segunda-feira, 16 de abril de 2012

A popularidade de Dilma

Por Adelson Vidal Alves


A popularidade da presidenta Dilma Rousseff aumentou cinco pontos percentuais, passando de 72%, em dezembro de 2011, para 77%, em março de 2012. Os dados fazem parte da pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Ibope.
Os números surpreendem, principalmente porque o Governo Dilma não conseguiu recolocar no centro da agenda governamental as grandes questões nacionais. Hoje mesmo, o MST está ocupando o Ministério de Desenvolvimento Agrário, cobrando do governo a queda no investimento para desapropriação de terras. O primeiro ano do governo Dilma foi o pior para a criação de assentamentos dos últimos 16 anos. Agora em abril, o Ministério do Planejamento cortou mais de 60% do orçamento do Incra, o que deve inviabilizar os programas de assistência técnica e educação. Não podemos admitir que a burocracia do governo corte as verbas relacionadas à melhoria da produtividade e à educação, compromissos sempre tão reforçados nos discursos da presidenta Dilma”, disse Alexandre Conceição, da Direção Nacional do MST.
Não é apenas a Reforma Agrária que o governo abandonou. As reformas política, tributária e educacional também permanecem engavetadas. Além do mais, os paradigmas da política econômica permitem cortar gastos nas áreas sociais e congelar os salários dos servidores, sem, contudo, diminuir o sangramento orçamentário do pagamento dos juros da dívida.
Na área ambiental, Dilma segue ignorando o apelo de ambientalistas, quanto aos males da construção da Usina Belo Monte, e é confusa no trato do Código Florestal. Na política cultural, segue os desmandos da Ministra de Cultura Ana de Hollanda, uma representante oficial dos interesses mercadológicos da cultura privatista.
            Diante de uma administração tão deficiente frente às grandes demandas do nosso país, como explicar tamanha popularidade da presidenta?
            Mesmo sem o carisma e a identidade de classe de seu antecessor, Dilma parece ter conquistado a população com sua forte personalidade, além do suposto rigor em tratar os casos de corrupção de seu governo. Os vários Ministros envolvidos em desvios éticos foram rapidamente afastados pela presidenta, transmitindo a mensagem de que o governo pune os desvios de conduta de seus subordinados. A presidenta conseguiu consolidar uma imagem de que tem tudo sob seu controle e que pode, rigorosamente, colocar as coisas em seu devido lugar.
            Se Lula ganhou o povo com seu carisma e certa identificação com o passado pobre, Dilma é a imagem da intransigência frente a corrupção administrativa. A mulher que não se prostra as pressões que lhe são impostas e que conduz com firmeza seu governo, punindo severamente aqueles que fogem à boa moral.
            Temos a prova de que nosso povo ainda se move pela observação personalista da política. Não conseguimos uma transição que forme uma consciência crítica coletiva, que possa nos levar a um debate mais amplo, que leve em consideração a disputa por espaço entre os vários grupos sociais, seus interesses, forças e capacidades de intervenção nos rumos do Estado.
            Ou seja, parece que ignoramos o olhar de totalidade, o olhar sob as demandas estruturais, que há séculos sustentam os disparates de nossa realidade social. Conformamos-nos a sermos meros fiscais da imagem de nossos governantes ou simplesmente nos tornamos vítimas passivas do mercado eleitoral, que nos vende o candidato, escondendo o verdadeiro ponto a ser tocado: a política em sua versão totalizada.


Revisão textual: Regina Vilarinhos


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