O Brasil contemporâneo definitivamente não é racista. Nos dias de hoje qualquer expressão pública de preconceito racial é prontamente condenado pelo povo brasileiro, motivo pelo qual nossa estrutura jurídica se desenvolveu fortemente para uma prática de condenação dura aos que recorrem a tal ato. Não significa, contudo, que o racismo não seja recorrente na vida social do país, pelo contrário, não faltam nos noticiários ações de agressão e discriminação movidas por preconceito de raça.
Acontece que o chamado “racismo a brasileira” tem suas particularidades, que deveriam nortear as políticas de combate ao preconceito de cor, mas que na maioria das vezes são ignoradas. Diferentemente dos EUA, nossa abolição da escravatura não nos deixou de herança leis raciais, e nem separou geograficamente negros e não negros. Ainda que tenhamos dívidas sociais com os escravos, libertos sem nenhuma concessão, nossa nação não precisou lutar contra leis discriminatórias, e nem nos desenvolvemos por dentro de uma república racista. O Estado que construímos a partir do republicanismo oligárquico era extremamente excludente, mas jamais racialista.
Estranha-nos, todavia, que em plena modernidade o Estado brasileiro faça o caminho de volta ao racismo. Desde os primeiros anos do século XXI nosso país tem produzido abundantemente leis que consideram a cor da pele como referência de benefício. Até o STF cedeu às pressões e deu constitucionalidade a aplicação de políticas de separação racial nas universidades e serviços públicos, mesmo quando nossa Carta Magna rejeita claramente favorecimento nos serviços públicos a partir do paradigma da raça.
Seja como for, o fato é que o poder público já consolidou uma governança que introduz em nossas universidades a divisão dos alunos por raça. As Instituições Federais de ensino apresentam atualmente duas listas de aprovados. Negros e não negros tem hoje lugares diferentes para disputar uma vaga no vestibular, mesmo quando as verdadeiras barreiras de acesso, ou seja, as econômicas e sociais, os coloquem no mesmo ponto de partida. Aliás, uma das universidades pioneiras em cotas raciais, a UNB, durante anos seguiu como critério único de admissão por cotas a cor da pele, podendo assim incluir negros ricos e excluir brancos pobres de suas cadeiras.
No embalo do modismo das lutas das minorias, nossos governos fazem um pacto com setores oportunistas do movimento negro, que claramente se beneficiam com as leis raciais, ascendendo ao poder e ganhando espaço político em meio à falsa polarização racial.
Não se preocupam estes em estar repartindo racialmente nossa pátria. Não medem os prejuízos ao estar incentivando rivalidades raciais e muito menos se atentam quanto ao fato do racismo se fortalecer quando se criam privilégios raciais.
Na verdade deveríamos urgentemente eliminar qualquer simbolismo que ainda separe humanos por grupos biológicos. Em outros tempos terminou-se em Apartheid e em Nazismo, nos dias atuais esperamos que a diversidade e o respeito vençam a segregação. Acabar com as políticas raciais já seria um bom começo.
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