Por Adelson Vidal Alves
O mundo contemporâneo apresenta uma realidade bem mais complexa do que aquela que basicamente caracterizava os séculos passados. Já não é possível apostar em uma simplificada divisão de classes econômicas e muito menos fazer delas principal paradigma de identidades. Pelo contrário, os conflitos que mais pulsam em nossas atuais sociedades respondem por localizações de gênero, orientação sexual, raça, religião, nação, etc.
Tal novidade traz desafios para
a concepção de democracia e responsabiliza o Estado na regulação de uma vida
civilizada que preserve tamanha diversidade. Como historicamente as
divergências se transformam em conflitos abertos, haja vista que as identidades
se orientam em meio à opressão e discriminação, a sociedade que se cria no
mundo atual depende diretamente da capacidade do poder governamental de saber
impedir que diferenças se convertam em exploração. Para tanto, precisam
proteger as minorias contra a violência simbólica e física e incluí-las com
suas particularidades na vida cidadã. É do Estado também a tarefa de não deixar
que a criação de direitos segregue. Sua tarefa central não é facilitar a vida
de grupos isolados, mas, sim, universalizar os direitos e manter uma vida
social de “unidade na diversidade”. As manchetes de jornais não dão destaque
hoje à luta de classes e nem às greves, mas às polêmicas que envolvem cotas
raciais, casamento gay, religião e política etc. Prova viva do destaque destes
novos embates.
A eleição de Marcos Feliciano à
presidência da Comissão de Direitos Humanos produziu debates calorosos na
sociedade. O pastor, Deputado do PSC, deu declarações pessoais sobre negros e
homossexuais e foi prontamente criticado pelas minorias organizadas. É aí que
entramos num ponto importante. Também é nova para nós a transição de
resistência das minorias para um período de ofensiva, caracterizado pela
introdução de leis e políticas públicas de avanços em suas reivindicações. A
sensibilização social para com suas causas cria ambiente propício para que o
poder estatal aja com recursos específicos a seu favor, criando, naturalmente,
polarização com outros grupos sociais, que discordam de novos padrões
comportamentais encorajados por tais minorias.
Se por um lado é correto e
necessário proteger e avançar em direitos cidadãos para as minorias, é condenável
e perigoso que se estabeleçam privilégios às mesmas, na hierarquia das
políticas públicas. Na luta de classes, o motor central da contradição é a
questão econômica e amenizam-se na medida em que ganhos concretos se estabelecem
no campo financeiro, na maioria das vezes sem deixar cicatrizes ou discórdia. O
mesmo não se dá nos enfrentamentos sobre religião, nas divergências quanto
situação homossexual e, mesmo, sobre a necessidade de repartir políticas de
Estado por paradigmas de raça. Neste terreno, o ódio é incentivado e as
divisões se tornam violentas. Sendo assim, não se deve buscar a vitória de uma
visão de mundo, mas o estabelecimento de consensos de vivência em torno da
tolerância.
Com Marcos Feliciano a
discriminação é visível, mas o movimento LGBT também viola regras democráticas
quando interfere na vida íntima e de fé do Deputado. Ocupar igrejas, dar beijos
lésbicos em ambientes religiosos, impedir sessões da comissão presidida por
ele, são igualmente ações autoritárias que não condizem com a real democracia.
O lugar das minorias nas
sociedades modernas será construído com suas lutas e organização, mas não poderá
jamais se sobrepor à ética universal, que faça da civilização humana regra de
vida central. A “vitimização”, como projeto de poder das minorias, inverte sua
situação histórica, colocando-as em papéis de controle, que se movem por
práticas autoritárias e ferem a utopia quanto a uma democracia plural e
plenamente realizada.
Créditos
Revisão textual: Regina Vilarinhos
Créditos
Revisão textual: Regina Vilarinhos
Nenhum comentário:
Postar um comentário