quinta-feira, 3 de abril de 2014

A falta que nos faz uma esquerda democrática

Por Adelson Vidal Alves

O ano de 1988 pariu a mais democrática Constituição de nossa história, a “Constituição Cidadã”, nas palavras de seu mais dedicado pai. Seu formato republicano dá sustentação para ampliarmos a democracia política, econômica e social do Brasil. É bem verdade que ainda estamos longe de podermos estufar o peito de orgulho de uma nação justa, mas é inegável os avanços significativos do país nos últimos 20 anos.

Com FHC, estabilizou-se a economia, deu-se a largada para programas sociais de distribuição de renda e reestruturação do sistema educacional. Com Lula as políticas sociais se ampliaram, os movimentos sociais tiveram mais espaço na política, e o Brasil que temos hoje tem todas as condições de dar passos mais ousados na tão sonhada vitória sobre as desigualdades que assolam historicamente nossa pátria.

Mas para isso, faz-se urgente a retomada de reformas estruturais democráticas, que nem o PSDB e nem o PT fizeram em seus mais de 20 anos de hegemonia no poder central. Ambos se renderam à “pequena política” que não põe em cheque a discussão do modelo de Estado que queremos. Tucanos e petistas também deram sinais de retrocessos autoritários. FHC aprovou sua própria reeleição, numa votação parlamentar ainda hoje envolvida em desconfianças. Colocou o exército para enfrentar uma greve de petroleiros. Lula e o PT seguem desafiando altas instâncias do Poder Republicano, sobretudo ao STF, que foi recebido com desobediência na Câmara dos deputados, quando esta era dirigida pelo petista Marcos Maia. O PT ainda insiste numa tese delirante de que o julgamento da Ação Penal 470 foi um julgamento político, o que colabora com atos insanos de protestos contra s Suprema Corte.

Precisamos de uma esquerda democrática forte, com vocação de governo e capacidade de articulação para conquistar consensos civilizatórios. Nos falta esta esquerda, em gestação em pequenos partidos e movimentos da sociedade civil, mas ainda sem um rosto para se apresentar ao Brasil. Tal esquerda deveria se diferenciar daquela que hoje dirige o país, e também do formato extremo que assumiu em legendas nanicas da oposição. A esquerda democrática que faz tanta falta, precisa tomar a Constituição como seu programa, o Estado de direito como palco exclusivo para transformações substanciais na sociedade. Não se pode deixar seduzir por cantos autoritários, que apresentam atalhos para realizações de seus projetos, buscado contornar a normalidade democrática.

A esquerda democrática que necessitamos deve se despir de todo messianismo, e se aceitar como uma peça na engrenagem complexa de nosso sistema político, buscando o diálogo constante com todas as forças interessadas em fazer ir adiante o aprofundamento democrático, mesmo as mais moderadas e conservadoras.

Não é tarefa fácil, haja vista que nossa modernização conservadora, realizada por cima e de forma “prussiana”, influenciou uma cultura “estatolátrica”, autoritária e até golpista. Porém, em tempos onde celebrações golpistas são rechaçadas pela sociedade, é possível que estejamos engrossando uma vivência democrática, que seria o primeiro passo para fundar as bases de uma governança direcionada a liberdade plena, entendida dentro dos limites do Estado de direito.

Pode demorar, mas é provável que o tempo nos traga esta esquerda, por enquanto, ela é apenas uma referência.

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