quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Nada a comemorar



Por Adelson Vidal Alves

O julgamento da Ação Penal 470, conhecida como processo do mensalão ganhou mais alguns capítulos, depois do STF aceitar os chamados embargos infringentes, dispositivo regimental do Supremo Tribunal que dá direito a revisão processual pelo colegiado da alta corte em relação às penas dos acusados.

A decisão veio na contramão da opinião pública, e entra em choque com o espírito que levou milhões de pessoas ás ruas no mês de Junho, indignadas com a impunidade e a corrupção. Ainda que caibam debates no campo jurídico, o STF prestou indiscutível desserviço pedagógico, ao fortalecer a cultura de que, no Brasil, criminosos de colarinho branco não vão para a cadeia. Não só o Tribunal sai desmoralizado, mas a própria democracia republicana é colocada em xeque, e a confiança nas instituições fica ainda menor.

Mas em meio a isso tudo há quem comemore a decisão do STF. São petistas e simpatizantes do governo, que teimam advogar a bisonha tese de que o mensalão é tão somente invenção da “mídia golpista”. Para além dos traumas que tal decisão possa trazer a nação e a democracia brasileira, os petistas e seus pares deveriam refletir melhor sobre as conseqüências eleitorais que os caminhos da AP 470 podem trazer ao atual bloco no poder. Seria melhor para Dilma e o PT que o julgamento se encerrasse de vez, e deixasse o tempo minimizar os estragos morais que poderiam atingir o partido. Com o acontecimento, estende-se um tema que pode voltar à tona exatamente nas eleições de 2014. É possível que novas jornadas de Junho apareçam, e a sociedade se sinta provocada. E quem mais perde com isso? O PT.

O Planalto ainda precisa conviver com a debandada de alguns aliados e pressão de outros. O PMDB ameaça deixar o governo, e passa a cobrar mais espaços na possível reforma ministerial de Dezembro. O PSB já entregou seus cargos ao Planalto, deu o primeiro passo para a candidatura própria de Eduardo Campos, e pior, sai em rota de colisão com o PT. Os socialistas já pediram a seus antigos aliados que também deixem os governos estaduais governados por seu partido. Dilma perde um aliado de peso, um partido que cresce eleitoralmente, e que dava sustentação ao governo pela esquerda, tendo uma história respeitável como força política do socialismo democrático.

O governo ainda responde por denúncias de corrupção no Ministério do trabalho, sofre com o fracasso da política econômica, a volta da inflação, o fantasma do desemprego e os baixos níveis de crescimento econômico.

Definitivamente nada a comemorar. O partido que até pouco tempo dava como certa sua reeleição em primeiro turno, começa a ter que lidar com problemas sérios, que mal resolvidos podem custar seu posto maior no Estado brasileiro.

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