quinta-feira, 18 de abril de 2013

Fundamentalismo religioso



Por Adelson Vidal Alves

Em nome de Deus foram cometidas as maiores atrocidades: a Inquisição, as cruzadas, o estelionato das igrejas neopentecostais, os conflitos na Irlanda, o terrorismo de muçulmanos, o charlatanismo de operações espirituais. Por Deus, também, foram testemunhadas as mais vivas provas de amor e generosidade: Francisco de Assis, que deixou o luxo e doou sua vida aos necessitados, Dom Oscar Romero, assassinado pelos poderosos por dedicar sua existência na luta por justiça, Chico Xavier, o médium que fez de seu dom o consolo aos aflitos e de sua vida solidariedade aos mais pobres, o Pastor Martin Luther King, atuante defensor dos direitos civis nos EUA, Dalai Lama e Gandhi, pacifistas e ativistas pela libertação dos povos.

Exemplos não faltam para estender ambas as listas. O eixo que divide os dois grupos responde pelo nome de “fundamentalismo”. Este faz de uma fé ou doutrina religiosa verdade absoluta, e assim, a religiosidade do outro como sendo falsa, e consequentemente um mal a ser combatido, às vezes em forma de guerras e eliminação física. Pastores e padres cristãos condenam a homossexualidade como pecado e o homossexual como pecador. Sua base? As escrituras sagradas, lidas ao pé da letra, completamente descontextualizadas do seu tempo, e rigorosamente dispensadas de hermenêuticas mais sofisticadas e sensíveis ao mundo moderno.

Lembro-me bem do documento Dominus Iesus (Senhor Jesus em latim) do então cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para Doutrina da fé do Vaticano, que deixava bem claro a superioridade da Igreja Católica como religião, no qual os que a ela rejeitam correm o sério risco de perderem a salvação. Com bem menos competência intelectual, a bizarra pastora e cantora evangélica Ana Paula Valadão joga nas costas da “idolatria” à Nossa Senhora a culpa pelas mazelas sociais do Brasil. Em suas pregações espetaculosas pede a Deus a conversão da “Babilônia do mal”. Ambos os casos emperram a difusão do ecumenismo e do diálogo inter-religioso. É bom que fique claro que ecumenismo não tem nada a ver com todos acreditarem em tudo, mas sim em concentrar os esforços no que une a fé cristã. 

Quantos padres ou pastores vemos falando da unidade doutrinal que coloca Cristo como o messias, tanto no catolicismo como no protestantismo? Poucos, a maioria prefere se estapear quanto aos pontos de fé que os separa teologicamente.

As religiões são tão somente leituras diversas do divino. Como o ser humano é plural, é normal que formas de ver Deus somem as tantas versões que a religiosidade institucional apresenta. São mais de 56ooo religiões no mundo todo.

Como Deus não nos veio pessoalmente carimbar sua religião, ninguém está autorizado a se apresentar como portador da verdade. Seria, assim, razoável que possamos viver em respeito uns aos outros, em tolerância com a crença diferente. Afinal, Cristo, Maomé, Gandhi ou Kardec foram todos adeptos da idéia de que a salvação está na forma como vives, e não no templo que freqüentas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário