segunda-feira, 1 de abril de 2013

10 anos de governos petistas



Por Adelson Vidal Alves


A posse de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da república em 2003 parecia inaugurar um novo ciclo político no país, com a introdução de setores das classes subalternas à esfera do poder estatal. As perspectivas mais lúcidas davam conta da possibilidade de que o bloco político liderado pelo PT poderia gradualmente adicionar elementos transformadores na estrutura social brasileira, com o viés protagonista de reformas fortes na espinha dorsal de nossa sociedade.

Entretanto, a hegemonia petista estava envolta ao tecido envelhecido das tradicionais classes dominantes, com predomínio do capital financeiro. As primeiras iniciativas do governo eleito foram o acerto de contas com o poder econômico, que nomeou o Ministério da Fazenda e o BC para aplicarem religiosamente o receituário neoliberal, garantindo os ganhos especulativos, o pagamento dos juros da dívida e a privatização da previdência pública através de uma contrarreforma.

O programa vitorioso da coligação outrora progressista sofreu modificações, e as dívidas históricas da nação foram adiadas, como a reforma agrária por exemplo. O discurso de combater a miséria através do belíssimo “Fome Zero” aos poucos cedeu lugar a uma prática onde os beneficiários do projeto se rebaixavam a receptores de uma “bolsificação” humilhante, que impediam a emancipação das famílias, aparelhavam o programa com a burocracia das prefeituras e ignoravam o controle da sociedade civil.

Lula e o PT se converteram de vez a pobreza das negociatas parlamentares, que jogaram em suas costas o maior esquema de corrupção estatal da Nova República, no ano de 2005, que quase ruiu por completo a base militante do Partido dos Trabalhadores. Na tentativa de fraudar a história, o PT eliminou o ano de 2005 em suas comemorações de 10 anos de administração federal.

Passados todos estes anos, pelo menos o quadro político mudou e se estabilizou. Qualquer tentativa de defender a tese de um governo em disputa está desautorizada pelos fatos. Hoje o campo político liderado pelo PT é tão somente um aglomerado político com vistas à perpetuação de poder, desprovido por completo de projetos de nação e muito bem acomodados ao jogo espúrio que caracteriza a disputa política.

O agravante de tal hegemonia é a preocupação quanto ao fato de que o PT e seus satélites há muito se mostraram desapreço pela estabilidade das instituições democráticas. O Partido dos Trabalhadores se fundiu ao Estado, e ao invés de vigiar degenerações que por acaso a mosca azul pudesse oferecer aos seus membros do Palácio, acabou por se resumir a um simples disciplinador dos filiados mais afoitos, hoje convidados a denegrir a imprensa, o STF e outros tantos espaços modernos do jogo democrático. Vale inventar um mundo mágico onde o governo é o bem supremo e seus críticos conspiradores do mal.

As eleições de 2014 já entraram na pauta do poder, que encomenda sucessivas pesquisas para testemunhar sua superioridade eleitoral. Jogo mais que manjado dos entronados que temem as novidades que ora brotam de suas oposições. Pois é este a grande questão do próximo pleito. Desta vez os atores sociais e políticos parecem estar mais dinâmicos, o que oferece risco ao marketing maniqueísta tão apreciado pelos governistas. Ao contrário, surgem opções do campo democrático, amparados em setores emergentes e robustos de nossa sociedade civil, que ao invés de se conformar, parecem colocar as armaduras para enfrentar a infeliz estratégia da pequena política, pelo qual o PT é o maior interessado.


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