segunda-feira, 9 de abril de 2012

O Jesus histórico

Por Adelson Vidal Alves



Ainda hoje, milhões de pessoas levam suas vidas influenciadas por um homem que viveu há mais de 2000 anos. Jesus “O Cristo”, para aqueles que acreditam em sua divindade, dá seu nome a maior religião do mundo, ainda que o próprio jamais tenha pensado em romper com sua própria fé: O Judaísmo.
O personagem, que nasceu de uma virgem, curou doentes, andou sobre as águas e ressuscitou três dias após sua morte, já há algum tempo tem sido objeto de interesse científico. O conhecimento do Jesus histórico, ou seja, aquele que a história, a filologia, a antropologia e a arqueologia estudam, começa a ganhar nos últimos anos avanços significativos.
            A principal dificuldade para a investigação científica sobre Jesus reside nas fontes. Os evangelhos são considerados muito mais documentos teológicos do que históricos. O Jesus apresentado pelos evangelistas está contaminado pela experiência dos autores, que se esforçam muito mais em dar sobrevida e unidade a sua fé, do que narrar rigorosamente a vida de seu mestre.
            Fora destes documentos, é citado em pouquíssimos escritos. Flávio Josefo, Plínio, o Jovem e Suetônio estão entre os poucos que, fora da bíblia, mencionaram a existência de um homem chamado Jesus, ainda sim de forma muito breve. A explicação para tão pouco interesse pode ser pelo fato de que fora o pequeno círculo de seus seguidores, Jesus era uma figura desconhecida ou, no máximo, alguém que se confundia aos tantos outros candidatos à Messias daquele tempo.
            Tal explicação pode ser comprovada até mesmo por uma passagem da bíblia. Nela, lemos o episódio em que Jesus entra em Jerusalém no período da Páscoa, chegando a pegar no chicote para expulsar e repreender mercadores que faziam comércio em nome de Deus. Ora, sabemos que os romanos armavam forte segurança no período da Páscoa, temendo revoltas. Se Jesus estivesse acompanhado de multidões e fosse a figura famosa que nos dão entender os evangelhos, acham mesmo que os romanos permitiriam a sua entrada e passear normalmente pela cidade?
            Contudo, é fato que o outrora desconhecido Jesus, hoje é peça fundamental na consolidação da cultura ocidental, sendo suas palavras objeto das mais diversas interpretações. Sendo assim, perguntamo-nos: pode a ciência nos ajudar a entender qual foi a verdadeira mensagem de Jesus?  Quem foi ele? O que pensava? Porque morreu?
            John Dominic Crossan, um dos maiores estudiosos do Jesus histórico, diz que no que depender dos evangelhos, menos de 20% do que se atribui ao que ele disse é confiável. Para Crossan, estudos sobre o ambiente em que Jesus vivia e também dos seus discípulos logo após sua morte, trariam evidências que os autores precisavam incluir em seus relatos frases que dessem sustentação para a manutenção da fé do grupo, mas que provavelmente nunca foram proferidas por Jesus.
            O que sabemos com certeza é que Jesus foi um camponês pobre (por isso as parábolas cheias de um ambiente agrícola), que nasceu em Nazaré por volta do ano 6 AEC*, pregou contra as injustiças do poder romano, criticou as interpretações literalistas dos textos sagrados e por isso foi condenado à morte pelos dois poderes: o poder sacro e o poder político. Fora disso, apenas a fé tem a palavra.


 *Antes da Era Cristã

Créditos:

Revisão textual: Regina Vilarinhos

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