segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

DOM WALDYR CALHEIROS (1923-2013)



Por Adelson Vidal Alves

           
Morreu no sábado, 30 de Novembro, Dom Waldyr Calheiros, Bispo Emérito da Diocese Barra do Pirai/Volta Redonda.
Estive com Dom Waldyr uma única vez na vida, em 2006, por ocasião da eleição sindical metalúrgica daquele ano. Ele me recebeu junto a alguns amigos em sua casa, conversamos sobre a situação do movimento operário na cidade. Lembro-me que pedi a fala e discursei sobre a metamorfose que sofreu o mundo do trabalho, razão que apontei como grande dificuldade para a nova atuação sindical. Disse também que as relações de classe haviam mudado no mundo contemporâneo e que deveríamos repensar novas formas de resistência.

Sua resposta foi serena:

- “Mas meu filho, a exploração continua a mesma. A cabeça do patrão é a mesma, a de explorar e gerar lucro”.

Fiquei em silêncio devoto, diante da sabedoria santa de quem dedicou a maior parte de sua vida à luta dos trabalhadores.

Waldyr Calheiros Novaes nasceu no estado de Alagoas, em 29 de Julho de 1923.  Foi ordenado sacerdote em 1948, no Estado do Rio de Janeiro, onde atuou até ser nomeado Bispo da Diocese de Barra do Piraí/Volta Redonda, em dezembro de 1966. Foi substituído em 2000, pelo Bispo Dom João Messi, carregando até a sua morte o título de Bispo Emérito.

Durante toda sua vida, o “bispo vermelho”, como ficou conhecido entre os círculos militares no período ditatorial, dedicou-se à construção de uma igreja popular. Chegou a radicalizar as diretrizes da Teologia da Libertação, que proclamava um cristianismo com “opção preferencial pelos pobres”. Dom Waldyr sugeriu uma “opção exclusiva pelos pobres”. Sua escolha a favor da libertação dos oprimidos lhe rendeu perseguição dos poderosos. Em 1967, teve sua casa cercada por militares.

Acusado de comunista, D.Waldyr sempre se sentiu mais à vontade afirmando-se cristão. Certa vez disse: “O que é mais doloroso em tudo isto é que qualquer posição que se venha a reivindicar em favor dos menos favorecidos é tachada de comunista”. Mesmo nunca integrando qualquer organização de corte socialista, o bispo sempre se posicionou contra o sistema capitalista, a quem tratava como “incapaz de criar uma proposta para uma sociedade mais justa, humana e fraterna”.

Seu destaque maior se deu em 1988, quando apoiou a greve histórica da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Ao lado do sindicalista Juarez Antunes, tomou a frente de um movimento que sacudiu a cidade de Volta Redonda, garantiu vitórias importantes aos operários da siderúrgica, mas que teve um saldo trágico de três trabalhadores mortos pelo exército. Mais tarde, em documentário, revelou que fora ameaçado de morte, junto com Juarez, que de fato veio a falecer em um acidente de automóvel pouco esclarecido.

Ainda em 1988, recebeu uma carta da Congregação para os Bispos, com críticas à sua pregação. O documento tinha influência do papado de João Paulo II, com auxílio de Joseph Ratzinger, mais tarde Bento XVI. Já naquele momento, a Igreja Católica começava a silenciar as vozes dos sacerdotes que pretendiam articular a fé com libertação social, num esforço de adequar a igreja a um caminho conservador. Obediente à sua vocação, D Waldyr nunca rompeu seus laços eclesiásticos, mas muitas vezes, na contramão do discurso oficial católico, assumiu posição a favor de uma igreja mais generosa, aberta, cheia de compaixão e comprometida com a luta de todos os excluídos.

D. Waldyr morreu como um sacerdote católico, mas nos momentos de contradição com a igreja, sempre optou pelo evangelho da libertação. 


Créditos:

Revisão Textual: Regina Vilarinhos

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