Por Adelson Vidal Alves
No domingo, 1 de Setembro, o
programa Fantástico da rede Globo apresentou reportagem sobre um possível
esquema de corrupção envolvendo parlamentares no aluguel de veículos com uso de
recursos públicos. Segundo denúncias, 21 deputados estariam usando empresas de
fachadas na execução dos serviços. O caso já está sob investigação dos órgãos competentes.
Pois bem, a matéria do programa
causou espanto entre os telespectadores. Não só por conta da possível
comprovação de mais um caso de corrupção via agentes públicos, infelizmente,
abundante nos noticiários nacionais. Mas, principalmente, por conta da forma
como tudo foi visto pelo olhar de um dos parlamentares: Jorge de Oliveira, o
Zoinho (PR). O deputado fez duas declarações lamentáveis. Na primeira ele é enfático:
“Dizer para você que eu sou 100%
honesto... 100% honesto só Jesus Cristo”
para depois complementar "Santo
em Brasília, não existe. Da fronteira do Distrito Federal com os outros
estados, eles não entram". Ao invocar Jesus Cristo como o único 100%
honesto, Zoinho atribui a honestidade total como sendo de atributo exclusivo
dos seres divinizados, para depois frisar que em Brasília todos os deputados
cometem desvios de condutas. A repercussão das infelizes declarações causou uma
debandada de seus apoiadores e eleitores, mas teve ainda quem tratasse o
assunto como “tempestade em copo d’água”. Para muitos, Jorge de Oliveira foi “sincero”
em suas colocações. Nem mesmo o guru de Zoinho chegou a tanto. O deputado Anthony
Garotinho lamentou em plenária a generalização feita pelo parlamentar.
O fato, porém, é que Zoinho
tratou o câncer da corrupção como sendo algo inerente a natureza humana e
social. Estaríamos todos reféns de um “fatalismo” que levaria inevitavelmente o
conjunto da humanidade ao desvio ético. A afirmação partiu de quem menos
poderia fazê-la, ou seja, um representante público, eleito pelo povo.
Sabemos que a corrupção tem
raízes sociais. Ela se sustenta em meio a um sistema político-eleitoral que
permite a interferência do poder econômico nos mandatos e candidaturas, que oferece
benesses excessivas a deputados,
vereadores, prefeitos e presidentes. Que faz do posto de serviço público uma
fonte inesgotável de poder. O que faz da picada da mosca azul um risco
constante. Contudo, não significa que todos os que assumam postos de
representação sejam obrigados a se corromper e que estejam sob o determinismo
de praticarem atos ilícitos. As afirmações de Zoinho prestam terrível desserviço
pedagógico, difundindo ao senso comum o trágico sentimento que ninguém escapa a
corrupção. De que adiantaria combatê-la se ela estaria no DNA dos indivíduos e
das instituições? É essa a mensagem que passa o parlamentar.
Em tempos onde as multidões se
lançam ás ruas cobrando transparência pública, mirando as instituições como
principais responsáveis pela roubalheira do patrimônio público, Zoinho só vem a
reforçar a alienação política e o preconceito contra os pilares da democracia
representativa. Suas palavras, em rede nacional, enfraqueceram ainda mais os órgãos
institucionais que sustentam nossa democracia. Em poucas palavras, Jorge de
Oliveira conseguiu expor a todo o Brasil a desalentadora notícia de que a
corrupção é algo que não tem fim, afinal, todos de certa forma seriam desonestos. Triste
!
"Nós vos pedimos com insistência:
ResponderExcluirNunca digam: -Isso é natural!
Diante dos acontecimentos de cada dia.
Numa época em que reina a confusão.
Em que corre sangue.
Em que o arbitrário tem força de lei.
Em que a humanidade se desumaniza...
Não digam nunca: -Isso é natural!
A fim de que nada passe por ser imutável."
Bertold Brecht