domingo, 26 de abril de 2015

Voto Distrital: avanço ou retrocesso?

Por Adelson Vidal Alves



O senado aprovou o projeto que cria o voto distrital nos municípios, apresentado pelo senador José Serra (PSDB). Agora ele vai a votação na Câmara dos deputados, se aprovado, estará em vigor já em 2016, alterando as atuais regras eleitorais.

Basicamente, o voto distrital consiste na divisão do município em distritos, conforme o número de cadeiras disponíveis para vereador. O projeto de Serra, contudo, só atingirá municípios com mais de 200 mil eleitores. Cada distrito elegeria um parlamentar.

Em Volta Redonda, por exemplo, o número de distritos seria 21, cada um deles realizando uma eleição conforme suas particularidades. O voto distrital, contudo, levanta discussões, com pontos positivos e negativos.

De positivo está o fato de que os eleitores estariam mais próximos de seus candidatos, facilitando o debate de ideias entre eles. As campanhas eleitorais, ainda, sairiam mais baratas, já que o candidato teria que atingir um número menor de pessoas, apenas os eleitores do seu distrito. Com campanhas mais baratas, o poder econômico pesaria menos nos resultados.

De negativo temos perda da dimensão da totalidade municipal. O candidato, para ser eleito, concentraria seu discurso nas particularidades do seu distrito, abandonando as questões que envolvem toda a cidade. Para ser reeleito, não precisaria agradar toda a cidade, mas apenas o seu distrito. Na prática, dependeria de realizações que contemplariam seus eleitores, como a reforma no posto de saúde, a construção de uma praça etc. O vereador, para conseguir tais realizações, teria que contar com o apoio do prefeito, o que favoreceria o aparecimento de uma nova “Política dos governadores”, política que vigorou na República Velha, no governo de Campos Sales. Na pior das hipóteses, o Executivo teria força para esvaziar seus opositores em seus distritos.

Outro ponto negativo é a perda de outras identidades eleitorais, como as de classe. Um candidato que pretenda falar para uma categoria profissional, por exemplo, perderia força conforme a realidade de seu distrito, ou seja, um dirigente sindical de profissionais de educação sairia perdendo se em seu distrito houvesse poucos profissionais da área, podendo se fortalecer caso a realidade seja outra. Seja como for, este tipo de identificação eleitoral passaria a depender mais de questões regionais do que da classe em sua forma total. Além do mais, os eleitores, morando numa cidade, teriam suas opções reduzidas apenas aos candidatos de seu distrito. Caso o votante considere o candidato mais preparado para o cargo alguém que esteja fora de seu distrito,  acabaria por perder esta opção


O debate não é novo, mas ganha força neste atual momento de exigências por mudanças. A sociedade precisa colocar as vantagens na balança, e o Congresso debater melhor, incluindo a possibilidade de ajustes que façam do voto distrital algo benéfico para a democracia e o equilíbrio representativo das câmaras municipais. 

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