Por Adelson Vidal Alves
A democracia de partidos que
vigora em nosso país contabiliza mais de 30 legendas partidárias no TSE, sem
falar em outras que permanecem em processo de construção. A consagração da
pluralidade partidária, típica de democracias avançadas como a nossa, mostra a
diversidade de organização política nos tempos modernos, que expõe uma
realidade complexa que supera a simplificada divisão de classes dos séculos
passados.
O mundo contemporâneo é
globalizado, com profundas metamorfoses no mundo do trabalho, com questões pulsantes
de gênero e insistentes construções de identidades a partir da “raça”. Organizar
uma direção política que universalize as atuais demandas setoriais permanece, a
meu ver, como papel do partido político, ainda que este, em abundância no
Brasil, enfrente não só crises éticas, mas também ideológicas. Dos mais de 30
já citados, pouquíssimos guardam algum vínculo ideológico, ou mesmo representam
frações sociais na luta por seus direitos. São, na verdade, ferramentas de
revezamento do poder, parte de uma engrenagem que não põe em cheque os
conflitos da nação, antes servem aos interesses corporativos de pequenos
segmentos dominantes.
Repensar novos partidos
pressupõe repensar partidos novos, que não só frisem a necessidade de novas
práticas políticas, mais éticas e engajadas, mas que, sobretudo, seja capaz de
captar todas as novas formas de expressão do ser social. Faz-se necessário um
compromisso inegociável com a democracia política, seja “para fora” ou “para
dentro”, isto é, que esteja em sintonia com vida do poder público estatal, mas
que mantenha formas democráticas de ordenamento interno. Seria anacrônico
insistir em “centralismos democráticos”, que serviram para uma época de extrema
restrição as liberdades, mas hoje se mostram envelhecidos. Um novo partido deve respeitar
a existência de minorias internas, se resolver a partir de uma insistente busca
de consenso, flexibilizar a expressão pública das idéias de seus membros,
horizontalizar ao máximo suas ações e dar voz protagonista aos militantes de
base
Não devemos desconsiderar que o
surgimento de legendas com perfis democraticamente refinados não depende apenas
da boa vontade de meia dúzia de ideólogos, deve acima de qualquer coisa ter
respaldo material da realidade concreta. Para ser mais preciso, seu êxito
dialético entre o esforço subjetivo e as condições da objetividade.
O Brasil vive hoje uma letargia
política, causada pela absorção de parte importante de nossa jovem sociedade civil
para o bloco do poder. Somam-se ainda as heranças culturais de uma construção
histórica que deu forças ao Estado em contraponto aos organismos das vontades
coletivas da sociedade civil. Desta forma, a identificação de bandeiras e
projetos antenados com as demandas atuais é ponto de aglutinação para que o
amplo leque de novos atores sociais possam se reanimar para uma disputa mais
ampla da sociedade, ou seja, a disputa pelo poder transformador, pela
construção de uma nova ordem hegemônica.