Por Adelson Vidal Alves
Há exatos 40 anos um golpe
militar interrompia a mais extraordinária experiência de tentativa de uma via
socialista pelos caminhos democráticos. O golpe militar de 11 de setembro de 1973
foi dado pelas elites chilenas com aberto apoio externo dos EUA, derrubando o
governo de Salvador Allende, eleito em 1970 a frente de uma coligação de esquerda
chamada Unidade Popular (UP).
Ao assumir a presidência do Chile,
Allende, um político de alta experiência na vida pública, inicia o que ficou
conhecida como “via chilena para o
socialismo”, introduzindo elementos socialistas na sociedade através de reformas
e estatizações. Ainda que deixando claro sua responsabilidade para com a ordem
constitucional, Allende foi visto com péssimos olhos pelos norte-americanos,
que tinham nele o risco de se implantar um regime socialista em território latino.
O ambiente era de paranoias, promovidas pela guerra fria.
Os 3 anos de governo da UP foram
capazes de fortalecer uma corrente de pensamento marxista que dispensa insurreições
revolucionárias na transição socialista. O exemplo chileno seria uma espécie de
precursor do eurocomunismo, que teve no Partido Comunista Italiano sua maior
expressão. Os eurocomunistas defendiam a chegada ao comunismo em respeito às
regras democráticas.
O socialismo democrático de
Allende trouxe grandes lições para a esquerda democrática moderna. Se por um
lado confirmou a correta opção de se traçar os rumos revolucionários pela via
institucional, dispensando assaltos ao poder, por outro lado demonstrou que tal
caminho exige cuidados, já que as classes dominantes estão prontas para quebrar
as regras do jogo quando veem seus privilégios ameaçados. A guerra de posição
travada pelo governo da UP se deu em meio não só a um contexto geopolítico
desfavorável, mas também pelo limitado acúmulo de forças que conseguiu
internamente, sem falar nas próprias contradições apresentadas pelo bloco
político no poder.
Salvador Allende foi eleito sem
maioria dos votos, precisando ainda de fazer articulações no parlamento. Ainda
sim teve a coragem de assumir projetos que combatiam de frente a lógica do
capital. Sua derrota está longe de significar o fracasso das correntes que
defendem o caminho democrático para o socialismo. Pelo contrário, ela só veio
confirmar o que a realidade contemporânea apresenta com abundância: a
democracia é o valor universal sob o qual se erguerá uma nova ordem social.
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