Por Adelson Vidal Alves
A
mobilização em torno da criação de um novo partido, encabeçada pela ex-senadora
Marina Silva, vem ganhando uma força até certo ponto surpreendente. O interesse
parte de todos os setores, particularmente os desiludidos com a pobre polarização
plebiscitária que se tornou a disputa do poder central do país desde a eleição
de FHC, em 1994. Dois blocos políticos, liderados por um lado pelo PSDB e de
outro pelo PT, norteiam a vida política do país, impondo a nós, aos moldes
americanos, duas opções que no fim se confundem na prática da governança.
Ainda
que não única, Marina Silva parece assumir o papel de desagregadora deste
formato autoritário de nossa disputa política. Eduardo Campos e Aécio Neves
aparecem como alternativas democráticas ao atual bloco de poder, mas suas
ligações com o atual quadro nacional os afastam deste novo perfil eleitoral do
povo brasileiro, que se situa entre as classes médias tradicionais,
trabalhadores urbanos, juventude e os movimentos de minoria. Todos sedentos por
mudanças radicais no movimento letárgico que caracteriza ultimamente nosso
processo eleitoral.
Mas
voltando ao partido de Marina, a REDE, penso que devemos no mínimo olhar com
carinho suas articulações. Ainda que não possamos colocar a “mão no fogo” por
possíveis degenerações burocráticas, resta-nos o “otimismo da vontade” para
rejeitar o conformismo e acreditar na possibilidade de uma nova ferramenta de
luta moderna.
A REDE
tem a proposta ousada de se conectar as condições atuais de organização social,
centradas em comunicação rápida, expansão da internet e suas redes sociais,
novos organismos voluntários de atuação política, horizontalizados e plurais, e
até mesmo no surgimento de sujeitos sociais que desconsideram as antigas
contradições baseadas exclusivamente na classe, típica do marxismo ortodoxo.
O
aparecimento de novas formas de identidade, somada a nova organização em rede*,
produziu a maioria dos movimentos de resistência a crise capitalista, iniciada
em 2008. E não só isso. O mundo árabe, os estudantes do Chile e o Ocupa Wall
Street, são todos frutos desta realidade contemporânea, que não só dispensa os
sindicatos tradicionais e os partidos políticos, como os rejeita criticamente.
No que diz respeito a mobilizações, são todos um sucesso, seja pelo número e
intensidade de pessoas que envolvem, seja pela forma horizontalizada e
democrática que atuam.
A REDE,
caso obtenha êxito, pode responder esta nova realidade, e ainda superar tais
ações de resistência com um projeto universal de poder. É fato que os
movimentos citados lograram vitórias no campo da defensiva, mas não conseguiram
evoluir para uma alternativa de poder, exatamente por rejeitarem uma direção
política mais clara e homogênea, indispensável para a construção de uma nova
hegemonia.
O
partido de Marina consegue ainda obter sensibilidade quanto a bandeiras globais
e unificadoras. No que diz respeito à sustentabilidade, ponto inegociável do
novo partido, a legenda absorve segmentos de todos os lados, preocupados com
razão com o destino do planeta. O modo de produção capitalista e sua dinâmica
de consumo não deixam outro destino a terra senão a extinção dos humanos, e
grande parte da biosfera. Construir um novo padrão ético de consumo, alinhado
na prática a reformas sociais profundas e modernas, está no centro do programa
da REDE, que chega a nós na forma de esperança e renovação para nosso caduco modelo
eleitoral. Não custa nada dar um voto de confiança.
* Sugiro leitura de Manuel Castells, um dos principais teóricos da sociedade em rede.
* Sugiro leitura de Manuel Castells, um dos principais teóricos da sociedade em rede.
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