Por Adelson Vidal Alves
A posse de Luiz Inácio Lula da
Silva à presidência da república em 2003 parecia inaugurar um novo ciclo
político no país, com a introdução de setores das classes subalternas à esfera
do poder estatal. As perspectivas mais lúcidas davam conta da possibilidade de
que o bloco político liderado pelo PT poderia gradualmente adicionar elementos
transformadores na estrutura social brasileira, com o viés protagonista de
reformas fortes na espinha dorsal de nossa sociedade.
Entretanto, a hegemonia petista
estava envolta ao tecido envelhecido das tradicionais classes dominantes, com
predomínio do capital financeiro. As primeiras iniciativas do governo eleito foram
o acerto de contas com o poder econômico, que nomeou o Ministério da Fazenda e
o BC para aplicarem religiosamente o receituário neoliberal, garantindo os
ganhos especulativos, o pagamento dos juros da dívida e a privatização da
previdência pública através de uma contrarreforma.
O programa vitorioso da coligação
outrora progressista sofreu modificações, e as dívidas históricas da nação
foram adiadas, como a reforma agrária por exemplo. O discurso de combater a
miséria através do belíssimo “Fome Zero” aos poucos cedeu lugar a uma prática
onde os beneficiários do projeto se rebaixavam a receptores de uma “bolsificação”
humilhante, que impediam a emancipação das famílias, aparelhavam o programa com
a burocracia das prefeituras e ignoravam o controle da sociedade civil.
Lula e o PT se converteram de
vez a pobreza das negociatas parlamentares, que jogaram em suas costas o maior
esquema de corrupção estatal da Nova República, no ano de 2005, que quase ruiu
por completo a base militante do Partido dos Trabalhadores. Na tentativa de
fraudar a história, o PT eliminou o ano de 2005 em suas comemorações de 10 anos
de administração federal.
Passados todos estes anos, pelo
menos o quadro político mudou e se estabilizou. Qualquer tentativa de defender
a tese de um governo em disputa está desautorizada pelos fatos. Hoje o campo
político liderado pelo PT é tão somente um aglomerado político com vistas à
perpetuação de poder, desprovido por completo de projetos de nação e muito bem
acomodados ao jogo espúrio que caracteriza a disputa política.
O agravante de tal hegemonia é
a preocupação quanto ao fato de que o PT e seus satélites há muito se mostraram
desapreço pela estabilidade das instituições democráticas. O Partido dos
Trabalhadores se fundiu ao Estado, e ao invés de vigiar degenerações que por
acaso a mosca azul pudesse oferecer aos seus membros do Palácio, acabou por se
resumir a um simples disciplinador dos filiados mais afoitos, hoje convidados a
denegrir a imprensa, o STF e outros tantos espaços modernos do jogo
democrático. Vale inventar um mundo mágico onde o governo é o bem supremo e
seus críticos conspiradores do mal.
As eleições de 2014 já entraram
na pauta do poder, que encomenda sucessivas pesquisas para testemunhar sua
superioridade eleitoral. Jogo mais que manjado dos entronados que temem as
novidades que ora brotam de suas oposições. Pois é este a grande questão do
próximo pleito. Desta vez os atores sociais e políticos parecem estar mais
dinâmicos, o que oferece risco ao marketing maniqueísta tão apreciado pelos
governistas. Ao contrário, surgem opções do campo democrático, amparados em
setores emergentes e robustos de nossa sociedade civil, que ao invés de se
conformar, parecem colocar as armaduras para enfrentar a infeliz estratégia da
pequena política, pelo qual o PT é o maior interessado.
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