quarta-feira, 23 de abril de 2014

Sobre petistas e tucanos

Por Adelson Vidal Alves



O PT se prepara para mais uma eleição. Não, não há grandes novidades. A estratégia eleitoral do partido, montada em grandes agências publicitárias, incentivará o discurso da polarização, e trabalhará na apologia que apresenta o risco de retrocesso brasileiro aos anos “obscuros” do PSDB no poder. Tese delirante, haja vista que o Brasil não viveu anos de trevas sob os governos tucanos, pelo contrário, foi sob a direção de FHC que o país consolidou sua institucionalidade democrática e venceu a hiperinflação. Se Lula e Dilma surfaram em mares tranquilos, agradeça as reformas econômicas que os antecederam.

Os petistas também voltarão à velha denúncia de que os adversários seriam todos neoliberais, enquanto eles, desenvolvimentistas. Quem se lembra da “Carta ao Povo brasileiro”, assinado por Lula em Julho de 2002, e que antecedeu a nomeação de Henrique Meirelles, representante das elites financeiras, para o Banco Central, sabe muito bem que o PT jamais combateu com o rigor necessário a economia de livre mercado, ainda que, a exemplo dos tucanos, jamais tenha aderido por completo ao liberalismo econômico.

O fato é que o Brasil vive um ciclo de pelo menos 20 anos de uma política moderada. Talvez de centro, baseada em modestos projetos de distribuição de renda, ausência de reformas e com coalizões políticas ambíguas, sem propostas claras de país. Por um lado, foram anos de consagração da Carta Constitucional de 1988, a mais democrática de nossa história, de estabilização da economia e com ampliação de políticas sociais. Por outro, a presença insistente da orientação liberal no campo econômico, na falta de iniciativa reformista, que poderia modernizar de vez o Estado brasileiro e dar passos significativos em direção de soluções permanentes da vida democrática.

PT e PSDB guardam semelhanças. Quem sabe poderíamos chamá-los de “social-liberais”? Com o risco da imprecisão do termo. O segundo, porém, parece ser mais comprometido com a democracia política. Tirando a infeliz articulação da aprovação do projeto de reeleição no Congresso, os tucanos se comportaram com maturidade diante das relações nem sempre harmoniosas entre os poderes republicanos. O PT, fiel a seu DNA autoritário, que lhe impediu de votar com a Constituição que se aprovava em meio a redemocratização, sempre demonstrou ser capaz de romper com exigências da democracia para fortalecer a si mesmo. Não é nada saudável que o partido e seus altos dirigentes sigam desafiando o STF e seus membros, fantasiando um caráter político que o órgão jamais mostrou ter.

O pleito que se aproxima ameaça desenhar a velha polarização dos dois partidos que há anos disputam os principais postos do Estado brasileiro. Esperávamos avançar para um pluralismo mais sólido em nossa tradição política, não conseguimos. A sociedade civil brasileira parece ter encolhido em suas próprias deficiências históricas, que mesmo se apresentando no formato “ocidental”, ainda não nos ofereceu a dinâmica que poderia mostrar ao país alternativas que falassem pela diversidade de interesses da nação, que se fazem sentir nos conflitos cotidianos, motivados por questões de classe, gênero ou cultura.

Se as opções seguem, mesmo depois das manifestações de Junho, sendo variações de uma “pequena política” historicamente esgotada, sinal de que não nos basta sair às ruas para agredir a política, falta nos integrarmos de corpo e alma a nossa vida institucional, composta das falhas denunciadas nas Jornadas de 2013, mas com o potencial de se fazer avançar a vida cívica que todos os adeptos da democracia anseiam para o Brasil.

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