sexta-feira, 8 de março de 2013

Esquerda e Governo



Por Adelson Vidal Alves

As profundas transformações sociais no mundo moderno, que “ocidentalizaram” a maior parte de nossas sociedades, colocam para a esquerda não só o desafio de se buscar novas estratégias de luta pelo poder, mas principalmente desafia sua vocação histórica para a prática de governo.

No Brasil, com a chegada do PT a presidência da República em 2002 e sua rápida capitulação pelo statuos quo, levou muitos a constatação de que a esquerda no governo absorve fatalmente os vícios do poder, rejeitando todo seu programa original. Fortalece-se a tese de que o jogo eleitoral da “democracia burguesa” só serve para administrar os interesses dos grupos dominantes. Não é a toa que a extrema - esquerda usa dos recursos eleitorais com fins únicos de propaganda, concentrando suas forças numa tomada do poder de assalto, quando enfim as massas trabalhadoras se livrarem do julgo da alienação e abraçarem com entrega ao processo revolucionário.

Contudo, a história se movimentou para além da simplificação classista que moveu a esquerda socialista e comunista dos séculos XIX e XX. A diversidade pelo qual se repousa os conflitos contemporâneos abriu novas contradições, onde as classes sociais não dão conta de se sobrepor. O Estado moderno já não pertence aos interesses exclusivos de uma classe, e a democracia superou os interesses absolutos de um grupo dominante, vindo a se consagrar como valor universal. Uma conquista civilizatória, movida, sobretudo, pelas classes de baixo.

As condições de um governo de esquerda na atualidade não devem se pautar pela “independência de classe”, tão aclamada pelos trotskistas. Devem, acima de tudo, serem respaldadas por uma capacidade criteriosa de se fazer alianças, que não pode se resumir ao mundo do trabalho, mas se estender a aliados pontuais que sejam capazes de movimentar políticas e reformas que se orientem para o fortalecimento da democracia e seu Estado direito, terreno exclusivo pelo qual os elementos civilizatórios devem emergir.

A esquerda democrática tem a tarefa natural de saber negociar. De caminhar pelas instituições democráticas (que não se adjetivam pelo rótulo de classe), e aprofundar alterações estruturais na sociedade, com o objetivo de botar forte os alicerces da democracia política.

O blefe de revoluções na esquina e de acirramentos classistas, só faz a esquerda se afastar de suas bases históricas, fazendo-se doutrinadoras eclesiais, longe da realidade concreta que expõe de forma sólida a vitória da democracia sobre os golpes de Estado, mesmo vindo daqueles que advogam as causas populares.

O bolchevismo passou, e só mesmo uma esquerda democrática com afinamentos de governo pode ser capaz de avançar a sociedade para organizações mais humanas e solidárias, que em funcionamento, patrocinem a integração social e a democratização da operação institucional da política.

Um comentário:

  1. Nada de novo. é a velha democracia como direito universal de C. N. Coutinho que deu no que deu. Acreditam que podem comer belas beiradas. Acham que enganam a burguesia e acabam enganando os trabalhadores.

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