segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O marxismo de Gramsci

Por Adelson Vidal Alves

"O único elemento ortodoxo no marxismo é o método' 
Georg Lucácks


Há quem diga que Antônio Gramsci teria abandonado o comunismo antes de sua morte. Argumenta-se que ao deslocar suas preocupações revolucionárias para o campo da "Superestrutura", o pensador italiano teria rompido com o materialismo analitico do método marxista. Fala-se também que o teórico sardo se bandeou para a social-democracia ao rejeitar o assalto do poder estatal como estratégia de revolução. 

Contudo, qualquer leitura um pouco mais cuidadosa dos Cadernos do Cárcere, obra da maturidade de Gramsci, irá se perceber facilmente que o mesmo terminou sua vida como marxista. Nos seus trabalhos carcerários, Gramsci usará o pseudônimo "Sociedade Regulada" para designar o momento em que os mecanismos consensuais de decisão no poder absorvem os de coerção. Ou seja, a "Sociedade Civil" toma a "Sociedade Política", abolindo o Estado em seu sentido coercivo. Isso não é nada diferente do que Marx defendeu ser a sociedade comunista. O pseudônimo empregado pelo italiano, justifica-se pelo fato de que a prisão vigiava os seus apontamentos, de modo que essa foi uma estratégia genial usada por Gramsci para se desviar da censura fascista. 

Antônio Gramsci foi preso em 1926 levando consigo uma grande questão de caráter marxista: porque as revoluções socialistas triunfaram em países periféricos vindo a fracassarem nos mais desenvolvidos? Suas análises históricas e socio-econômicas, irão levá-lo a compreender que a tática do assalto ao poder do Estado, já não seria mais adequada em sociedades com estruturas mais sofisticadas. O italiano vai defender que as lutas sociais abriram um novo espaço de luta pela consolidação ou transformação de uma determinada ordem social. Gramsci tomará o conceito de "Sociedade Civil" para defender um novo lugar de disputa de poder, caracterizado pela busca intensa da direção ideológica e cultural de uma determinada sociedade. Se em Marx a sociedade civil aparece como momento de estrutura (as relações econômicas), em Gramsci ela aparece como superestrutura (conjunto de instituições e valores de uma sociedade).

Apesar de propor um novo caminho revolucionário nas sociedades "Ocidentais", onde a busca pelo poder passa pelo que veio a chamar "Guerra de posição", a saber uma luta prolongada onde se avança e se recua na batalha contra seu adversário de classe,  Gramsci em momento algum rompe com Marx em sua metodologia interpretativa. O teórico italiano permanecerá materialista, analisando o fator material como determinante na construção do ser social, vindo, porém, a expor uma visão dialética, no qual a luta por uma nova cultura criará as condições para o advento da sociedade socialista. Gramsci vai falar de "Reforma intelectual e moral", como condição indispensável na construção de outra ordem social.

Fiel a concepção histórica de Marx, Antônio Gramsci vai estabelecer uma relação de superação/conservação com os conceitos desenvolvidos pelo filósofo alemão. Permanecerá comunista, porém, avançando em muitos pontos no arcabouço teórico do marxismo. Uma renovação que foi responsável, sem dúvida, pela sobrevivência da teoria elaborada por Marx, hoje mais revigorada do que nunca.




Um comentário:

  1. Quem disse que Gramsci passou para a social-democracia disse algo certo.

    Se vc estudar melhor a revolução russa verá que ela não foi mera irrupção violenta e nem eleitoral. Eles fizeram diferentes tipos de luta, conjugados. Os bolcheviques mobilizaram o povo, construindo um poder alternativo e a seguir tomaram o poder.

    Gramsci estava errado quanto aos motivos do fracasso da revolução na Europa. Lenin dá uma explicação bem melhor em O Imperialismo: o saque do terceiro mundo permite que se suborne parte do operariado.

    Ignorar isso é ser social-democrata.
    Mas também, para quem pensa que PPS é socialista...



    ResponderExcluir