Por Adelson Vidal Alves
Em 2014, depois de um amplo debate, o Plano Nacional de
Educação, em sua primeira versão, apontava diretrizes para se levar à escola o
importante debate sobre a diversidade sexual. Ao ser aprovado, no entanto, ele
deixou os estados e municípios à vontade para adotar ou não esta prática. Em
2015, com os debates sobre o PME (Plano Municipal de Educação) os municípios
voltaram ao tema, e em Volta Redonda, os educadores e interessados neste debate
foram surpreendidos por uma ação autoritária e obscura do vereador Paulo
Conrado (PSD), que aprovou uma lei proibindo o ensino nas escolas daquilo que
ficou conhecido como “Ideologia de Gênero”.
Conrado recebeu apoio integral do bispo católico Francisco
Biasin, que criticou a possibilidade de “liberdade absoluta” das escolhas
sexuais, assim como a destruição da família tradicional. Neste caso, um bispo
católico e um porta voz político dos setores mais retrógrados do protestantismo
neopentecostal uniram forças.
A questão, no entanto, foi profundamente distorcida por
Conrado, pela Câmara dos vereadores e pela Igreja Católica, que aprovaram e
apoiaram o projeto de lei. A justificativa parte da premissa falsa de que o
objetivo é doutrinar crianças, inclusive com o incentivo da prática
homossexual. Ora, ninguém acorda num dia de sol e escolhe ser gay, enfrentar
todo o preconceito da família e da sociedade. A construção da identidade sexual
vem de dentro para fora, e quase sempre recebe resistência do individuo, que
enfrenta contradições internas frente ao seio social que vive. Quando assume
sua homossexualidade, não o faz como se escolhe uma escola de samba ou time de
futebol, tão somente afirma sua natureza.
A Igreja parte do princípio de que Deus fez homens e
mulheres, com papeis estáticos e até hierárquicos. Ignora um mundo ao seu redor
que pena a intolerância de seus dogmas, sofrendo a demonização de determinadas orientações sexuais. A orientação educacional de se discutir questões de gênero
nas salas de aula não pretende produzir gays, isso é estupidez e ignorância
pura. O objetivo central é incentivar nos adolescentes e jovens o sentimento
que vivem em uma sociedade diversificada, e que é preciso tolerar as
diferenças, respeitar realidades que muitas vezes lhes parecem estranhas. Não é
nada mais que a tentativa de usar a escola para fins de civilização, no mais
alto respeito a democracia.
O vereador Paulo Conrado, contudo, deu voz ao atraso, ao
autoritarismo de não ouvir quem está envolvido no tema, ou seja, os educadores.
Na ambição de transferir sua fé para a esfera pública, violou os principio
republicano de um Estado laico. Um enorme retrocesso na vida institucional de
nossa cidade.
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