Enquanto escrevo, não há provas
irrefutáveis de que o tiro que matou o dançarino DG tenha partido da Polícia.
Pesa contra a instituição o histórico de truculência e as notas públicas
confusas emitidas sobre o caso. Motivo pelo qual há quem não tenha dúvida que o
assassinato de DG foi mesmo produto de ação policial. Mas por prudência e
cautela, resta esperar as investigações para fazer uma afirmação tão séria.
No entanto, o caso ganhou um
novo capítulo neste último domingo, 27 de Abril, não necessariamente com
novidades técnicas. O programa “Esquenta” deste dia, apresentado por Regina
Casé, foi inteiro de homenagem ao dançarino, que trabalhava no programa. Não vi
nenhuma referência direta à Polícia, apenas dados que comprovam os altos
índices de violência no Brasil, no qual as principais vítimas são os pobres. Com
o tom dramático, bem conhecido das TVs abertas, o programa alcançou picos de
audiência, e sensibilizou parte significativa dos telespectadores. Um programa dominical
em horário de almoço (quando a família toda está reunida) quando se dispõe a
falar de um tema, detém enorme poder de influência. Com isso, acende-se ainda
mais o caso da morte do dançarino que, em tempos de Copa, ganhará sem dúvida
prioridade dos órgãos de investigação.
Tudo isso irritou uma parcela
da sociedade. Principalmente policiais e seus parentes. As redes sociais da
segunda feira acordaram cheias de imagens que buscavam aproximar a vítima ao mundo
crime, e de quebra, justificar a morte. Nenhuma das imagens (uma delas com DG
usando Fuzil) foi dada como autêntica, é bem provável que tenham sido montagens,
mas mesmo comprovada sua veracidade, nos preocupa que o assassinato de alguém
pelas mãos do Estado (caso se comprove) seja tratado como compreensível.
A Polícia militarizada não olha
a favela como uma comunidade de cidadãos, mas um lugar de alto potencial
delinquente. O inimigo a ser batido pode ser qualquer um deles, que quando não
são traficantes, seriam seus apoiadores. Simplificação grosseira. A maior parte
da favela sofre tanto com o tráfico quanto com os excessos da Polícia, e agora
também com as milícias. Se a forma de vencer o crime seja abrir guerra contra
uma população inteira, excluída socialmente, o preço será muito alto.
Uma sociedade de alto grau
civilizatório, como testemunha nossas instituições, não pode aceitar que
políticas de segurança pública sejam banhadas de sangue, que mesmo criminosos
sejam julgados pelo cano de um fuzil. Temos uma Constituição, um Código Penal,
tribunais que tem funções de julgamento legal, e nenhum destes permite a pena
de morte.
É bom, também, não
generalizarmos. Nem todo policial é corrupto, nem todo militar mata. Se os
desvios acontecem, e são muitos, devemos julgar com rigor, sem condenar previamente,
o que também feriria o espírito do Estado democrático de direito.
Vamos aguardar os resultados da
investigação. Manter o equilíbrio para não incentivarmos maniqueísmos. Dividir
a sociedade neste momento seria colocar ainda mais fogo nos conflitos que
seguem acontecendo. Sabemos todos que neste caso, quem pagaria caro é a parte
mais fraca, isto é, os pobres e favelados.
Concordo plenamente, temos que ter bom censo e não inflar a ira e a revolta, principalmente pelo momento atual que estamos passando.
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