Por Adelson Vidal Alves
Dois judeus, um da palestina do século
I e o outro da Europa do século XIX, ainda tem seus legados teóricos e de vida
muito vivos em nossos dias. O primeiro, Jesus de Nazaré, foi assassinado como condenado
político, resultado de sua atuação contra o poder estabelecido, tanto religioso
como secular. O segundo, Karl Marx, viveu como intelectual e teórico de uma
nova sociedade, pelo qual se empenhou com fortes críticas ao sistema dominante.
Jesus, segundo relato dos evangelhos,
colocou como condição de ser seu discípulo a opção preferencial pelos
excluídos, tomados como portadores especiais da mensagem divina. Defendeu ainda
a construção de uma nova ordem social, que chamou de Reino de Deus, no qual a solidariedade,
justiça e fraternidade fossem o centro de seu núcleo civilizatório.
Karl Marx também defendeu uma nova
organização social, que chamou de comunismo. Nela os elementos que emperram
nossa plena humanização seriam abolidos, tais como a alienação, a propriedade
privada dos meios de produção e a exploração do homem pelo homem. O alemão
desenvolveu uma sofisticada teoria política, que elegeu os trabalhadores como
sujeito revolucionário do sistema, inclusive com o emprego da violência. Jesus
se ocupou de uma mensagem de libertação, que apelava às consciências a
transformação radical da sociedade. Concentrou-se num discurso ético contra a
exploração da vida social.
Jesus era um típico judeu, um
religioso. Marx era ateu materialista. Ambos, contudo, compartilhavam a utopia
de uma sociedade que partilhasse os bens produzidos. Se o comunista alemão
produziu uma refinada teoria de produção e apropriação socializadas dos bens
produzidos, o nazareno usou da metáfora da ceia e da multiplicação dos pães
para denunciar um mundo que furtava de grande parte de seus habitantes o
direito mais básico de um ser humano: o de comer. A Santa ceia simboliza a
partilha dos alimentos, e a multiplicação dos pães a tomada de iniciativa para
fazer com que a justiça seja feita aos famintos da terra.
Jesus e Marx guardam ainda o discurso
forte contra os ricos. O primeiro chega a afirmar “ai dos ricos” (Lc 6-24) uma
expressão de condenação veemente usada pelos profetas da época, enquanto Marx
desvenda minuciosamente o processo de enriquecimento da burguesia em exploração
aos trabalhadores, consolidada na famosa teoria da “mais valia”.
Karl Marx e Jesus “O Cristo” guardam,
obviamente, diferenças históricas. Mas não podemos negar que entre eles há
convergências utópicas quanto ao sonho de uma nova sociedade. Para se ter uma
idéia, seus discípulos autênticos assumiram frentes comuns na luta contra a
injustiça, que o diga as resistências às ditaduras, a revolução sandinista na
Nicarágua e as fantásticas CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) fruto da
teologia da libertação da América Latina, no qual Marx cumpre importante papel
de análise da realidade.
Para terminar, não podemos deixar de
identificar seus falsos discípulos. Os cristãos que condenam o marxismo por
esse ser ateu, esquecendo-se que para Jesus é a prática que determina seu
discipulado (Mt 25, 31-46) , e também os comunistas, que no poder em alguns
países, proibiram o culto religioso, argumentando ser este “ópio do povo”. Nesses casos, o dogmatismo impediu que se veja
a verdadeira essência das duas doutrinas, ambas humanistas e libertadoras.
Até que enfim alguém escreveu um texto tão importante a respeito do que há de comum entre esses dois importantes personagens da história da humanidade.
ResponderExcluirParabéns !!