O PT se prepara para mais uma eleição. Não, não há grandes novidades. A estratégia eleitoral do partido, montada em grandes agências publicitárias, incentivará o discurso da polarização, e trabalhará na apologia que apresenta o risco de retrocesso brasileiro aos anos “obscuros” do PSDB no poder. Tese delirante, haja vista que o Brasil não viveu anos de trevas sob os governos tucanos, pelo contrário, foi sob a direção de FHC que o país consolidou sua institucionalidade democrática e venceu a hiperinflação. Se Lula e Dilma surfaram em mares tranquilos, agradeça as reformas econômicas que os antecederam.
Os petistas também voltarão à velha denúncia de que os
adversários seriam todos neoliberais, enquanto eles, desenvolvimentistas. Quem
se lembra da “Carta ao Povo brasileiro”, assinado por Lula em Julho de 2002, e
que antecedeu a nomeação de Henrique Meirelles, representante das elites
financeiras, para o Banco Central, sabe muito bem que o PT jamais combateu com
o rigor necessário a economia de livre mercado, ainda que, a exemplo dos
tucanos, jamais tenha aderido por completo ao liberalismo econômico.
O fato é que o Brasil vive um ciclo de pelo menos 20 anos de
uma política moderada. Talvez de centro, baseada em modestos projetos de
distribuição de renda, ausência de reformas e com coalizões políticas ambíguas,
sem propostas claras de país. Por um lado, foram anos de consagração da Carta
Constitucional de 1988, a mais democrática de nossa história, de estabilização
da economia e com ampliação de políticas sociais. Por outro, a presença
insistente da orientação liberal no campo econômico, na falta de iniciativa
reformista, que poderia modernizar de vez o Estado brasileiro e dar passos
significativos em direção de soluções permanentes da vida democrática.
PT e PSDB guardam semelhanças. Quem sabe poderíamos chamá-los
de “social-liberais”? Com o risco da imprecisão do termo. O segundo, porém,
parece ser mais comprometido com a democracia política. Tirando a infeliz
articulação da aprovação do projeto de reeleição no Congresso, os tucanos se
comportaram com maturidade diante das relações nem sempre harmoniosas entre os
poderes republicanos. O PT, fiel a seu DNA autoritário, que lhe impediu de
votar com a Constituição que se aprovava em meio a redemocratização, sempre demonstrou
ser capaz de romper com exigências da democracia para fortalecer a si mesmo.
Não é nada saudável que o partido e seus altos dirigentes sigam desafiando o
STF e seus membros, fantasiando um caráter político que o órgão jamais mostrou
ter.
O pleito que se aproxima ameaça desenhar a velha polarização
dos dois partidos que há anos disputam os principais postos do Estado
brasileiro. Esperávamos avançar para um pluralismo mais sólido em nossa tradição
política, não conseguimos. A sociedade civil brasileira parece ter encolhido em
suas próprias deficiências históricas, que mesmo se apresentando no formato
“ocidental”, ainda não nos ofereceu a dinâmica que poderia mostrar ao país
alternativas que falassem pela diversidade de interesses da nação, que se fazem
sentir nos conflitos cotidianos, motivados por questões de classe, gênero ou
cultura.
Se as opções seguem, mesmo depois das manifestações de Junho,
sendo variações de uma “pequena política” historicamente esgotada, sinal de que
não nos basta sair às ruas para agredir a política, falta nos integrarmos de
corpo e alma a nossa vida institucional, composta das falhas denunciadas nas
Jornadas de 2013, mas com o potencial de se fazer avançar a vida cívica que
todos os adeptos da democracia anseiam para o Brasil.
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