O ano de 1988 pariu a mais
democrática Constituição de nossa história, a “Constituição Cidadã”, nas palavras
de seu mais dedicado pai. Seu formato republicano dá sustentação para
ampliarmos a democracia política, econômica e social do Brasil. É bem verdade
que ainda estamos longe de podermos estufar o peito de orgulho de uma nação
justa, mas é inegável os avanços significativos do país nos últimos 20 anos.
Com FHC, estabilizou-se a
economia, deu-se a largada para programas sociais de distribuição de renda e
reestruturação do sistema educacional. Com Lula as políticas sociais se
ampliaram, os movimentos sociais tiveram mais espaço na política, e o Brasil
que temos hoje tem todas as condições de dar passos mais ousados na tão sonhada
vitória sobre as desigualdades que assolam historicamente nossa pátria.
Mas para isso, faz-se urgente a
retomada de reformas estruturais democráticas, que nem o PSDB e nem o PT
fizeram em seus mais de 20 anos de hegemonia no poder central. Ambos se
renderam à “pequena política” que não põe em cheque a discussão do modelo de
Estado que queremos. Tucanos e petistas também deram sinais de retrocessos
autoritários. FHC aprovou sua própria reeleição, numa votação parlamentar ainda
hoje envolvida em desconfianças. Colocou o exército para enfrentar uma greve de petroleiros. Lula e o PT seguem desafiando altas instâncias do Poder
Republicano, sobretudo ao STF, que foi recebido com desobediência na Câmara dos
deputados, quando esta era dirigida pelo petista Marcos Maia. O PT ainda
insiste numa tese delirante de que o julgamento da Ação Penal 470 foi um
julgamento político, o que colabora com atos insanos de protestos contra s
Suprema Corte.
Precisamos de uma esquerda
democrática forte, com vocação de governo e capacidade de articulação para
conquistar consensos civilizatórios. Nos falta esta esquerda, em gestação em
pequenos partidos e movimentos da sociedade civil, mas ainda sem um rosto para
se apresentar ao Brasil. Tal esquerda deveria se diferenciar daquela que hoje
dirige o país, e também do formato extremo que assumiu em legendas nanicas da
oposição. A esquerda democrática que faz tanta falta, precisa tomar a
Constituição como seu programa, o Estado de direito como palco exclusivo para
transformações substanciais na sociedade. Não se pode deixar seduzir por
cantos autoritários, que apresentam atalhos para realizações de seus projetos, buscado
contornar a normalidade democrática.
A esquerda democrática que
necessitamos deve se despir de todo messianismo, e se aceitar como uma peça na
engrenagem complexa de nosso sistema político, buscando o diálogo constante com
todas as forças interessadas em fazer ir adiante o aprofundamento democrático,
mesmo as mais moderadas e conservadoras.
Não é tarefa fácil, haja vista
que nossa modernização conservadora, realizada por cima e de forma “prussiana”,
influenciou uma cultura “estatolátrica”, autoritária e até golpista. Porém, em
tempos onde celebrações golpistas são rechaçadas pela sociedade, é possível que
estejamos engrossando uma vivência democrática, que seria o primeiro passo para
fundar as bases de uma governança direcionada a liberdade plena, entendida
dentro dos limites do Estado de direito.
Pode demorar, mas é provável
que o tempo nos traga esta esquerda, por enquanto, ela é apenas uma referência.
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