Junho de 2013 levou às ruas do
Brasil milhões de brasileiros, descontentes com os serviços do Estado e com a
política em geral. Não à toa os partidos políticos foram hostilizados nas
manifestações que aconteciam. Havia no ar uma desilusão com a política e suas
instituições, vistas como arcaicas, corruptas e ineficientes.
O desapreço pela política
institucional logo se mostrou em pesquisas eleitorais, realizadas pouco tempo
depois das manifestações. Viu-se nelas o aumento das intenções de votos nulos e
brancos, assim como o desmoronamento da maioria dos governantes, muitos deles
até hoje não se recuperaram. Razão pelo qual é de bom grado atentarmos para a
influência que o espírito de Junho pode ainda exercer no pleito de outubro. A
desilusão com a política, expressa em muitos cartazes dos protestos, apresenta
pelo menos três possíveis consequências eleitorais:
A primeira mostra uma chance
para as oposições. Em tempos de desilusão, ser situação é ficar no olho do
furacão, é ser alvo preferencial da fúria. Momentos como esse oferecem
possibilidades para o aparecimento do novo, para a renovação. Mas no caso
atual, pelo menos no que diz respeito a corrida presidencial, a oposição não
vem conseguindo se apresentar como novidade. Se a candidata do governo está em
queda, não há entre seus adversários nenhum crescimento significativo.
Conseguirão eles, num curto prazo de tempo, apresentar ao país um projeto
convincente capaz de canalizar a insatisfação do eleitorado?
A segunda possibilidade tem a
ver com a abstenção eleitoral. Temos números que mostram o aumento de pessoas
que se recusam a escolher um candidato, tratando todos como iguais. É possível,
assim, que votos nulos e brancos ganhem grande quantidade, o que para
democracia seria ruim, haja vista que o poder constituído deixaria de ter o
carimbo de milhões de cidadãos.
A terceira talvez seja a mais
grave. Com a desilusão coletiva, há quem resolva fazer da política, instrumento
de ação para o bem coletivo, uma ferramenta para ganhos pessoais. É ai que entra
o poder econômico, oferecendo dentaduras, cestas básicas e sacos de cimento.
Como o eleitor desiludido trata todos como iguais, vender seu voto seria a
melhor forma de não se perder tanto numa eleição que se repete todos os anos
sem nada mudar.
O fato é que as eleições de
2014, coladas com a Copa do Mundo, podem apresentar resultados surpreendentes,
seja pela mudança qualitativa ou pela desistência quantitativa. De certo, temos
a certeza de que quando a política fracassa, fecha-se o canal principal para
resoluções cívicas dos problemas de nossa sociedade contemporânea. Caso a
política perca o papel mediador no processo de mudanças que exige a sociedade,
corremos o risco de abrir frentes violentas e autoritárias de luta. Nesse caso,
estaríamos promovendo um terrível retrocesso.
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