Por Adelson Vidal Alves
O fim da URSS significou o esgotamento de certo modelo de
comunismo, inaugurado pela revolução russa de 1917. Tal modelo, fundado numa leitura particular e
autoritária de Marx, contaminou grande parte do comunismo internacional,
universalizando formatos de partidos marcados pela centralização de decisões em
pequenas cúpulas burocratizadas. Partindo desta concepção partidária, os países
que aderiram ao chamado socialismo real, reproduziram na esfera estatal alta dose
de ditadura, a principio nomeada de “ditadura do proletariado”, mas que no fim
fundia partido e Estado, promovendo governos profundamente autocráticos.
E foi exatamente o desprezo pela democracia política que fez
desmoronar toda esta experiência, persistente, porém, sempre cambaleante. A
queda do muro de Berlim e a derrocada final da União Soviética aplicaram um
duro golpe no marxismo, mesmo que o verdadeiro atingido tenha sido a versão
distorcida deste. Com isso, as alternativas que se apresentavam oscilaram entre
a recusa da revisão e a abertura para um debate que modernizasse o movimento
comunista.
Hoje, sobretudo na Europa, abre-se um campo político de
esquerda, oriundo do velho comunismo, mas conectado com a complexidade do mundo
contemporâneo, ciente das novidades apresentadas por um universo cultural,
econômico e social fortemente globalizado. O eixo de tais partidos já não é
mais a velha aliança simplista operário e camponês, simbolizada na cruz e o
martelo do comunismo histórico. No centro das preocupações está a democracia,
vista como valor universal, a ser difundida e ampliada como conquista cívica, e
não de uma classe apenas.
A esquerda pós-comunista, então, deve observar a
movimentação da política e agir nela de forma plural, diversificada e nos
limites do Estado de direito. Sua estratégia consiste na busca gradual de
consensos, em alianças pacientes entre forças democráticas, sem sectarismos ou
classismos. Deve se comprometer com um programa democrático, alicerçado no
paradigma do reformismo, sem qualquer ilusão com rupturas abruptas no sistema.
Pode e deve ser anti-capitalista, mas jamais teleológica, isto é, não deve
construir projetos finais, nem estabelecer horizontes estáticos e prontos para
a sua utopia. Uma esquerda pós-comunista é o que espera de uma verdadeira
renovação dentro da esquerda, capaz de atender o mundo atual e toda sua
pluralidade.
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