quinta-feira, 3 de maio de 2012

Ética e Capitalismo

Por Adelson Vidal Alves

             Em meio a cachoeiras, orgias em Paris e tráficos de influência, a sociedade brasileira vem de forma cada vez mais escandalosa convivendo com a corrupção sistêmica dos espaços de poder estatal. Público e privado se confundem, delimitando os intocáveis do poder, uma justiça complacente e um povo inerte.
            Os movimentos civis contra a corrupção guardam altos volumes de coragem e ingenuidade. Coragem porque se trata de uma valorosa iniciativa da sociedade organizada, indignada com as extorsões diárias do dinheiro público. Ingênua, porque o apelo isolado a consciência é extremamente ineficiente. A moral, os valores e a ética de uma determinada organização social se concretizam em instituições moldadas a partir das relações materiais em que os indivíduos estabelecem para reprodução de sua existência. De modo que o sistema capitalista de produção está no centro das movimentações de poder estabelecidas a partir do contrato social, violado cotidianamente pelo déficit de cidadania, fator primordial para o exercício pelo de uma democracia republicana.
            O que quero dizer é que o combate à corrupção no Brasil não depende apenas de campanhas de conscientização, ainda que sejam necessárias. A corrupção da República brasileira obtém sucesso pela fragilidade dos órgãos de sustentação de nosso regime, assim como seu alinhamento ao modelo econômico.
            Antes de um deputado enfiar dinheiro em suas peças íntimas, ele ascendeu a tal posto por dentro de um sistema que monta parlamentos pela via do financiamento do poder econômico.  Em outras palavras: O poder público sofre interferência direta do domínio financeiro, que por sua vez cobra a fatura de seu investimento.
            As fraudes em licitações, assim como o apadrinhamento político em cargos de alto escalão do Estado, têm ligação umbilical com nosso modelo político. Marchas, passeatas e abaixo-assinados não são suficientes para barrar o sangramento ético da República brasileira. É necessário reformar todo o sistema.
            É má notícia que os beneficiários da corrupção sejam os agentes destas mudanças. As reformas política, agrária, tributária e tantas outras, param nas bancadas corporativas do Congresso Nacional, quando não são engavetadas pelo Executivo. As mudanças estruturais de nossa sociedade resistiram até mesmo às mudanças de governo. Ainda que um partido historicamente de esquerda tenha chegado ao governo central, as transformações não vieram juntas, e assim, as rédeas do futuro nacional permanecem nas mãos das classes dominantes.
            A história só reconhece rupturas através de ação coletiva. Os desvios éticos de nossos governantes só deixarão de ser manchete de Jornal quando os alicerces de nossa organização econômica forem abalados. Para tal, é necessário um novo protagonismo popular, afinal, mudanças de verdade só virão de baixo pra cima.

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