sexta-feira, 26 de junho de 2015

Por uma esquerda pós-comunista

Por Adelson Vidal Alves


O fim da URSS significou o esgotamento de certo modelo de comunismo, inaugurado pela revolução russa de 1917.  Tal modelo, fundado numa leitura particular e autoritária de Marx, contaminou grande parte do comunismo internacional, universalizando formatos de partidos marcados pela centralização de decisões em pequenas cúpulas burocratizadas. Partindo desta concepção partidária, os países que aderiram ao chamado socialismo real, reproduziram na esfera estatal alta dose de ditadura, a principio nomeada de “ditadura do proletariado”, mas que no fim fundia partido e Estado, promovendo governos profundamente autocráticos.

E foi exatamente o desprezo pela democracia política que fez desmoronar toda esta experiência, persistente, porém, sempre cambaleante. A queda do muro de Berlim e a derrocada final da União Soviética aplicaram um duro golpe no marxismo, mesmo que o verdadeiro atingido tenha sido a versão distorcida deste. Com isso, as alternativas que se apresentavam oscilaram entre a recusa da revisão e a abertura para um debate que modernizasse o movimento comunista.

Hoje, sobretudo na Europa, abre-se um campo político de esquerda, oriundo do velho comunismo, mas conectado com a complexidade do mundo contemporâneo, ciente das novidades apresentadas por um universo cultural, econômico e social fortemente globalizado. O eixo de tais partidos já não é mais a velha aliança simplista operário e camponês, simbolizada na cruz e o martelo do comunismo histórico. No centro das preocupações está a democracia, vista como valor universal, a ser difundida e ampliada como conquista cívica, e não de uma classe apenas.

A esquerda pós-comunista, então, deve observar a movimentação da política e agir nela de forma plural, diversificada e nos limites do Estado de direito. Sua estratégia consiste na busca gradual de consensos, em alianças pacientes entre forças democráticas, sem sectarismos ou classismos. Deve se comprometer com um programa democrático, alicerçado no paradigma do reformismo, sem qualquer ilusão com rupturas abruptas no sistema. Pode e deve ser anti-capitalista, mas jamais teleológica, isto é, não deve construir projetos finais, nem estabelecer horizontes estáticos e prontos para a sua utopia. Uma esquerda pós-comunista é o que espera de uma verdadeira renovação dentro da esquerda, capaz de atender o mundo atual e toda sua pluralidade.


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