quarta-feira, 9 de maio de 2012

A indústria cultural e a consagração do medíocre

            Por Adelson Vidal Alves



            As rádios, os programas televisivos e os noticiários impressos, estão quase sempre falando a mesma língua. A sintonia midiática em sua reprodução cultural nem precisa de ensaio, flui quase que automaticamente, seguindo a lógica do que Adorno chamou de “Indústria Cultural”.
            A Indústria Cultural tem tudo a ver com capitalismo. Nela se fundem as manifestações culturais e o grande capital, buscando basicamente dois objetivos: render lucro aos capitalistas do mercado cultural, bem como manter intactas as bases de nosso ordenamento social.
            A sua estratégia é fundamentada na reprodução mecânica e seriada da cultura. Produzir um hit musical assemelha-se à produção de um enlatado qualquer.  Nada de abrir espaço para a criatividade, revolucionar formas de vivência ou mesmo de garantir padrões mínimos de qualidade na difusão da cultura. Vale re-fabricar para as massas o que já está “consagrado”.
            Adorno chega a dizer em seu livro “Indústria Cultural e Sociedade” que os ouvidos das massas estão preparados para absorver o que a cultura industrializada está pronta a produzir.
            Recentemente, o Brasil assistiu a uma febre musical, impulsionada pelo cantor Michel Teló. O hit “Ai se eu te pego” rendeu milhões ao cantor, sustentando-se sob uma hiper-articulação midiática. A receita é óbvia: refrão simples, letra descontraída e musicalidade fácil. A mediocridade poética e de arranjo, além de visível desafinação do cantor não são barreiras para a indústria cultural, que, de forma onipotente e onipresente, controla o mercado cultural e seus robôs consumidores.
            Não pense que seu filho tem liberdade de escolha frente à cultura industrializada. Ela distribui cultura conforme a divisão das classes sociais. Entretenimento, fofocas, sensacionalismo e apelo ao erótico, são direcionados às classes subalternas conforme sua capacidade de compra. Uma banca de jornal de um bairro periférico vai provar exatamente o que digo. A cultura sofisticada é cara e restrita ao círculo da burguesia.
            Em Adorno, a indústria cultural é tão poderosa que é capaz até mesmo de absorver aqueles que resistem. Contrapondo-se aos seus paradigmas, os resistentes acabam se incorporando em forma de mercadoria.
            A circulação da cultura em sua forma plural como pressuposto da democratização passa, necessariamente, por uma reforma nos meios de difusão cultural, principalmente na mídia. Sabemos, contudo, do poder da mesma, ainda que sofra sérios abalos com as novas formas eletrônicas de formação cultural. O desafio está colocado, com o risco de perpetuarmos a mediocridade da indústria cultural. 

Créditos:

Revisão textual: Regina Vilarinhos

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