Por Adelson Vidal Alves
O Brasil conhece, desde a fundação da Carta constitucional
de 1988, um processo sólido e robusto de redemocratização, que fez a travessia
correta até um Estado democrático de direito capaz de resolver os conflitos
contemporâneos sem que sejam promovidas guerras abertas e violentas. Isto nos
diferencia de nossos vizinhos venezuelanos e argentinos, que penam ainda hoje a
violação cotidiana da paz por lutas sociais que se esquivam da
institucionalidade democrática.
A realidade brasileira, no entanto, não nos protege
totalmente de desvios autoritários, nem garante uma discussão permanente,
pacífica e tolerante de todos os dramas que nos cercam. Em tempos de ascensão à
arena política de grupos excluídos, até então praticamente invisíveis, os
ânimos se acirram, exatamente por que conservadores e os que agora chegam
exigindo lugar ao sol não conseguem se comportar com a devida obediência às
regras cívicas conquistadas a duras penas ao longo de anos.
Exemplo emblemático e recente é a polêmica envolvendo o
transexual na cruz da parada gay. Sabemos que o movimento LGBT, em sua direção,
tem enormes dificuldades em acatar a democracia como terreno exclusivo da luta
por cidadania. Pelo contrário, sua tática sempre foi a do escândalo, do choque
e da ofensiva. Quem não se lembra daqueles gays que introduziram símbolos
religiosos no ânus? Nos tantos beijaços homossexuais feitos em frente de igrejas
e até mesmo do papa? Aqui não há luta por cidadania, há deboche, agressão,
provocação. O resultado não será ampliação de direitos, mas sim ainda mais ódio
e segregação.
O episódio da trans crucificada é justificado como sendo
arte. Ora, desde quando a arte tem licença para agredir a fé alheia?
Concordemos ou não, a cruz é símbolo histórico de uma religião que, com todo
direito, considera blasfêmia seu uso sensualizado por um homossexual. Sabendo
disso, porque então colocar mais lenha na fogueira? Para que estimular ódio,
agressividade, constrangimentos? Ganhará a comunidade gay com isso?
A esquerda brasileira em sua maioria saiu em defesa da
trans, simplesmente porque no seu pensamento mecânico há de sempre se defender
o oprimido, mesmo quando seus recursos de luta ferem conquistas da modernidade.
Mas os progressistas democráticos sabem que o que deve se defender é a
democracia em primeiro lugar, sabendo que qualquer avanço fora dela é risco
para o processo civilizatório.
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