Por Adelson Vidal Alves
Morreu no sábado, 30 de Novembro, Dom Waldyr Calheiros, Bispo Emérito da
Diocese Barra do Pirai/Volta Redonda.
Estive com Dom Waldyr uma única vez na vida, em 2006, por ocasião da
eleição sindical metalúrgica daquele ano. Ele me recebeu junto a alguns amigos
em sua casa, conversamos sobre a situação do movimento operário na cidade.
Lembro-me que pedi a fala e discursei sobre a metamorfose que sofreu o mundo do
trabalho, razão que apontei como grande dificuldade para a nova atuação
sindical. Disse também que as relações de classe haviam mudado no mundo
contemporâneo e que deveríamos repensar novas formas de resistência.
Sua resposta foi serena:
- “Mas meu filho, a exploração continua a mesma. A cabeça do patrão é a
mesma, a de explorar e gerar lucro”.
Fiquei em silêncio devoto, diante da sabedoria santa de quem dedicou a maior parte de sua vida à luta dos trabalhadores.
Waldyr Calheiros Novaes nasceu no estado de Alagoas, em 29 de Julho de 1923. Foi ordenado sacerdote em 1948, no Estado do Rio de Janeiro, onde atuou até ser nomeado
Bispo da Diocese de Barra do Piraí/Volta Redonda, em dezembro de 1966. Foi
substituído em 2000, pelo Bispo Dom João Messi, carregando até a sua morte o
título de Bispo Emérito.
Durante toda sua vida, o “bispo vermelho”, como ficou conhecido entre os círculos militares no período ditatorial, dedicou-se à construção de uma igreja popular. Chegou a radicalizar as diretrizes da Teologia da Libertação, que proclamava um cristianismo com “opção preferencial pelos pobres”. Dom Waldyr sugeriu uma “opção exclusiva pelos pobres”. Sua escolha a favor da libertação dos oprimidos lhe rendeu perseguição dos poderosos. Em 1967, teve sua casa cercada por militares.
Acusado de comunista, D.Waldyr sempre se sentiu mais à vontade
afirmando-se cristão. Certa vez disse: “O que é mais doloroso em tudo isto é
que qualquer posição que se venha a reivindicar em favor dos menos favorecidos
é tachada de comunista”. Mesmo nunca integrando qualquer organização de corte
socialista, o bispo sempre se posicionou contra o sistema capitalista, a quem
tratava como “incapaz de criar uma proposta para uma sociedade mais justa,
humana e fraterna”.
Seu destaque maior se deu em 1988, quando apoiou a greve histórica da
CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Ao lado do sindicalista Juarez Antunes,
tomou a frente de um movimento que sacudiu a cidade de Volta Redonda, garantiu
vitórias importantes aos operários da siderúrgica, mas que teve um saldo
trágico de três trabalhadores mortos pelo exército. Mais tarde, em
documentário, revelou que fora ameaçado de morte, junto com Juarez, que de fato
veio a falecer em um acidente de automóvel pouco esclarecido.
Ainda em 1988, recebeu uma carta da Congregação para os Bispos, com
críticas à sua pregação. O documento tinha influência do papado de João Paulo
II, com auxílio de Joseph Ratzinger, mais tarde Bento XVI. Já naquele
momento, a Igreja Católica começava a silenciar as vozes dos sacerdotes que
pretendiam articular a fé com libertação social, num esforço de adequar a
igreja a um caminho conservador. Obediente à sua vocação, D Waldyr nunca rompeu
seus laços eclesiásticos, mas muitas vezes, na contramão do discurso oficial
católico, assumiu posição a favor de uma igreja mais generosa, aberta, cheia de
compaixão e comprometida com a luta de todos os excluídos.
D. Waldyr morreu como um sacerdote católico, mas nos momentos de contradição
com a igreja, sempre optou pelo evangelho da libertação.
Créditos:
Revisão Textual: Regina Vilarinhos
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Revisão Textual: Regina Vilarinhos
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