Por Adelson Vidal Alves
Passada a tempestade eleitoral,
que sob o marketing governista repartiu o Brasil por critérios de classe, como
se Dilma falasse pelos pobres e Aécio pelos ricos, a presidente reeleita fica a
vontade para montar seu novo governo. Pressionada pelo crescimento da oposição
e do encolhimento de seu partido e dos aliados mais fiéis, o Planalto se
articula para buscar governabilidade. E a se julgar pelas primeiras movimentações,
Dilma irá buscar apoio exatamente a quem mais criticou: a tão falada “elite”.
Sim, pois as pastas da
Agricultura e da Fazenda serão entregues a intelectuais orgânicos do
agronegócio e do sistema financeiro. Kátia Abreu e Joaquim Levy,
respectivamente. Este último é pupilo de Armínio Fraga, aliado de Aécio e
possível Ministro da Fazenda caso o tucano vencesse. Ambos tem a simpatia do
mercado e falam por um modelo de Estado
enxuto, ao gosto do neoliberalismo.
As mudanças que Dilma prometeu pelo
slogan “Governo novo, ideias novas” parece ter sido apenas mais uma manobra de
eleição, com vista a evitar perdas maiores em um eleitorado que mostrava desejo
por mudanças. Dilma não venceu por méritos de seu governo, nem por convencer
que sua candidatura era a melhor. Teve que se equilibrar em perfis que não era
dela, denegrir adversários, fantasiar passados assombrosos, caluniar, difamar e
instalar um clima de terror, a fim de formar a impressão de que seria melhor
manter tudo como estava do que arriscar outros caminhos.
Venceu por pouco, e viu sua
estratégia, antes infalível no duelo petistas x tucanos, mostrar esgotamento, e
assistiu as oposições encorparem com qualidade, absorvendo para dentro dela
setores democráticos e progressistas, com o qual terá que duelar no campo das
ideias nos próximos quatro anos.
Salvo os sindicatos e movimentos
sociais cooptados, é possível que a manutenção da atual direção do governo
afaste dele grupos mais à esquerda, o que o obrigará a procurar ainda mais
abrigo nos setores conservadores e fisiológicos da política e da sociedade.
Oportunidade para que a oposição apresente, desde já, alternativas para a
governança, mostrando que a opção de Dilma por manter a mesma concepção
agrícola e econômica da direita é o sinal incontestável que se esgotou como
polo progressista de governo. Desta vez, tudo indica que a capitulação do PT
será a maior de sua história no poder.
O novo governo velho, com suas
formulas envelhecidas, promete modificar o quadro da correlação de forças e da
luta de classes no Brasil, assim como redefinir o PT, de uma vez por todas
abandonando o pouco que lhe restava de suas utopias de origem.