estagnação da economia, e consequentemente a perda de bases consensuais ao regime. A oposição consentida, o MDB, avançou nas eleições, forçando a “abertura lenta e segura” para a democracia. Feita sob longas negociações, a transição para democracia assegurou o modelo econômico, a anistia aos militares e garantiu a escolha do novo presidente por via indireta. Ainda sim, o Brasil dava um novo salto em sua democracia.

De 1985 aos dias atuais: a consolidação institucional

A eleição no colégio eleitoral deu vitória a Tancredo Neves, que teve como vice um ex-presidente da ARENA, José Sarney.  Quis o destino que Tancredo viesse a falecer antes da posse, e assim, dando a Sarney o direito de dar rumos ao futuro da Nova República. A democracia conseguiu avanços no Pós-ditadura, ainda que manchados por episódios lamentáveis, quando o que o exército invadiu a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), matando cerca de 3 operários em repressão a uma greve.

Inflação, desemprego e perdas salariais desgastaram o governo Sarney, que fez a transição para a primeira eleição direta da Nova República. Nesta eleição, a polarização do segundo turno entre Fernando Collor (PRN) e Luis Inacio Lula da Silva (PT), representou bem as contradições da sociedade organizada, que já na década de 1980 mostrava ascensão significativa. O primeiro era o nome das elites conservadoras, o segundo, um sindicalista com amplo apoio dos movimentos sociais, e com um programa de mudanças fortes no país. Por uma série de fatores, Collor venceu, e o Brasil inaugurou um novo ciclo político no país, dirigido por um ideário liberal, de diminuição do Estado e amplos processos de privatização. A democracia, contudo, manteve-se.

O presidente veio a sofrer impeachment 2 anos depois de sua posse, sob ampla mobilização popular, logo apóas ser bombardeado por denúncias de corrupção. Devemos lembrar, que mesmo com a governança interrompida, o Brasil não feriu minimamente os contratos democráticos, firmados na avançada Constituição de 1988. As eleições de FHC, Lula e Dilma, foram respaldadas por um sólido e moderno aparelho democrático.

Ainda que a democracia brasileira precise se enriquecer para além de uma concepção representativa, levando em conta elementos econômicos, sociais e culturais, é fato que temos hoje uma institucionalidade democrática forte , pelo qual nenhum tipo de tentativa de ruptura deve ser tolerada, nem pela esquerda, nem pela direita.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: longo caminho. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira;2012.

FEREIRA, Jorge (org). O Brasil Republicano: o tempo da experiência democrática. Rio e Janeiro: Civilização Brasileira; 2008.

FERREIRA, Jorge (org). O Brasil Republicano: o tempo da ditadura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2008.

LINHARES, Maria Yeda (org). História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus;1990


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