segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Esquerda democrática e reformista

Por Adelson Vidal Alves

Uma esquerda que se pretenda moderna e útil para os nossos tempos deve ser, sobretudo, uma esquerda acomodada ao jogo democrático, convencida de que a democracia política é o único terreno pelo qual se devem desenvolver transformações na sociedade. Uma esquerda constitucional, obediente a Carta de 1988, esta que rege com maestria os 25 anos de verdadeira redemocratização brasileira, consolidando direitos e liberdades, e oferecendo contínuos espaços para atuação positiva das classes subalternas na esfera pública.

Permite-se a esta esquerda sonhos de ruptura anti-capitalista, mas jamais se fazendo simpática a estratégias que busquem mudanças sociais pelo víeis do autoritarismo. Uma esquerda democrática não toma de referência o sonho da “ditadura do proletariado”, termo infeliz recolhido por Marx de Augusto Blanqui, que ainda que sob distorções, favoreceu o aparecimento de correntes autoritárias dentro do marxismo e da esquerda, hoje enfraquecidas, mas sobreviventes nos grupos minoritários de caráter extremista.

A utopia revolucionária pode e deve permanecer viva, mas no contexto de uma proposta reformista, convencida de que a complexidade contemporânea do poder já não aceita simplificações grosseiras, que se faz iludir uma sectária e atiçada esquerda, afoita por tomar o Estado de assalto.

A democracia é um caminho sem volta. É fruto de um longo processo civilizatório, no qual as classes de baixo, e não a burguesia, foram as protagonistas. Os parlamentos, as leis, as liberdades de associação e organização popular foram combatidos pelos primeiros governos burgueses, e somente com a força do movimento dos trabalhadores que se ganhou hoje o formato que tem, ainda defeituoso, mas imprescindível para o bom funcionamento da vida democrática.

Um conceito utilizado pelo sociólogo francês André Gorz, que ganhou resignificação com o pensador brasileiro Carlos Nelson Coutinho, a meu ver, traduz a estratégia central desta esquerda democrática. O conceito é o de “Reformismo revolucionário”, aparentemente uma contradição, mas que pode se converter em uma ação madura e vitoriosa para a esquerda do mundo contemporâneo. Com a impossibilidade de revoluções insurrecionais, propõe-se alterar a estruturas reformando-as, mas vejam bem, não reformá-las para mantê-las, mas para transformá-las. O reformismo, desde que sob intensidade adequada, é capaz de corroer a hegemonia do capital, e fazer valer novas formas de cultura e relação social. Gramsci já falava de uma “reforma intelectual e moral” como fator antecedente a vinda da sociedade socialista, mas há que serem feitas reformas no interior do Estado e da sociedade.  Se a social-democracia recuou quando suas reformas ofereciam riscos ao modo de produção capitalista, a esquerda democrática e reformista de nossos tempos deve ir adiante, sempre buscando a radicalização democrática como processo de construção de uma nova ordem social.

Esta esquerda ainda não tem nome, muito menos sigla. Podemos apenas sentir a falta que ela faz, principalmente quando as lutas populares perigam se reduzir a mascarados inconsequentes, ou quando as forças democráticas aderem ao conservadorismo, tratando a democracia como simplesmente as “regras do jogo”. A esquerda democrática e reformista que tanto o Brasil precisa, ainda está longe de se firmar como uma alternativa concreta para o país. Enquanto isso vemos ciclos populistas e autoritários se estendendo, por conta da própria incapacidade daqueles que se assumem democratas de esquerda de fazer suas ideias circularem no permanente processo de luta ideológica.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

PT, PSDB e neoliberalismo



Por Adelson Vidal Alves

O PT chegou ao governo com ferrenhas críticas ao neoliberalismo, a quem acusava de ser ideologia preferencial de seu adversário: o PSDB. Sob as orientações de seus intelectuais, o Partido dos Trabalhadores prometeu um Brasil pós-neoliberal. Antes de entrar no tema deste artigo, deixe- me fazer um resumo simplificado do significado de neoliberalismo.

O termo nasceu na década de 1970, tendo a frente o economista Milton Friedman, que atualizou as teses clássicas do liberalismo, defendendo a economia de livre mercado, a diminuição do Estado, abertura econômica, e privatizações de serviço público. Em forma de governo ele influenciou a maior parte dos países nas décadas de 80 e 90. Alcançou sua plenitude no Chile de Augusto Pinochet, na Inglaterra de Margareth Thatcher e nos EUA de Ronald Reagan.

Feito essas colocações, voltemos a nossa temática. O “nosso neoliberalismo” jamais foi “puro”. Mesmo sob a política de privatizações de estratégicas e lucrativas estatais, nenhum dos governos pós-redemocratização (Collor, FHC, Lula e Dilma) acolheu na íntegra o ideário neoliberal. Nunca fomos abandonados a sorte da “mão invisível do mercado”, e o Estado jamais se recolheu do papel de indutor do desenvolvimento. É verdade, porém, que tanto tucanos e petistas optaram por uma economia liberal, o que sacrificou parte dos serviços públicos. Reformas (ou contra-reformas) liberais também foram feitas.O que diferencia PT e PSDB neste quesito não é a posição anti ou pró-neoliberalismo. Como vimos, ambos fizeram uso pontual de suas teses. 

As forças políticas que entendem o neoliberalismo como prejudicial a democratização econômica e social do país não devem, assim, esperar esforços de tucanos e petistas. Em mais 20 anos de gestão, ambos não conseguiram romper totalmente com o paradigma neoliberal, motivo pelo qual ainda convivemos com índices sociais de desigualdade alarmantes.

O ano eleitoral de 2014 anuncia a quebra de polarização PT-PSDB, e permite a construção de um novo bloco político de esquerda. Cabem nele movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos orientados pelo aprofundamento da democracia brasileira. Cabem os interessados em romper definitivamente com a influência neoliberal no Estado brasileiro. Cabe a esquerda que pensa um novo padrão de desenvolvimento, a ser traçado em respeito ao meio ambiente e com metas de redistribuição de renda. Cabem os novos sujeitos políticos, surgidos a partir das Jornadas de Junho e que, incorporados à democracia política, pensam novas formas de participação.

PT e PSDB ainda guardam diferenças. Seja na composição social, na relação com as instituições democráticas, em visões particulares de governo, como na diplomacia. Mas é fato que já não se separam pela aversão ao neoliberalismo. Testados no Planalto nenhum deles trabalhou para superá-lo. 

Temos assim a oportunidade e o dever de animar todas as forças anti-neoliberais para aumentar seus espaços político-eleitorais e superar o ciclo de duas décadas de um mesmo projeto, ainda que sob roupagens diferentes. Temos a chance de avançar o Brasil para uma nação mais justa, democrática e soberana.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Os marxistas e os "black blocs".



Por Adelson Vidal Alves

Falar em black blocs é falar de uma tática de protesto originária na Europa da década de 1980, e que desde então vem ganhando força em várias manifestações anti-globalização em todo mundo, chegando de forma contundente ao Brasil em Junho deste ano. Sua estratégia é o que chamam de “ação direta”, o que consiste em atacar propriedades privadas e símbolos do capitalismo como forma de denúncia e propaganda. Descentralizados que são, difícil identificar um projeto por trás de suas atuações, mas grande parte de sua linha de frente advoga o anarquismo.

Diante do crescimento desta forma de militância, várias visões apareceram na sociedade sobre o comportamento dos conhecidos “mascarados”. A direita logo condena, a grande mídia trabalha para distorcer os fatos e parte da esquerda teme perder sua influência nas manifestações de massa. Mas e quanto aos marxistas? Qual deve ser sua posição em relação aos “black blocs”?

De início, é visível a enorme diferença entre a tática black bloc e a proposta revolucionária do marxismo. Enquanto os primeiros, entendidos como anarquistas, pretendem derrotar o capitalismo dispensando organizações e projetos bem definidos, o marxismo, mesmo em suas tantas variações, trabalha a política como ferramenta de transformação social. Se no anarquismo o poder é “demonizado” os marxistas têm em seu horizonte a conquista do poder pelos trabalhadores, até enfim, o triunfo final da sociedade sem classes, o comunismo.

As divergências entre comunistas e anarquistas começa em 1864, na Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), e se acirra em 1868, com a entrada do anarquista Mikhail Bakunin na entidade. Este irá protagonizar agressivos debates com o comunista Karl Marx. O filósofo alemão chega a chamar a teoria anarquista de “pequeno burguesa", enquanto Engels a desqualifica, classificando de radical e tão simples “que pode ser aprendida em cinco minutos”. Já Bakunin revela, em carta enviada ao Jornal de Genebra, o quanto seus debates com Marx eram tensos, diz ele "Entre meus caluniadores mais agressivos e insistentes − juntamente com os agentes do governo russo – menciono naturalmente o senhor Marx, o chefe dos comunistas alemães, que, sem dúvida por causa de sua tripla condição de comunista, de alemão e de judeu, cismou comigo”.

As contradições de Marx e Bakunin, expulso da AIT em 1872, se estendem ainda hoje entre comunistas e anarquistas. Penso que em relação aos black blocs toda essas divergências devem ser levadas em conta. Os comunistas participam de eleições, se organizam em partidos, e miram a tomada do poder estatal como forma transitória de ruptura total com o capitalismo. No marxismo a violência ofensiva não é estratégia indispensável.

O abstencionismo, o desprezo por formas transitórias de poder e outros valores do anarquismo são incompatíveis com a teoria marxista. De modo que marxistas que comungam estratégias black blocs cometem um grande equívoco. Ainda que possam ser solidários e que estejam ao mesmo lado de uma determinada causa, deve-se deixar bem claro que a tática anarquista black bloc se contrapõe ao que pensam os marxistas. Apoiar tais ações não só é contradição, como um erro tático, que desvia as lutas subalternas de caminhos mais produtivos nas transformações sociais. Confunde e dá munição aos adversários de classe. Um marxista, assim, jamais pode ser um "black bloc".

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Contra Dilma, uma esquerda democrática

Por Adelson Vidal Alves



O ciclo político aberto em 2002, com a introdução da hegemonia do PT no poder central do país, mostra sinais de esgotamento. Não só pela debandada de aliados históricos, como o PSB e provavelmente o PDT, mas, sobretudo, pela incapacidade do Planalto de reorganizar suas forças sem precisar buscar apoios nos círculos fisiológicos e da direita política. O Partido dos Trabalhadores, que dirige a nação há 10 anos, e que chegou ao poder empurrado pelo amadurecimento de setores da sociedade brasileira alinhados pela redemocratização do país, já não se constrange em dividir palanques com grupos e figuras que sempre ocuparam o campo oposto do petismo histórico, isto é, àqueles a quem o PT deu as mais agressivas classificações, às vezes até com exagero. Isto é, já não há nenhum acanhamento em abrigar no mesmo comício eleitoral Lula e Maluf. Se o palanque petista já recusou uma das figuras centrais da redemocratização brasileira, Ulysses Guimarães, acusado de vacilações, hoje cabe, com conforto, Sarney, Collor e Renan Calheiros, tudo, é claro, justificado pela tal “governabilidade”.

O fracasso do PT no governo abre, assim, um vácuo político, com particularidades significativas no pleito de 2014. A oposição tradicional, com núcleo demo-tucano e de características moderadas e até conservadoras, parece carecer de uma força que a coloque como principal fonte alternativa. O fato é que fora do poder não conseguiram se renovar, e nem apresentar à sociedade um projeto sedutor que pelo menos ameaçasse a hegemonia petista nesta última década. Quis a conjuntura atual, alimentada pelas Jornadas de Junho, que do seio do governo se articulasse uma nova linguagem oposicionista, com clara localização à esquerda. Falo da recente aliança programática entre a REDE SUSTENTABILIDADE, da ex-senadora Marina Silva, e do PSB de Eduardo Campos. A primeira é força emergente de toda desilusão criada em torno dos partidos tradicionais, e que foi capaz de absorver a energia de amplos setores da sociedade, dispostos a trabalhar, em sua pluralidade, pela atualização da política nacional. O segundo, um partido histórico comprometido com o socialismo de liberdades. Lugar de contraposição democrática à burocratização stalinista dos PCs, e que mesmo com diferenças, carrega ainda hoje o espírito de saudosos democratas como João Mangabeira e Miguel Arraes.

A fusão destas duas forças políticas é poderosa. Não apenas eleitoralmente, no qual precisa ainda se consolidar, mas, principalmente, por ser capaz de dar corpo a um bloco político situado no âmbito da esquerda democrática. Ou seja, uma esquerda que aceitou definitivamente a democracia como terreno exclusivo do jogo político, que é obediente a Constituição cidadã, esta que completa ¼ de século como guardiã de uma democracia que, ainda que jovem, mostra um caminho maduro e aparentemente imune a tentativas de desestabilização institucional.

Esta esquerda terá o papel de enfrentar Dilma. A presidenta que ensaia voos próprios desde que foi elevada a seu posto pelo bonapartismo lulista, e que goza de favoritismo nas primeiras pesquisas de opinião. A presidenta que vê o pacto social construído em torno de conciliação classista entre miseráveis e milionários, se esvair em meio às dificuldades econômicas do Estado em sustentar a satisfação dos dois polos extremos da até agora imutável pirâmide social brasileira. 

Esta esquerda, com Campos ou Marina, terá a obrigação de construir desde já um projeto alternativo de sociedade, que obrigatoriamente descontamine as instituições democráticas da partidarização que vem sofrendo. Terá que mostrar uma nova política econômica, que escape ao rentismo e se concentre num desenvolvimento social subordinado aos paradigmas de sustentabilidade. Terá, enfim, que formular um modelo político e econômico que enfrente a desgraça da desigualdade, implantando reformas estruturais, principalmente a agrária, política e tributária.

Para que a esquerda democrática triunfe, é necessário se equilibrar no estreito fio da navalha, que supere sectarismos sem entrar no temido vale-tudo eleitoral. Isso implica trabalhar uma política de alianças sob critérios, que admita em determinado contexto concessões que não afetem o programa central. Trata-se de encorpar o projeto eleitoral sem degenerar o eixo programático.

Diante deste novo quadro de desafios, se abre a corrida eleitoral de 2014. Um ano que promete sacudir estruturas e movimentar novos e variados atores políticos. Um quadro que pode colocar o Brasil num novo ciclo político, econômico e social. Dependerá, é claro, da capacidade de se formular uma nova hegemonia no país. Ou então, seguiremos consumindo a velha pequena política.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Quem odeia Marina Silva?

Por Adelson Vidal Alves

O PT odeia Marina Silva. E a odeia por conta de sua ruptura à esquerda no governo Lula, quando tentou apresentar uma agenda ambiental e foi derrotada pelos ministros economicistas da gestão de Lula. Odeia porque sua história é ao lado dos movimentos sociais, tem um currículo comprometido com a ética, e mandatos parlamentares alinhados com as lutas populares. Odeia porque contra ela não poderão usar do maniqueísmo terrorista do velho discurso do “risco da direita voltar”.

Os ruralistas odeiam Marina. Enquanto Ministra ela foi entrave para aprovação de projetos lucrativos das classes dominantes do campo, colocando a questão da sustentabilidade na frente da busca irresponsável por desenvolvimento e lucro. Odeiam porque ela representa uma forte tradição de lutas que se opõem aos interesses da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) dirigida por Kátia Abreu, senadora ruralista que já declarou apoio à reeleição de Dilma. Odeiam porque logo que chegou ao PSB, a ex-senadora dispensou elogios e apoios deste setor, representado por Ronaldo Caiado, que abandonou a antiga aliança com os socialistas em Goiás por conta da chegada de Marina.

Os governistas odeiam Marina. Odeiam porque ela é a pior das adversárias para se enfrentar. Odeiam porque suas propostas se alinham com o anseio por nova política, por ter sido ela a maior beneficiada com as Jornadas de Junho, que prometem se repetir em 2014. Odeiam porque é a segundo mais bem colocada nas pesquisas, com um capital eleitoral de mais de 20 milhões de votos, e ainda que tenham tentado ceifar sua candidatura, saiu por cima fortalecendo um projeto comum no campo da esquerda democrática. Odeiam porque serão obrigados a debater de verdade, sem recorrer a manobras discursivas.

A extrema-esquerda odeia Marina. Odeia porque acreditavam que poderiam crescer junto às manifestações de rua, e viram parte da energia social das ruas se transformarem em intenção de votos a Marina. Mais uma vez sua linguagem não chegou ao povo, e recorrem novamente às campanhas de desqualificação, tentando colocar Marina no mesmo baú da velha política. Fracassados em seu discurso, esta esquerda mal consegue apresentar uma candidatura que possa competir de verdade.

Odeia Marina quem tem a perder com a renovação da política, com a diminuição de lucros do capital a favor de uma nova cultura de desenvolvimento e consumo. Odeia Marina quem não suporta imaginar a possibilidade de se fazer uma política mais participativa, para além de movimentos e partidos burocratizados. Odeia Marina as cúpulas sindicais, que abusaram de ganhar dinheiro servindo como departamento de governo. Odeia Marina quem se acomodava e lucrava com a velha e autoritária cultura política nacional. Odeia Marina quem não quer debater o Brasil.

domingo, 6 de outubro de 2013

Marina sai fortalecida, PT derrotado

Por Adelson Vidal Alves

Não subestimemos a capacidade do PT fazer bobagens. O partido trabalhou em várias frentes para inviabilizar a criação da REDE, e até certo ponto obteve sucesso. Numa decisão suspeita, o TSE negou registro ao partido que se criava em torno de Marina Silva. No entanto, quando os Champagnes do Planalto ainda estouravam, eis que a imprensa noticia o ingresso de Marina ao PSB. O PT recebeu a notícia como uma bomba, e uma bomba contra sua estratégia eleitoral.

Os petistas esperavam poder colocar a ex-senadora numa encruzilhada, obrigando-a entre escolher uma candidatura dentro de um partido fisiológico ou adiar seu projeto para 2018. Com exceção do PPS, as legendas que ofereceram espaço a Marina ocupam o largo campo de partidos de aluguéis que não para de crescer no país. Ao escolher caminhar com Campos, cogitando inclusive a aceitar ser sua vice, a ex-ministra de Lula deixa claro a sociedade brasileira que suas intenções presidenciais se subordinam a um projeto de país, que o atual bloco no poder abandonou faz tempo.

É verdade, também, que a escolha de Marina pode trazer prejuízos eleitorais às oposições. O campo oposicionista conta hoje com apenas duas candidaturas: Campos/Marina(PSB)  e Aécio neves (PSDB). Este quadro pode dificultar um segundo turno, já que passar-se-ia a depender de um improvável voo do candidato tucano. Por outro lado, o ano de 2014, de Copa do mundo e eleições, tende a despertar novamente o espírito das Jornadas de Junho, do qual Dilma foi a maior prejudicada. A aliança de Marina e Campos seria a maior beneficiada.

Fato inconteste, ainda, é o golpe dado no discurso eleitoral que o PT já aprontava. O partido trabalhou nos últimos anos, sob orientação publicitária, a polarizar com seus adversários discursos de um risco de retrocesso á direita caso as oposições vencessem. Falavam ainda da volta das privatizações, do fim do bolsa família etc. Não conseguirão lograr êxito contra Marina/Campos. Afinal, ambos vieram do governo. A primeira, reconhecida pelo seu belo trabalho no Ministério do Meio Ambiente, e o segundo, governador mais bem avaliado do País, e parceiro de Dilma na ampliação das políticas sociais no estado de Pernambuco.

O PT vai precisar mais que uma agência de publicidade para não ver derrotado seu projeto “chavista” de poder. Terá que engordar seu bloco político. E como seus aliados mais progressistas começam a deixar sua base de apoio, é provável que a busca se dê no celeiro conservador da política. Definitivamente, o tiro saiu pela culatra.

 

 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Porque desmilitarizar a Polícia



Por Adelson Vidal Alves


A Polícia militarizada que hoje conhecemos vem dos tempos de nossa primeira República. Ela foi criada e se desenvolveu como braço armado das oligarquias, funcionando como aparato de guerra entre as fatias dominantes do Brasil no período.

Décadas depois ela se modernizou. Foi centralizada, vindo a submeter-se a autoridade civil: os governadores dos estados. Contudo, a cultura da instituição, dos treinamentos às ações de rua, ainda não conseguiu se adaptar aos tempos democráticos.

Sob fardas e coletes medonhos, a PM age em meio aos cidadãos sob regra de guerra, com abordagens intimidadoras e armas em punho. Não conseguem, em sua forma hegemônica, agir como uma instituição da política de segurança pública, mas sim como uma máquina de guerra pronta a esmagar o inimigo.

Ao subir favelas, a PM acumula o maior número de denúncias de violação dos direitos humanos. Para capturar o bandido, vale atropelar direitos civis, como a inviolabilidade do lar no período noturno. Vale constranger trabalhadores, aterrorizar cidadãos, e nos casos mais extremos, torturar.

Não foi a toa que o Conselho de Direitos humanos da ONU sugeriu que o Brasil acabasse com sua Polícia Militar. O custo de assassinatos sumários, truculência e corrupção são altos demais para conviver com uma democracia republicana.

Nos episódios recentes de repressão à luta dos professores, a PM mostrou não só o seu despreparo, mas também a disposição de alguns policiais de criminalizar manifestantes, inclusive forjando provas. Devemos estar convencidos que grevistas não são inimigos da ordem pública, e mesmo se fossem, deveriam ser julgados conforme as normas constitucionais. Nem o mais cruel dos bandidos pode ser julgado à margem das leis. O que diferencia a civilização da barbárie é exatamente a construção de mecanismos institucionais que regulam a vida em sociedade. Que retira da emotividade individual o direito de fazer sua própria justiça.

Caso a Polícia seja desmilitarizada, ganha não apenas a sociedade, mas principalmente os bons policiais. Teríamos uma Polícia em conformidade com seu papel republicano, isto é, o de proteger a sociedade, garantindo a ordem e a segurança social, subordinada, sempre, a nossa Carta maior, no qual se garante vida segura, respeito e proteção do Estado a todos os cidadãos.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Marina teria Plano B para disputar eleições

Por Democracia e Socialismo
 
A ex-senadora Marina Silva aguarda com confiança a posição do TSE quanto a criação da REDE SUSTENTABILIDADE, partido que pretende ser candidata a presidência da República em 2014.
 
A nova legenda precisa de 492 mil assinaturas para poder ter registro oficial, mas cerca de 95 mil das assinaturas colhidas foram invalidadas, o que pode fazer com que a operação não se efetue. Marina aparece na segunda colocação nas últimas pesquisas, e tem insistido que não pensa em ingressar em outra legenda para ser candidata.
 
Contudo, há quem garanta que um Plano B já estaria sendo pensado, caso o TSE não aceite rever as invalidações. O caminho seria a filiação de Marina e os Membros da REDE a um outro partido de pequeno porte, provavelmente o PEN, que aceitaria se fundir com o grupo de Marina, com disposição inclusive de mudar a sigla.
 
A possível presidenciável enfrentaria um grande dilema caso a REDE não fosse fundada a tempo para a disputa de 2014. Se abandonasse seu projeto eleitoral, poderia estar perdendo a grande chance de ser presidenta, se ingressasse em outra legenda, passaria a imagem de que a REDE seria apenas um projeto pessoal dela.
 
Por enquanto é tudo especulação, nos próximos dias ou horas o TSE irá se pronunciar, aí sim teremos a certeza do caminho de Marina e seu grupo, que tem até sábado, 5 de Outubro, para decidir seu futuro com vistas a 2014.
 
 
 
 
 

Direita? Onde?



Por Adelson Vidal Alves

O PT no poder abusou de inventar fábulas e mistificar a realidade. Numa ação orquestrada de sua militância, tentaram convencer o Brasil de que o mensalão foi inventado, Dirceu é inocente e o governo vive sob intenso ataque da “mídia golpista” ligada às elites. Fazem isso contra as provas abundantes apresentadas, que julgadas, comprovaram a existência de um mega esquema de corrupção, situado nos organismos estatais da República. Todo o processo respeitou um longo período de ampla defesa dos acusados, e teve confirmação da Suprema Corte do país.

Se fantasias são criadas para encobrir no partido sua visível degeneração ética, também se constroem discursos insanos no campo ideológico. Quem não conhece o terrorismo eleitoral petista alardeando o risco da volta da direita ao poder? Tal conversa mole se dirige aos setores progressistas que desconfiam da gestão petista, mas que olham com maus olhos os antecessores de Lula e Dilma. O objetivo é convencer que o PSDB e seus aliados representam a direita e o neoliberalismo, sendo assim necessário defender o país do retrocesso. Penso que só mesmo a total ausência de espírito crítico é capaz de sustentar tamanho descalabro.

O fato é que os governos FHC não foram puramente neoliberais, tão pouco o PSDB é um partido de direita. A administração presidencial tucana (1995-2002) se caracterizou por reformas liberalizantes que jamais se aproximaram de um liberalismo do tipo “thatcheriano” ou “reaganiano”. Prevaleceu um Estado que fazia concessões ao mercado, mas que jamais se resumiu as questões que advoga o liberalismo clássico. A intervenção estatal foi capaz de melhorar os índices educacionais, ampliar políticas sociais, modernizar setores da economia e vencer definitivamente a hiperinflação.

O PT também não é de direita. Discordo da extrema-esquerda que tenta tratar o partido como sendo uma espécie de “nova direita”. O Partido dos Trabalhadores fez uma guinada conservadora, saindo da social-democracia para o social-liberalismo. Repetindo o PSDB, deu liberdade aos mercados, privatizou e evitou reformas estruturais. Contudo, estendeu políticas sociais as camadas mais excluídas e manteve uma diplomacia soberana.

Uma análise rigorosa mostra, pelo menos no cenário eleitoral, a ausência de candidaturas de direita a presidência da República. Se a nossa transição democrática não foi capaz de criar as condições para um governo popular, também é verdade que impediu organização nacional de grupos de uma direita pura. Nossa democracia, regida pela avançada Carta Magna de 1988, sofre com desvios autoritários, mas segue se equilibrando dentro de uma legalidade que até certo ponto facilita a vida dos grupos subalternos na luta política e social. O Brasil hoje é imune a radicalizações. Nossa “ocidentalidade” não deixa espaços para extremismos, nem pela esquerda e nem pela direita.