Há pelo menos dois Jesus: o “Jesus
da fé” e o “Jesus histórico”. O primeiro dispensa comentários. É o “Cristo” (“Ungido”
em grego), influência para mais de dois bilhões de pessoas em todo mundo, que
de formas diferentes veem nele um mensageiro de Deus. O segundo faz parte de um
esforço da ciência em tentar reconstruir o homem que viveu há mais de dois mil
anos atrás na Palestina.
O Jesus histórico, no entanto,
oferece dificuldades para ser desvendado. Tudo por conta das poucas fontes que
deixou fora das narrativas bíblicas. Os evangelhos são muito mais testemunhos
de fé do que biografias históricas. Fora deles temos citações antigas de um certo
Jesus por parte de Suetônio, Tertuliano, Tácito, Plínio o Jovem e Flávio Josefo.
Provas materiais somente uma caixa de pedra onde consta escrito em aramaico “Tiago,
filho de José, irmão de Jesus”. Em 2010 ela passou por perícia e teve sua autenticidade
atestada. Como as possibilidades estatísticas de uma família naquele período e
local combinarem todos estes nomes são pequenas, alguns pesquisadores acreditam
ter encontrado a primeira referência material direta à Jesus.
Ainda sim, é pouco para montar
o complexo quebra cabeça da vida do homem que dividiu literalmente a história
do Ocidente. O que não significa que não possamos buscar outros
caminhos de estudo – “A interpretação
correta dos textos históricos e a arqueologia estão trazendo surpreendentes
revelações sobre o Jesus histórico” diz o historiador John Dominic Croassan,
autor de “O Jesus histórico: a vida de
um camponês judeu no Mediterrâneo” e um dos maiores especialistas do mundo no
assunto.
Os trabalhos articulados entre
antropólogos, historiadores, sociólogos, arqueólogos e filólogos foram capazes
de construir um consenso mínimo sobre a vida de Jesus. Ele teria nascido em
Nazaré, um povoado com pouco mais de 400 pessoas, por volta do ano 3 AC, viveu
e trabalhou em tarefas simples, como a de operário ou camponês (suas parábolas
são cheias de referências à vida rural), pregou e foi considerado subverviso
pelo poder romano e herege pela casta religiosa. Por conta disso foi crucificado
e morto na década de 30 da Era cristã.
A partir daí os especialistas
se dividem. Durante algum tempo houve quem apostasse que fosse um essênio, já que
foi batizado por João Batista, um provável membro desta seita judaica. Contudo,
os pergaminhos encontrados no Mar Morto, próximo às cavernas de onde viviam os essênios,
não faziam nenhuma menção a Jesus. Além do mais, o estilo de vida asceta dos
essênios se contradiz com o ativismo apresentado por Jesus na maioria das
fontes.
Outro aspecto que concordam os
pesquisadores é sua adesão ao movimento apocalíptico de sua época. Tudo indica
que ele acreditava na proximidade do fim dos tempos, e por isso pregou fervorosamente
a conversão ao Reino de Deus, o centro de sua pregação. Como esperava para
breve o fim das coisas, não se preocupou em fundar uma nova religião, optando por exortar
a todos para uma prática voltada para construção de um mundo onde cabiam os
valores da partilha, da Justiça e da solidariedade.
As poucas fontes sobre o Jesus
histórico podem ser explicadas pelo fato deste ter tido pouca importância no
seu tempo, ao contrário do que nos insinua os evangelhos canônicos. As atividades de Jesus eram comuns naquele
tempo, e não há motivos para imaginarmos que sua vida chamou de algum modo
atenção diferenciada. Atenção que dois mil anos depois ele a tem de sobra.
Olá,
ResponderExcluirem tempos escrevi um artigo sobre este tema:
http://quem-escreveu-torto.blogspot.pt/2013/10/seculo-ii-tacito-suetonio-e-plinio-o.html
Saudações
Paulo Ramos