quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Independência do Brasil

Por Adelson Vidal Alves


Em 1808 desembarcava no Brasil cerca de 15 mil pessoas, entre elas conselheiros, ministros e burocratas em geral, que acompanhavam a família real portuguesa, esta em fuga das guerras napoleônicas da Europa. Instaladas no Brasil, modificaram significativamente nossa pacata realidade urbana, deslocando o eixo administrativo da metrópole para o Rio de Janeiro. Dava-se inicio nosso processo de independência.

A permanência da corte portuguesa no Brasil se deu até 1821, quando Dom João foi obrigado a voltar a Portugal, logo após uma revolução liberal ocorrida em 1820 no país. O liberalismo da chamada "Revolução do Porto" limitava-se a sua oposição ao absolutismo, pois em relação a suas colônias permanecia a idéia de retomá-las para seu controle. O Conselho Regente de Portugal convocou ainda o príncipe Pedro para retornar a metrópole, quando seu pai já havia acatado a decisão do Conselho, temendo perder o trono. Numa disputa que envolveu os interesses metropolitanos e do “Partido brasileiro”, Pedro decidiu pela permanência em 9 de Janeiro de 1822, no que ficou conhecido como o famoso “Fico”. Daí em diante as contradições de interesses dos atores envolvidos iria desembocar no conhecido grito às margens do Rio Ipiranga, em 7 de Setembro de 1822. Era nossa independência. Reconhecida pelos Estados Unidos só em 1824, e que enfrentou várias tentativas de desestabilização. As tropas em Salvador, por exemplo, só venceram definitivamente os portugueses em 2 de Julho de 1823, data ainda hoje comemorada por muitos baianos, comparável ao 7 de Setembro.

Nosso processo de independência tem sido interpretado por várias correntes historiográficas como sendo uma espécie de acordo entre as elites. E faz sentido. Basta o fato de toda sua direção ter tido na frente um herdeiro do trono português. A história brasileira é abundante em transições feitas pelo alto, com retirada do protagonismo popular. Não é verdade, entretanto, que em nossa independência não tenha havido lutas. Tomemos como exemplo a Inconfidência Mineira (1789) que nos legou um herói nacional (celebrado com feriado em 21 de abril), a Conjuração dos Alfaiates (1798) e a Revolução Pernambucana (1817).

O fato é que as pressões de baixo obrigam manobras das elites para que concessões sejam feitas, sem, no entanto, ferir os interesses de cima. A independência brasileira mudou as relações internacionais e administrativas, mas manteve intactos os problemas sociais, principalmente a escravidão, só abolida em 1988. Ponto importante a ser destacado, é que 1822 deu inicio a “transformações por cima” em vários momentos de nossa história, quase sempre tendo o Estado como núcleo diretivo. Explica-se assim, a permanência de elementos de uma cultura autoritária e até mesmo “estatolátrica” no imaginário brasileiro.

Quase dois séculos depois do grito de Dom Pedro I, o Brasil é outro. Rompeu dependências, ingressou no mundo globalizado, avançou em questões de autonomia econômica. Contudo, problemas centrais de nossa história permanecem tragicamente presentes. A pobreza, a desigualdade e a violência urbana, são fatores que podem produzir novos gritos de independência, desta vez não mais com sotaques imperiais, mas com legítima característica popular. O grito que nos tirará da vergonhosa situação de país mais desigual no continente mais desigual do mundo.

Neste 7 de setembro, em meio ao embalo das Jornadas de Junho, temos mais uma oportunidade de refletir novos rumos para nossa nação, que emancipe de vez não só o país, mas cada um dos cidadãos que aqui habitam e que todos os dias se sentem colônias pessoais da perversidade sistêmica.
           

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